Com presença de Lula, velório de José ‘Pepe’ Mujica termina no Uruguai

MONTEVIDÉU – Chegou ao fim na tarde desta quinta-feira, 15, o velório público do ex-presidente José “Pepe” Mujica no Uruguai. Depois de mais de 24 horas nas quais os uruguaios e estrangeiros puderam se despedir, as portas do Palácio Legislativo foram fechadas às 16h40. O corpo será cremado na sexta, 16, e as cinzas serão espalhadas na chácara onde Mujica viveu com sua mulher, Lucía Topolansky.

O velório começou na quarta com um cortejo fúnebre saindo às 10h da sede da Presidência até o Palácio Legislativo, onde ficou por mais de 24 horas. O horário de encerramento era incerto devido a um pedido do próprio Mujica: ele queria que todos que quisessem se despedir tivessem o tempo adequado para fazê-lo. Isso incluiu os presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Gabriel Boric, do Chile.

Os presidentes Gabriel Boric e Luiz Inácio Lula da Silva acompanharam o velório de José ‘Pepe’ Mujica ao lado de Lucía Topolansky e Yamandú Orsi Foto: Ricardo Stuckert/Presidencia da Republica

Ambos os presidentes estavam em Pequim participando do Fórum Ministerial China-Celac no momento da morte de Mujica, um amigo próximo dos dois. Apesar da longa viagem, eles correram para chegar antes do fim do velório.

Boric foi o primeiro a chegar. Cumprimentou seu homólogo uruguaio, Yamandú Orsi, herdeiro político de Mujica, sentou-se ao lado de Lucía Topolansky e se aproximou em silêncio do caixão. Preferiu não se manifestar.

Lula chegou antes das 14h, também cumprimentou Orsi e Topolansky antes de se aproximar do corpo. “Pepe Mujica é um ser humano superior”, disse. “Uma pessoa que poucas no mundo têm a similaridade, competência política, a capacidade de falar com, sobretudo, a juventude”.

O caixão de José ‘Pepe’ Mujica foi retirado do Palácio Legislativo acompanhado do presidente Yamandú Orsi, da vice Carolina Cosse e da mulher de Mujica e ex-vice-presidente, Lucía Topolansky Foto: Santiago Mazzarovich/AP

O presidente observou que “pessoas como Pepe Mujica não morrem”, ressaltando que suas ideias e valores seguirão vivos. Ele relembrou a morte também recente do papa Francisco. “Agora Pepe está com ele. E espero que, onde quer que estejam, continuem nos abençoando para que a humanidade seja mais generosa, mais fraterna, e a política mais digna e respeitosa.”

Ele também destacou a “generosidade” de Mujica como uma das características positivas do líder. “Passou 14 anos no cárcere e conseguiu sair para a liberdade sem nenhum ódio das pessoas que o aprisionaram e que o torturaram”, disse. Lula cancelou agendas no Espírito Santo para acompanhar o velório do uruguaio.

O ex-presidente e símbolo da esquerda latino-americana morreu na terça-feira, 13, aos 89 anos, em decorrência de um câncer. Adepto de um estilo de vida austero e fiel à sua retórica anticonsumista, Mujica morreu em sua modesta casa nos arredores de Montevidéu, local que havia escolhido, acompanhado de sua mulher e ex-vice-presidente.

Lula cumprimenta Lucía Topolansky ao chegar no velório de José ‘Pepe’ Mujica Foto: Matilde Campodonico/AP

Com o fim do velório, Mujica terá seu último desejo atendido: será cremado e enterrado em sua chácara, em Ricón del Cerro, ao lado de sua cachorrinha de três patas, Manuela, a quem chamava de “a companheira mais fiel” de seu governo, que morreu em 2018 aos 22 anos. A cremação será privada.

Perto das 17h, o caixão foi retirado de dentro do Palácio Legislativo e foi aplaudido pela multidão do lado de fora. Orsi e seu chefe de gabinete, Alejandro Sánchez retiraram a bandeira do Uruguai e de Artigas, que adornavam o caixão, a Topolansky, que as colocou embaixo do braço e se retirou sob aplausos. O caixão foi transferido a um carro e saiu do local de forma privada, sem caravanas, descreveu o El País do Uruguai.

Desde a manhã e pelo segundo dia, mais de 100 mil pessoas formaram longas filas a caminho do Salão dos Passos Perdidos do Palácio Legislativo. Alguns com flores nas mãos, outros com bandeiras nos ombros, simpatizantes de Mujica de todas as idades prestavam seu luto.

Apoiadores de José Pepe Mujica fazem fila no Palácio Legislativo para se despedir do ex-presidente Foto: Pablo Porciuncula/AFP

“Não estou partindo, estou chegando”, anunciava na esplanada do Parlamento uma bandeira gigante do Movimento de Participação Popular (MPP), partido de Mujica e setor da esquerda mais votado no país.

A poucos metros, barracas de rua vendiam choripán (sanduíche típico do rio da Prata), bebidas, bandeiras da esquerda e chaveiros com o rosto do “Pepe”.

“Foi um líder, um caudilho, com uma forma de vida que não é normal na política”, disse à AFP o aposentado Roberto Pérez, emocionado. Com sua forma de ser “nos deixou um legado aqui e a nível mundial e deixa um vazio muito grande”, acrescentou antes de entrar no Palácio.

Referência e legado: duas palavras que se repetiam várias vezes para definir Mujica, conhecido mundialmente por seu estilo de vida austero, sua linguagem direta e sua pregação anticonsumista.

Poeta e jornalista Mauricio Rosencof lê um poema em velório de José Pepe Mujica Foto: Pablo Porciuncula/AFP

Para Aurea Nascimento, uma turista brasileira que se aproximou da capela ardente com uma flor na mão, Mujica era digno de admiração. “Não era um político comum, era um filósofo, um humanista, oferecia valores que são universais e diferentes dos que estamos acostumados a ver em pessoas com poder”, afirmou.

Desde que o atual presidente Orsi, apadrinhado por Mujica, informou por meio do X sobre seu falecimento, o país iniciou o que era uma despedida anunciada.

O ex-governante estava no estágio terminal de um câncer de esôfago, diagnosticado um ano atrás. A esperança de “Pepe” e seu entorno era que conseguisse chegar aos 90 anos, em 20 de maio.

Durante seu mandato como presidente, Mujica se caracterizou por romper os esquemas dos seus predecessores. Ao seu discurso direto, estilo simples e afastado do protocolo, o esquerdista somou durante seus anos de presidente reformas e decisões que marcaram este pequeno país latino-americano.

Pessoas fazem fila para participar do velório de José Pepe Mujica Foto: Eitan Abramovich/AFP

A mais inovadora foi o impulso dado à legalização da maconha com um plano inédito que colocou o Estado para gerir a cannabis desde a produção até a comercialização. Também tomou outras decisões polêmicas, como receber presos de Guantánamo, a pedido dos Estados Unidos, e refugiados sírios.

Esse espírito contra o establishment o levou em sua juventude a ser um dos líderes da guerrilha urbana Movimento de Libertação Nacional-Tupamaros (MLN-T) e a suportar nas mãos da ditadura 13 anos de prisão em condições desumanas./AFP e Broadcast

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