“Estamos a fazer muito com muito pouco”, desabafa Lima Aupem, uma das vozes que dá corpo ao Centro Artístico Juvenil de Bissau. Numa Guiné-Bissau em constante reconstrução, onde ser jovem é, muitas vezes, sinónimo de resistência e criatividade, o centro é uma das raras estruturas que ainda aposta na arte como ferramenta de transformação social. Mas o tempo e o abandono institucional têm cobrado o seu preço.
Criado em 1976, o Centro Artístico Juvenil de Bissau carrega quase cinco décadas de história a formar jovens em situação de vulnerabilidade, vindos de diferentes regiões do país. Aqui, aprendem-se técnicas de escultura, pintura e artesanato, mas aprende-se também a sonhar — mesmo quando faltam os materiais, o apoio e a mínima dignidade para quem ensina e cria.
Em entrevista à BANTUMEN, esta sexta-feira, 9 de maio, Lima Aupem, segundo responsável pelos artesãos do centro, fez um retrato cru da realidade enfrentada pelos artistas e formadores: “Trabalhamos com o mínimo possível para formar jovens, mas a falta de investimento institucional limita o nosso alcance e o impacto do nosso trabalho.”
Numa altura em que muitos jovens enfrentam desemprego, exclusão e ausência de oportunidades, o artesanato tem sido, para alguns, uma tábua de salvação. No entanto, o cenário é desanimador. Entre os maiores desafios apontados por Aupem estão a ausência de matérias-primas, a falta de financiamento e a inexistência de espaços adequados para criar.
As oficinas funcionam em condições precárias, muitas vezes improvisadas, e os formadores acumulam funções sem receber o justo retorno pelo trabalho que fazem. Ainda assim, o centro insiste em resistir e formar.
Mais do que estética, a arte guineense que nasce neste centro é um ato político e resposta à indiferença. Cada escultura, cada pintura, é também uma denúncia: a juventude não quer só sobreviver, quer criar, inovar e viver com dignidade.
“O nosso trabalho vai além da arte. É também uma missão social”, sublinha Aupem. E essa missão tem nome, rostos, histórias. Jovens que encontram no barro, na madeira ou na tela uma forma de expressar o que o país, por vezes, não lhes permite dizer em voz alta.
Lima Aupem deixa um apelo direto ao Estado, às instituições internacionais e à sociedade civil: apoiar o setor artístico é apoiar o futuro do país. “Investir na arte é também investir na juventude, na cultura e na construção de uma Guiné-Bissau mais justa”.
Enquanto o apoio não chega, o Centro Artístico Juvenil de Bissau continua com o que tem, a manter viva uma tradição cultural, a formar artistas e a provar que a juventude guineense tem talento, garra e muito para dizer. Falta é quem a escute.
Crédito: Link de origem