O ministério do Ambiente e da Energia já deu sinal verde: Portugal vai alterar a classificação do caroço de azeitona, até agora considerado um “resíduo”, para “subproduto”. Esta mudança de estatuto vai permitir estes despojos da indústria do azeite possam ter outros fins, como o uso deste biocombustível para aquecimento.
Uma vez que o processo de extracção dos caroços é totalmente mecânico, não envolvendo a adição de compostos químicos, o bagaço da azeitona é elegível para valorização como biomassa. A reclassificação do caroço de azeitona surge “numa lógica de promoção da economia circular e de promover ainda uma maior utilização de energias renováveis, nomeadamente da biomassa”, afirmava ao Azul a ministra Maria da Graça Carvalho, em Dezembro do ano passado.
“Não o considerar como subproduto significa uma perda de competitividade para o nosso país e, principalmente, para a região do Baixo Alentejo”, acrescentou então a responsável pela tutela do ambiente.
O Alentejo é responsável por cerca de 80% da produção nacional de azeite, tendo, portanto, um grande potencial para reaproveitar os caroços, inserindo-os na cadeia de valor. O que até hoje era visto como resíduo poderá ser fonte de receita, a exemplo do que já acontece em Espanha, onde a capacidade calorífera da azeitona é aproveitada para o aquecimento.
O bagaço é o subproduto sólido resultante do processo de extracção do azeite. Trata-se de uma pasta húmida composta pela casca da azeitona, resíduos de polpa, caroços fragmentados e vestígios de azeite. Para ser transportado com facilidade e usado como biomassa, o bagaço tem de ser submetido a um processo de secagem. Só então poderá ser queimado em caldeiras em segurança, como se fossem pellets.
Recorde-se que já em 2023 os então denominados Ministérios da Economia e do Mar, Ambiente e Acção Climática, e Agricultura e Alimentação haviam criado um grupo de trabalho com o objectivo de para rever a legislação sobre subprodutos da indústria do azeite, como refere o despacho 3123/2023.
Outras utilizações do caroço da azeitona
O caroço da azeitona é um recurso que tem sido considerado para diferentes fins, desde o recheio de almofadas anatómicas até ao uso em argamassas porosas à base de cimento e bioplásticos. O Centro de Tecnologia e Inovação Português (PIEP), em Guimarães, está a valorizar este biomaterial na produção de formas para sapatos, por exemplo.
Os investigadores do PIEP envolvidos no projecto, intitulado Olive Pit, afirmam já ter conseguido incorporar 25% de caroço de azeitona no novo biopolímero. O objectivo é aumentar este valor para 30% e garantir que o novo biomaterial possa ser compostado em “apenas 60 dias”.
Um outro trabalho de investigação, publicado esta semana na revista científica Molecules, sublinhava ainda como “os caroços de azeitona são ricos em compostos bioactivos e podem ser processados em farinhas”. Os resultados do estudo “ressaltam a riqueza fenólica” das farinhas de caroço de azeitona, “corroborando o seu uso como ingredientes funcionais e reforçando os princípios de sustentabilidade e economia circular no sector agroalimentar”.
Cientistas também já exploraram o desenvolvimento de carvão activado a partir de resíduos de caroço de azeitona para remover das águas residuais produtos farmacêuticos como o anti-inflamatório diclofenac e o antibiótico ciprofloxacina.
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