Carlos Ramos destaca desafio de tornar a água acessível em Cabo Verde quando “mais de 70% é produzida por dessalinização”
Carlos Ramos, representante da Agência Reguladora Multissetorial da Economia (ARME) de Cabo Verde, interveio hoje nas Jornadas Insulares de Recursos Hídricos, integradas na Semana do Ambiente de Santa Cruz, abordando o tema da governação da água em regiões arquipelágicas. Durante a sua intervenção, destacou a complexidade da gestão dos recursos hídricos em Cabo Verde, território caraterizado pela escassez de água potável e pela forte dependência de energias intensivas para a sua produção.
O representante da ARME iniciou a sua apresentação contextualizando a realidade cabo-verdiana: “Cabo Verde é um arquipélago com dez ilhas, sendo que nove são habitadas. O clima é tropical seco, muito influenciado pelo deserto do Saara, o que resulta em recursos limitados de água potável”. Destacou ainda que, embora a disponibilidade de água exista, a sua qualidade para consumo humano é um desafio permanente.
Sobre o enquadramento regulatório, explicou que a regulação do setor da água em Cabo Verde está prevista na Constituição do país e estruturada em três modelos principais: regulação direta pelo Estado, regulação indireta por instituições públicas e regulação independente. Neste contexto, a ARME desempenha um papel considerado fundamental na supervisão técnica e económica, garantindo equilíbrio entre os interesses do Estado, das empresas e dos consumidores.
Um dos grandes desafios apontados por Carlos Ramos é a elevada dependência da dessalinização para o abastecimento de água potável: “Mais de 70% da água é produzida por dessalinização, havendo ilhas que dependem 100% deste processo”. Essa realidade impacta diretamente os custos, uma vez que a produção de água depende fortemente da eletricidade gerada a partir de combustíveis fósseis: “Cerca de 80% da nossa energia vem de combustíveis fósseis, o que torna a água um bem oneroso e vulnerável às flutuações do mercado internacional”.
Para mitigar esse problema, Cabo Verde tem apostado nas energias renováveis. Segundo o representante da ARME, a meta é atingir 30% de penetração de energias renováveis em 2025 e 50% até 2030, com um objetivo ambicioso de chegar perto de 100% até 2040: “O país tem um grande potencial solar e eólico, e a nossa estratégia passa por reduzir a dependência dos combustíveis fósseis e tornar a água mais acessível”.
Mais acrescentou que o modelo de governança da água em Cabo Verde passou por uma significativa transformação nos últimos anos, com a reestruturação dos serviços de abastecimento.
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