Candidato a presidente do Uruguai em dificuldades para a eleição de outubro

Montevidéu (Prensa Latina) O governista Partido Nacional (PN) mostra manchas que marcam a gestão do Executivo do presidente Luis Lacalle Pou e dificultam o início da campanha de seu candidato presidencial, Álvaro Delgado, para as eleições de outubro próximo no Uruguai.

Por Orlando Oramas León/Correspondente-chefe no Uruguai

Uma sucessão de atos maliciosos marca a atuação da PN, que recentemente expulsou de suas fileiras o prefeito de Cerro de las Cuentas, departamento de Cerro Largo, Humberto Allende, condenado a cinco anos de prisão pelo estupro de uma idosa.

Mas antes disso, o prefeito de Artigas, Pablo Caram, havia renunciado e também recebeu pena de prisão por crime de omissão de funcionário público em denunciar atos aparentemente criminosos na administração pública.

A pena de 14 meses de prisão, em liberdade vigiada, resultou no caso que o Ministério Público investigou pelo pagamento milionário e ilegal de horas extraordinárias no concelho Artíguense, a norte daqui.

Por esta razão, a ex-deputada nacionalista Valentina Dos Santos também foi acusada e condenada por usurpação de funções.

E antes disso, condenaram o ex-secretário-geral da Câmara Municipal, Rodolfo Caram, e sua esposa, ambos pelo crime de estelionato.

O poder de Caram e o esquema de corrupção eram bem conhecidos no governo e nas lideranças partidárias, segundo partidos que compõem a coligação governamental.

Caram não foi submetido à Comissão de Ética do Partido Nacional devido à sua renúncia.

Dos Santos também renunciou ao toldo branco e, segundo relatos da imprensa, aspira a ser eleita presidente da Câmara nas eleições departamentais do próximo ano com uma lista própria que até agora usava o lema do PN.

Até essa data, expirarão sua sentença judicial e a inabilitação imposta pela Justiça Eleitoral para concorrer a cargos públicos.

Deputados da Frente Ampla exigem que seja investigada a utilização de verbas governamentais para o programa “Vale Empreender”, que foi chefiado pelo ex-legislador, responsável por ter sido quem aprovou os pagamentos extras ilegais na comuna departamental.

Há denúncias em investigação sobre irregularidades em diversas licitações, inclusive sobre utilização de recursos públicos destinados a obras em áreas rurais para outros fins.

“Este constrangedor acontecimento deixa evidente a necessidade de limitar o poder dos prefeitos”, considerou o deputado colorado Felipe Schipani, com base nos atos de corrupção que culminaram na condenação de Caram e Dos Santos.

“Muitas vezes agem como verdadeiros donos da administração do departamento, como senhores feudais”, disse ele numa aparição na televisão.

O caso de Artigas é para analistas e atores políticos “mais uma pérola” no corolário da gestão irregular que persegue a atual administração.

UMA LONGA LISTA

Um editorial do semanário El Popular, do Partido Comunista do Uruguai, lista uma longa lista de escândalos recorrentes na vida política do país.

Menciona “o esquema de corrupção do chefe do Serviço de Segurança Presidencial, Alejandro Astesiano, na própria presidência da República, de onde deu passaportes falsos, espionou senadores da Frente Ampla e o presidente do PIT-CNT, interveio em licitações e um longo etc.”.

Astesiano recebeu quatro anos de prisão por diversos crimes, mas de sua cela ameaça “se soltar” com revelações que podem comprometer figuras do governo.

El Popular lembra “o escândalo dos cargos escolhidos a dedo com salários suculentos para operadores de uma lista do Partido Nacional, concedidos pelo candidato a prefeito branco de Salto e representante do Uruguai na Comissão Técnica Mista de Salto Grande, Carlos Albisu”

Também o escândalo da entrega de um passaporte expresso ao narcotraficante Sebastián Marset, ajudando-o a fugir da prisão onde se encontrava no Dubai.

Esse procedimento foi seguido de manobras para ocultar, destruir provas e mentir ao Parlamento e aos cidadãos, o que rendeu revelações comprometedoras da vice-chanceler demissionária Carolina Ache.

Isso provocou as renúncias do Chanceler Francisco Bustillo, do Ministro do Interior e do Subsecretário, Luis Alberto Heber e Gullermo Maciel, respectivamente; e a saída do assessor de comunicação da presidência, Roberto Lafluf.

O Partido Nacional também promove a expulsão do agora ex-senador Gustavo Penadés, da prisão e acusado de mais de vinte crimes sexuais cometidos contra menores.

Como dano colateral, o presidente da Diretoria Nacional do Partido, Pablo Iturralde, teve que renunciar ao cargo após revelar sua pressão sobre funcionários do Ministério Público para beneficiar Penadés.

Foi uma ativista nacionalista, Romina Celeste, quem fez a primeira denúncia pública contra o ex-senador, que desde a prisão organizou uma rede de funcionários, entre eles a polícia, para investigar as suas vítimas e influenciar a investigação fiscal.

Celeste está na crescente lista dos expulsos do PN. Ela também está presa por tramar uma acusação falsa contra o então candidato da Frente Ampla, Yamandú Orsi, posteriormente escolhido como candidato presidencial da Frente Ampla.

E como se a saga não acabasse, o Conselho de Transparência e Ética Pública analisa um relatório que compromete a prefeitura da Flórida também nas mãos do partido branco.

O relatório refere-se a “irregularidades em matéria de contratações diretas” no governo departamental liderado pelo nacionalista Guillermo López, denunciadas pelo vereador da Frente Ampla, Fabiel González.

O que está sendo investigado é a contratação direta em 37 ocasiões de uma empresa que pertence ao filho e ex-marido da ex-secretária pessoal do prefeito, Natalia Castellini,

Para o ex-ministro Heber, hoje senador, os atos de corrupção em Artigas, “vergonhosos para o Partido”, foram apenas os únicos registrados contra a sua formação política. O legislador esquece, conclui o editorial do El Popular.

É surpreendente que até agora a Frente Ampla não tenha disparado críticas sobre os atos de corrupção em Artigas e outros que colocariam o Partido Nacional na defensiva na campanha eleitoral que se inicia.

Mas é uma questão de esperar. Como disse um legislador da Frente-Amplista à Prensa Latina: “tudo no seu devido tempo”.

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