Campanha de Portugal para Conselho de Segurança da ONU deverá arrancar em setembro – Atualidade – SAPO.pt
Ana Paula Zacarias, que se prepara para deixar no final do mês o cargo de representante permanente de Portugal junto da ONU, assegurou que a mudança de Governo não resultou em “novidades acrescidas” no trabalho que a missão portuguesa vem realizando, destacando que o país tem já uma lista de apoios “absolutamente muito boa” na sua corrida a um lugar de membro não permanente no Conselho de Segurança.
“Claro que teremos que continuar nos próximos dois anos a intensificar essa campanha, a confirmar todos os apoios que já temos vindo a receber e eu estou convencida que o atual Governo fará seguramente em breve a apresentação formal da campanha. Muito provavelmente durante a semana de alto nível, em setembro”, apontou a diplomata, em entrevista à Lusa em Nova Iorque.
“A partir desse momento, Portugal passará a enviar aos outros países as suas prioridades em termos do que será o seu programa quando estiver sentado no Conselho de Segurança(…). E também irá seguramente intensificar tudo o que são relações bilaterais, dando continuidade ao trabalho que já vem sendo feito”, explicou.
A eleição em causa para o Conselho de Segurança – um dos órgãos mais importantes das Nações Unidas, cujo mandato é zelar pela manutenção da paz e da segurança internacional – acontece em 2026, para o biénio 2027/2028.
Portugal tem como adversários diretos a Alemanha e a Áustria, numa disputa pelos dois lugares de membros não permanentes atribuídos ao grupo da Europa Ocidental e Outros Estados.
A candidatura foi formalizada em janeiro de 2013 e as eleições para o referido mandato realizam-se durante a 81.ª Assembleia-Geral das Nações Unidas, em 2026, ano em que António Guterres termina o segundo mandato de cinco anos como secretário-geral da ONU.
Ana Paula Zacarias será substituída no cargo por Rui Manuel Vinhas Tavares Gabriel, que iniciará funções em 01 de junho e que deverá dar continuidade ao trabalho que vem sendo feito com vista ao Conselho de Segurança e que passa por transmitir “uma imagem positiva” de Portugal, que “é capaz de construir pontes e de entender os problemas dos outros, defendendo os seus interesses”, disse a diplomata.
Para evidenciar a capacidade de Portugal de “chegar a outros países, de ouvir e de ajudar”, a diplomata portuguesa afirmou que têm sido desenvolvidos dois programas de cooperação com os pequenos Estados insulares e com os países sem costa marítima, que têm servido para estreitar relações – e que podem valer a Portugal um maior apoio na missão de regressar ao Conselho de Segurança.
Enquanto com os pequenos Estados insulares Portugal tem já uma relação muito próxima, com países sem litoral, como é o caso do “Cazaquistão, do Quirguistão, Ruanda, Burundi ou Mongólia”, Portugal está agora a fazer um programa especial na área digital, indicou Zacarias.
Além disso, Portugal tem sido co-facilitador e co-presidente em vários processos no universo das Nações Unidas, um papel que “aumenta a sua imagem como um país confiável, credível, com políticas que são conhecidas de todos e que sabe ouvir, sabe que caminhos encontrar, que caminhos sugerir para se encontrarem consensos” e “é aí que Portugal pode fazer a diferença, e tem feito”, reforçou a diplomata.
Além do Conselho de Segurança, também continuam em marcha os esforços para tornar o português uma das línguas oficiais das Nações Unidas, a par do inglês, espanhol, francês, chinês, russo e árabe.
Contudo, o esforço financeiro que este objetivo implica tem sido um entrave, uma vez que obrigaria, entre outros, à “contratação de um enorme núcleo de pessoas que seriam responsáveis pela tradução e pela interpretação” de documentos e reuniões da ONU ou à criação de um programa para aprendizagem da língua pelos funcionários do secretariado.
Sem avançar com valores, a embaixadora assegura que o montante será “seguramente bastante elevado”, mas avalia que “não haverá muita dificuldade em, politicamente, convencer as Nações Unidas de que é uma língua importante”.
“Portanto, a grande questão aqui vai ser realmente a questão financeira e convencer a ONU, cujo orçamento está sempre a debilitado e (…) em crises de liquidez, a pôr dinheiro suficiente para que o português se torne realmente mais uma das línguas de trabalho”, observou.
Questionada sobre a quem compete esse financiamento, a embaixadora explicou que se trata de um “trabalho conjunto” entre a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) e as Nações Unidas.
“Daí a importância de termos o apoio político dos outros Estados-membros (da ONU), para que esse esforço financeiro por parte das Nações Unidas complemente o esforço financeiro dos países que têm interesse direto nessa língua”, destacou.
“Portanto, aos poucos vamos fazendo essa promoção e à medida que o português for mais ouvido e mais falado, mais facilmente será possível vir um dia a ter o português como língua oficial das Nações Unidas”, acrescentou a diplomata.
A língua portuguesa não só é uma das línguas mais difundidas no mundo, com mais de 260 milhões de falantes espalhados por todos os continentes, como é também a língua mais falada no hemisfério sul, segundo dados da UNESCO.
*** Marta Moreira, da agência Lusa ***
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