Caminhar para fugir da dor: um novo olhar sobre a lombalgia crônica

Os achados reforçam que a caminhada é uma intervenção acessível e de baixo custo, capaz de postergar e possivelmente até reduzir a reincidência da dor lombar crônica – PeopleImages/istock – PeopleImages/istock

A dor lombar crônica é uma velha conhecida dos consultórios de ortopedia. Para se ter uma ideia, estima-se que oito em cada dez pessoas experimentarão pelo menos um episódio ao longo da vida. Com a escassez de tratamentos verdadeiramente eficazes e a dependência de acompanhamento médico constante, cresce a busca por soluções preventivas. E a resposta pode estar em um hábito simples: caminhar.

Um estudo recente, publicado na renomada revista The Lancet, revelou que uma rotina de caminhada de 30 minutos diários, cinco vezes por semana, pode ser uma poderosa ferramenta na prevenção da dor lombar crônica. O estudo, batizado de WalkBack (Caminhar de Volta, em tradução livre), foi conduzido por cientistas das universidades Macquarie e de Sydney, na Austrália, e trouxe insights promissores sobre a relação entre atividade física e saúde da coluna.

O estudo: um passo de cada vez

A pesquisa analisou 701 adultos, com idade média de 54 anos, que haviam recentemente se recuperado de um episódio de dor lombar baixa. Esses participantes já haviam enfrentado dezenas de crises anteriores, caracterizando um histórico de dor lombar crônica.

Os voluntários foram divididos em dois grupos. O primeiro recebeu acompanhamento de fisioterapeutas para a criação de um programa progressivo e personalizado de caminhada. Já o grupo controle não recebeu qualquer tipo de orientação, refletindo a realidade da maioria das pessoas que sofrem com o problema.

Ao longo de seis meses, os participantes orientados passaram por seis sessões de acompanhamento, onde os fisioterapeutas monitoravam seus progressos, ajudavam a superar desafios e forneciam informações sobre dor e atividade física. A meta era clara: caminhar pelo menos 30 minutos, cinco vezes por semana.

Os resultados: menos dor, mais qualidade de vida

Os participantes foram acompanhados por até três anos, e os resultados falam por si: aqueles que aderiram ao programa de caminhada levaram, em média, 208 dias para apresentar uma nova crise de dor lombar. No grupo controle, esse tempo caiu para 112 dias — praticamente a metade.

Os achados reforçam que a caminhada é uma intervenção acessível e de baixo custo, capaz de postergar e possivelmente até reduzir a reincidência da dor lombar crônica.

O impacto global da lombalgia

A dor lombar não é um problema isolado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020 cerca de 619 milhões de pessoas sofriam com o problema, o equivalente a 10% da população mundial. As projeções indicam que até 2050 esse número deve chegar a 843 milhões.

As dores lombares se dividem em três principais tipos:

Lombalgia mecânica: a mais comum, está frequentemente ligada à postura inadequada e problemas musculares.
Lombociatalgia: ocorre quando a dor se irradia para as pernas, geralmente devido à compressão de nervos, como no caso de hérnias de disco.
Estenose do canal lombar: comum em idosos, essa condição causa um estreitamento da coluna, afetando a mobilidade e gerando dificuldades para caminhar.

Caminhar é suficiente? Nem sempre

De acordo com o ortopedista Mario Lenza, do Hospital Israelita Albert Einstein, a caminhada é um excelente começo para combater a dor lombar, mas não é uma solução universal. “Os resultados deste estudo confirmam o que nossos avós sempre disseram: caminhar faz bem. Agora, temos evidências científicas que comprovam esse efeito na lombalgia crônica”, afirma.

No entanto, para aqueles que sofrem com dores persistentes e são sedentários, iniciar uma rotina de caminhada sem preparo pode ser desafiador e até agravar o problema. “Muitas vezes, o primeiro impacto da caminhada pode ser o aumento da dor nos joelhos, tornozelos e pés. Por isso, a orientação profissional é essencial”, alerta Lenza.

Em casos mais graves, como a síndrome da cauda equina — caracterizada por dor intensa, perda de força e alterações esfincterianas —, a cirurgia pode ser necessária. Da mesma forma, hérnias de disco podem exigir intervenções médicas mais agressivas.

O poder de pequenas mudanças

Ainda assim, antes de optar por procedimentos invasivos, especialistas defendem que a adoção de um estilo de vida mais ativo pode trazer grandes benefícios. “Muitas dores poderiam ser resolvidas com a caminhada, a fisioterapia e a adesão a um programa consistente de reabilitação”, reforça Lenza.

Seja para prevenir ou retardar a recorrência da dor lombar, um passo de cada vez pode fazer toda a diferença. E, no fim das contas, o conselho dos avós se mostra mais atual do que nunca: caminhar faz bem — para o corpo e para a vida.

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