A sua própria prática artística espelha essa convicção. Faz música em crioulo, em português e tem interesse em explorar outras línguas, mas o ponto de partida é sempre a raíz. “Sou muito camaleão. Se estiver num sítio, começo a escrever a partir daí. Mas é o crioulo que me leva mais longe.” E lembra que não está sozinho: Cesária Évora, Mayra Andrade e outros nomes que cantam na língua cabo-verdiana são, para si, exemplos claros de que é possível afirmar-se internacionalmente sem abrir mão da identidade.
É com esse espírito que surge o coletivo Acácia Maior. Criado com Luís Henrique, o grupo é, nas palavras de Firmino, mais do que uma parceria musical. É uma estrutura colaborativa que se alimenta da diversidade entre os seus membros e da vontade de fazer diferente. “Acácia é liberdade. Liberdade de fazer arte, de não limitar nada. É estar enraizado sem estar preso”.
A complementaridade entre ele e Henrique é evidente: um com uma abordagem mais tradicional, outro com influências mais psicadélicas. Mas o resultado, garante, é equilíbrio e partilha. “O que ele traz, o que eu trago, é sempre bem recebido pelos dois”. A sintonia é comprovada através da música: juntos lançaram em 2023 Cimbrom Celeste, álbum de estreia do grupo, e mais recentemente o single “Mãe d’Melodia”, em parceria com Cristina Clara e Berlok. Mas a química entre ambos estendeu-se a outros artistas.
Hoje, os Acácia contam com oito intérpretes, entre os quais Eliana Rosa, autora do single “Manga d’Terra”, recentemente premiado nos Prémios da Academia Portuguesa de Cinema. O futuro do projeto passa por aí: dar continuidade a esse trabalho de formação e promoção de novos talentos, aliado à possibilidade de transformar os Acácia numa label e tendo como prioridade consolidar o coletivo em Cabo Verde antes de expandir a sua presença fora do país. “Quero que os Acácia sejam muito mais do que eu e o Henrique, que sejam um feeling. Que as pessoas digam ‘ouvi falar, é uma boa vibe’. Quero que seja mais do que um grupo, mais do que um coletivo, um sentimento.”
À medida que o grupo cresce, cresce também a ambição de Firmino enquanto artista e produtor. “Vejo-nos a crescer aqui em Cabo Verde. Vejo-me com 40 anos a ser um nome que toda a gente já ouviu, de alguma forma.” Para já, a prioridade é continuar a fazer música com consistência, e garantir que o crioulo – tal como a cultura que representa – tem o espaço que merece.
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