Cabo Verde: Entrevista a Clara Marques – “Os municípios deveriam ser mais próximos um dos outros” (2ª Parte)

Com um percurso firmemente ligado à educação e ao serviço público, Maria Clara Marques Rodrigues é hoje uma das figuras mais influentes da política cabo-verdiana. Presidente da Assembleia Municipal da Praia e do Conselho Geral da Associação Nacional dos Municípios Cabo-verdianos (ANMCV), esta responsável tem-se destacado na defesa de uma governação mais inclusiva, com especial foco na promoção da igualdade de género e na valorização da educação como pilar do desenvolvimento.

Enquanto presidente do Conselho Geral da Associação Nacional dos Municípios Cabo-Verdianos, quais são os principais desafios e objetivos que enfrenta atualmente?

Durante o primeiro mandato fui eleita presidente do Conselho Geral da Associação Nacional dos Municípios Cabo-Verdianos (ANMCV) e desempenhei essas funções com muito zelo e responsabilidade. Enquanto presidente, procurei juntos dos meus colegas autarcas que participassem mais e contribuíssem para que a ANMCV fosse cada vez mais uma associação robusta e com capacidade para concorrer para o desenvolvimento dos municípios.

Por outro lado, fazer com que os munícipes, entidades governamentais, públicos e privados vissem a associação como um espaço de partilhas de projetos, e, não só, sensibilizar as Câmaras Municipais a partilharem as suas ideias e contribuíssem com as suas quotas. Neste sentido, tivemos muitas participações nas reuniões do Conselho Geral para darem a conhecer aos autarcas projetos que poderiam ser concretizados em parcerias com as Câmaras Municipais.

Como avalia a colaboração entre os municípios cabo-verdianos no âmbito da ANMCV?

Os municípios deveriam ser mais próximos um dos outros e procurassem trabalhar mais em conjunto, numa perspetiva de inter-municipalidade e de cooperação descentralizada. Esse é o grande desafio que devemos ter como grande objetivo a ser materializado e defender mais os interesses dos Municípios, junto do governo e não ser mais serviço para servir os interesses dos governos.

Quais são as suas ligações com Portugal e de que forma estas influenciam ou beneficiam o seu trabalho em Cabo Verde?

As minhas ligações com Portugal têm sido positivas e isso tem influenciado muito e cada vez mais o nosso trabalho em Cabo Verde, senão vejamos: As inovações e boas práticas que me propus a desenvolver, desde do início das minhas funções, para a valorização da AMP, contribuíram para se estreitar as relações institucionais não só com os municípios nacionais, como também com os municípios portugueses, com os eleitos municipais e a sociedade civil.

Tendo em conta que em Portugal existem mais de 20 municípios que são geminados com Cabo Verde, a meu ver, há muito por explorar entre o nosso município com os municípios geminados. Para além disso, existe uma parceria, com alguns Institutos Politécnicos, onde os estudantes estão a estudar, mas queremos diversificar esses protocolos que foram assinados com mais ações, por exemplo: troca de documentos de experiências de intercâmbios.

Vejo que há necessidade de se fazer algo para dinamizar mais essa cooperação descentralizada porque isso beneficia ambas as partes. Numa das minha visitas de cortesia à Sra. presidente da AM de Lisboa no decorrer da nossa conversa ficou expresso a minha intenção de valorizar as AMs de Cabo Verde e daí surgiu a ideia da minha participação no Congresso da ANAM, após as últimas eleições autárquicas em Portugal. Fui convidada pelo Sr. presidente da ANAM, Dr. Albino Almeida, e fui participar no Congresso na Covilhã. Depois desta participação, a Assembleia Municipal da Praia e ANAM realizaram várias atividades e acabamos por assinar um protocolo de cooperação no mesmo dia que se realizou uma Conferência Internacional na Praia, promovidas pelas referidas Assembleias por ocasião das festividades do Dia do Município da Praia.

A partir desse Protocolo muitas atividades foram desenvolvidas, nomeadamente, visitas a alguns municípios do Centro e do Norte, participação em várias Jornadas Municipais Lusófonas Conferências na UCCLA e na Assembleia da República, criação de uma plataforma para os Países Lusófonos, participação com artigos na revista da ANAM, Ideias & Territórios.

De igual modo, foram feitas algumas reuniões on-line entre Brasil, Cabo Verde e Portugal, com a participação do Senhor Coordenador do Centro de Valorização dos Eleitos da ANAM numa das reuniões do Conselho Geral da ANMCV na Praia e partilhas de informações documentos e de cursos promovidos por este departamento da ANAM.

Está familiarizada com a Associação Mais Lusofonia, em Castelo Branco, Portugal? Se sim, qual é a sua opinião sobre o trabalho que desenvolvem?

Existe uma relação de familiaridade com a Associação Mais Lusofonia entre o Município da Praia e a Mais Lusofonia, na sequência de uma visita realizada na Câmara e Assembleia Municipais da Praia. Nessa reunião houve muitas ideias em comum entre a presidente da Mais Lusofonia e a presidente da AMP e foi assim que tudo começou. Foram feitas trocas de visitas quer na Praia e em Castelo Branco, a partir disso, criou-se um laço de cooperação muito forte.

Já se fizeram várias atividades no âmbito cultural, social e intercâmbios nos municípios da Praia e da Brava, desde a criação desta Associação, que tem feito um trabalho meritório e extraordinário. Já presenciei as suas atividades algumas vezes e acompanho sempre as diversas ações que estão a desenvolver em Castelo Branco e em outros lugares.

O que me admira nesse grupo fantástico é o entusiasmo da equipa que não pára de inventar algo novo em prol da solidariedade para com os outros. Para mim é um privilégio acompanhar o trabalho dessa equipa pelo bem comum e gostaria de destacar a sua presidente, Sofia Lourenço, que tem sido uma pessoa incansável e com um poder de motivar a todos os que a volta dela.

Como vê o futuro da cidade da Praia em termos de desenvolvimento urbano e social?

O município da Praia é o maior município de Cabo Verde e a Cidade da Praia é Capital do País, onde se encontra a Presidência da República, Parlamento, Governo, Corpo de Diplomático e Organizações Internacionais.

É uma Cidade Cosmopolita, pois aqui residem pessoas de todas as outras ilhas e de várias de nacionalidades. Por isso, é uma Cidade complexa, em termos de desenvolvimento urbano e social, com muitos desafios por debelar.

Este ano, Cabo Verde comemora o quinquagésimo aniversário da sua Independência, nesses 50 anos muito foi feito, mas ainda os desafios são enormes, sobretudo porque se trata de um país que no início de 1975 era uma província portuguesa que se tornou independente com todas vulnerabilidades, carecia de todo o tipo de recursos. Durante esse período, as conquistas forma imensuráveis, obtivemos muitos ganhos, Cabo Verde foi considerado, no início, um Pais inviável, porém, hoje é tido como um dos primeiros países em termos de índice do desenvolvimento humano em África, e em termos políticos e de liberdade de imprensa é visto com bons olhos, porque o sistema político vigente respeita alternância política e a democracia funciona. Isso deve aos sucessivos governo e todos os Cabo-Verdianos no País e na Diáspora, que fizeram tudo para que, atualmente, sermos reconhecidos como um país de Desenvolvimento Médio e um exemplo em África. Paulatinamente, está-se a vencer os desafios que faltam por superar nas diversas áreas, económicas, sociais ambientais e culturais.

Apesar de muitas conquistas, a Cidade enfrenta escassez de terreno para a construção de habitações, desemprego jovem, problemas sociais, pobreza e segurança. Neste sentido, o município da Praia tem vindo a fazer uma governação de proximidade e fazer tudo que é possível, para contribuir para que todos os munícipes têm melhor qualidade de vida e paralelamente contribuir para o desenvolvimento do Município e da Cidade da Praia.

Por fim, quem é Clara Marques?

Maria Clara Santos Marques Gomes Rodrigues, mais conhecida por Clarinha pelos familiares e Clara Marques pela maioria dos conhecidos, nasceu em Rui Vaz, uma comunidade rural, que dista cerca de 20km da Cidade da Praia.

O meu nascimento em Rui Vaz aconteceu porque o meu avô foi transferido para essa zona montanhosa de clima ameno, para a ir fazer a coordenação de plantação de eucalipto e acabou por levar toda a família. Os meu Pai era comerciante e a minha costureira, somos 12 filhos e sou a sétima. Pertenço a uma família humilde, muito unida e cristã.

Tive uma infância feliz e em Rui Vaz éramos todos famílias, tenho muitas recordações daquele tempo e para consolidar essa infância que muito me marcou muito construí uma casa de campo nessa comunidade para fins de semana. Anualmente, há mais de 15 anos, realizo uma festa em honra de Santa Clara, na capela onde era a casa do meu avô, com a Comunidade de Rui Vaz, com os amigos e todos os profissionais de Comunicação Social, porque Santa Clara é Padroeira da Televisão.

Depois do falecimento do meu avô, regressamos à Cidade da Praia, onde fiz os meus estudos primários e liceais na Capital. Como gostava de ensinar as crianças porque era catequista surgiu o primeiro curso de professores e ingressei nesse curso. Durante a minha juventude participei em todas as atividades religiosas e pertenço a vários movimentos da Igreja: fui de Ação Católica, sou Escuteira, Leitora na Eucaristia, Ministro Extraordinária de Comunhão, presidente do Conselho Fiscal de Caritas Nacional, pertenço a outras associações como AGPEC-CV, grupos de Leitores na Missa, Ministros Extraordinário da Comunhão.

No fim do curso dos 50 formados, a direção da Escola de Formação selecionou 10 melhores estudantes finalistas para fazerem uma visita de estudo em Portugal e eu fui uma das escolhidas. Depois do regresso fui nomeada Professora na Calheta de São Miguel. Deu-se o 25 de abril, os objetivos do então curso de professores mudaram tive de estudar de novo para terminar o Ensino Secundário.

Casei-me sou Mãe de duas filhas uma Magistrada e outra trabalha numa Organização Internacional, BAD, tenho três netos e sou viúva. Terminando o ensino secundário ingressei em vários cursos sempre nas áreas do Ensino e Ciências da Educação em Cabo Verde e em Portugal, Braga, fiz o Bacharel, Licenciatura, Pós-Graduação em Berlim, Alemanha, e mestrado em Braga, na universidade do Minho.

Ainda ao longo da minha carreira profissional fiz vários capacitações e formações em exercício nas áreas de Administração Pública, Inspeção e Gestão Escolar. Já fui Conferencistas no País, em Portugal, Castelo Branco, Espanha, Valência e Galiza e participei em vários Fóruns em Cabo Verde e no exterior.

Exerci várias funções no Ministério da Educação e do Ministério da Defesa e aposentei-me como Inspetora-geral da Educação. Dado as minhas participações em todas as áreas fui convidada, para ser candidata a Mulher do Ano, nas últimas eleições Presidenciais fui convidada para ser Membro de Honra da Candidatura do Presidente da República de Cabo Verde e agora fui convidada para ser Cônsul Honorário de Polónia.

Depois de me aposentar comecei de novo a trabalhar no meu Museu de Educação e nas outras associações, mas foi sol de pouca dura. Fui convidada par ser Presidente da Assembleia Municipal da Praia, depois fui eleita Presidente do Conselho Geral da Associação Nacional dos Municípios Cabo-verdianos.

Participei num estudo sobre a organização e funcionamento do Centro Paroquial de Nossa Senhora da Graça, sou madrinha de um grupo religioso, Geração de Jesus, José e Maria da Paróquia de Imaculada Conceição, Madrinha da Gala 2MÓ 2TON do grupo da Paróquia de São José e participo em todas as missas das comunidades do Município da Praia e de outros municípios.

Ígor Lopes

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