Brasileiros são os estrangeiros que mais pedem crédito para comprar casa em Portugal | Habitação

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Em 2024, os brasileiros se destacaram como a principal nacionalidade estrangeira a obter crédito para a habitação em Portugal. De acordo com dados divulgados pelo Banco de Portugal, os cidadãos oriundos do Brasil representaram 38% daqueles que receberam financiamentos para a aquisição de casa própria (permanente). Essa participação superou, com folga, as de angolanos (5%), britânicos, italianos e franceses (cada uma das nacionalidades representou 4%), confirmando a forte presença da comunidade brasileira no país.





O levantamento também evidenciou o peso dos brasileiros entre os estrangeiros quando considerados os montantes de recursos contratados juntos aos bancos portugueses para a aquisição da casa própria. Dos valores totais liberados pelas instituições financeiras para cidadãos de fora de Portugal, os brasileiros ficaram com 30% do volume de crédito, superando a soma das quatro nacionalidades que vieram na sequência: britânicos (7%), norte-americanos (6%), franceses (5%) e italianos (5%).





O Banco de Portugal indicou, ainda, que, entre os brasileiros que tomaram empréstimos para a aquisição de moradias ou apartamentos em território luso, 54% eram mulheres, 67% estavam empregados formalmente (trabalhadores por conta de outrem), 41% tinham entre 36 e 45 anos e 57% concluíram o ensino superior.

Outro crédito à habitação

Por regra, o Banco de Portugal também usa, em seus registros, a contratação de “outro crédito à habitação”, categoria que engloba financiamentos destinados à aquisição, construção e realização de obras em imóveis secundários ou para arrendamento, além da compra de terrenos para construção. Ou seja, crédito para as chamadas segundas casas.





Nessa rubrica, os brasileiros representaram 15% dos estrangeiros que acessaram o crédito bancário. Em relação aos montantes liberados pelas instituições financeiras portuguesas, os brasileiros ficaram com 12% dos recursos, sendo superados pelos norte-americanos (19%) e pelos britânicos (13%), mas à frente das demais nacionalidades.

O perfil dos brasileiros que recorreram ao “outro crédito à habitação” não foi muito diferente do observado na rubrica da moradia permanente: 57% eram mulheres, 59% estavam empregados formalmente (trabalhadores por conta de outrem), 65% tinham curso superior e 68% idade entre 36 e 45 anos.

As estatísticas do Banco do Portugal apontaram, ainda, que os cidadãos estrangeiros ficaram com 45% do total do “outro crédito à habitação” liberado pelos bancos portugueses em 2024, índice abaixo dos 50% observados no ano anterior. Mais: no ano passado, incluindo os portugueses, foram celebrados 90 mil contratos de crédito à habitação própria permanente, 32% a mais do que em 2023, envolvendo 138 mil pessoas. No caso do “outro crédito à habitação”, metade dos contratos tinha valor igual ou inferior a 112 mil euros.

Opinião dos especialistas

Para Ricardo Feferbaum, diretor-gerente de Real Estate do ComparaJá, os números divulgados pelo Banco de Portugal não surpreendem. Segundo ele, a tendência de crescimento do interesse dos brasileiros por crédito à habitação já havia sido identificada em análises de mercado. “Vemos o crescente interesse dos brasileiros por crédito habitacional nos nossos dados internos. No relatório de fevereiro do Comparajá, por exemplo, 9,1% dos financiamentos contratados foram por brasileiros”, diz.

O especialista destaca que os bancos portugueses já estão habituados a trabalhar com clientes brasileiros e que há uma crescente demanda por profissionais oriundos do Brasil no setor imobiliário. “Estou há seis anos em Portugal e, desde que cheguei, já havia muitos brasileiros no mercado. E vejo poucos deles voltando para o Brasil. O processo natural é a pessoa vir para Portugal, se sentir mais à vontade e, eventualmente, comprar uma casa”, avalia.

Outro fator que influencia essa tendência, segundo Feferbaum, é a diferença na taxa de juros entre Brasil e Portugal. “Como estamos acostumados com taxas muito mais altas no Brasil, o crédito imobiliário português acaba sendo uma excelente oportunidade para os brasileiros”, frisa.

Já Tiago Prandi, CEO da Conexão Europa Imóveis, vê no modelo de financiamento português uma grande vantagem para investidores. “Para nós, brasileiros, o banco financia 70% do valor do imóveil, exigindo 30% de entrada de capital próprio. Para qualquer investidor, esse é o melhor modelo de negócio que existe. Você entra com 30%, mas quem paga o restante é o inquilino (no caso de o imóvel comprado ser destinado para aluguel). É um modelo de negócio interessante”, destaca.

Segundo ele, outro ponto que pode influenciar nas condições do financiamento é a idade do tomador de crédito. “Às vezes, ser jovem pode ser vantajoso, mas, em outros casos, ter mais idade pode trazer melhores condições. Cada banco avalia de maneira diferente. O que realmente importa é a taxa de esforço, ou seja, o quanto a pessoa ganha, gasta e sobra para o financiamento”, explica.

Prandi também ressalta a importância de contar com uma assessoria especializada na hora de buscar um financiamento imobiliário. “Cada banco tem suas regras, e fazer uma pesquisa detalhada é essencial. Há, por exemplo, instituição que não cobra seguro de vida para clientes acima de 65 anos. E o seguro de vida encarece o crédito bancário. Por isso, entender o que cada banco oferece pode fazer uma grande diferença no custo final do financiamento”, avisa.

Desafio para obtenção do crédito

Apesar do grande interesse dos brasileiros pelo crédito à habitação em Portugal, obter um financiamento exige desafios daqueles que não têm cidadania europeia. A capixaba Carol Boldrini, 29 anos, comprou um apartamento em Lisboa e enfrentou dificuldades para ter a aprovação do banco. “Não ter cidadania europeia dificultou nas análises do financiamento”, conta.

Entre os principais obstáculos estavam condições mais restritivas do que as aplicadas a clientes portugueses. “Tivemos de mostrar maior capacidade de pagamento. Alguns bancos não aceitavam fazer o financiamento em 30 anos, queriam diminuir o prazo para 20. Outros não aceitaram financiar 90%, mas apenas 80% do valor do apartamento”, lembra Carol.

Os entraves tornaram o processo de compra do imóvel mais demorado. “Além das dificuldades para encontrar um apartamento, tivemos as do financiamento”, revela a brasileira. Para facilitar a busca por melhores condições, Carol contratou um mediador financeiro, o que tornou o caminho menos tortuoso.

A aquisição do apartamento ocorreu em setembro de 2024. “Conseguimos a isenção de impostos para quem tem menos de 35 anos, mas não recorremos à garantia pública”, ressalta Carol. Atualmente, ela vive em um imóvel de dois quartos, com 65 metros quadrados, em Lisboa. Trabalhando no setor financeiro, em um banco, a brasileira é formada em direito e veio para Portugal há sete anos para fazer um mestrado. “Quando acabaram as aulas, comecei a trabalhar”, acrescenta.

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