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As operações de compra e venda de imóveis de luxo em Portugal estão em alta, a despeito dos preços cada vez mais elevados. Apenas a The Agency, com escritórios em Cascais e Vilamoura, comandada pelo carioca Ayres Neto, 59 anos, viu o faturamento crescer 345% em 2024 ante o ano anterior, passando dos 100 milhões de euros (R$ 600 milhões). Segundo o executivo, que vive em território luso há oito anos, depois de uma temporada de quase duas décadas em Miami, brasileiros e americanos responderam por 66% das aquisições, sendo o restante distribuído entre as demais nacionalidades. “O número de interessados por empreendimentos de alto luxo em Portugal não para de crescer. São, principalmente, empresários e investidores que desejam morar no país por uma série de razões, como a qualidade de vida e por estar na Europa”, diz.
Parte importante desses compradores está optando por condomínios fechados em Cascais, como a Quinta da Marinha e a Quinta do Patiño, em que imóveis são negociados a partir de 5 milhões de euros (R$ 30 milhões). O luso-brasileiro conta que esse movimento começou a se desenhar há oito anos, mas se acelerou mais recentemente, com Portugal ocupando o espaço de Miami, que perdeu o charme para muita gente. “Quando se está em Portugal, em poucas horas de voos se chega a Paris, Barcelona, Londres, Madri, Amsterdã. De Miami, nas mesmas poucas horas de voo, se chega a Daytona Beach ou Orlando. Há um momento em que ninguém mais quer passar em frente de um parque da Disney”, acrescenta. “A Europa tem charme, cultura, história, e isso tem sido muito valorizado.”
A expansão da The Agency, que desembarcou em Portugal há dois anos, foi tão rápida, que o time de 15 consultores contratados inicialmente pela imobiliária saltou para 85 atualmente. “Estamos falando de um grupo de profissionais de 30 nacionalidades. No total, atendemos em 18 línguas. Isso é importante para criarmos vínculos com os possíveis compradores e mesmo com os vendedores, pois adquirir um imóvel requer confiança, sobretudo, em um país que não é o seu de origem”, assinala. Hoje, a carteira de empreendimentos da empresa para vendas passa de 3 bilhões de euros (3 mil milhões de euro ou R$ 18 bilhões). “Nossa meta inicial era de um estoque de 200 milhões de euros (R$ 1,2 bilhão). Mas superamos em muito esse valor”, ressalta.
Questão de estilo
Ayres Neto destaca que a demanda por imóveis de alto luxo em Portugal continuará em alta por um bom período, assim como os preços. “Ao contrário dos Estados Unidos e do Brasil, onde a oferta desses empreendimentos é constante, sempre com inovações tecnológicas, em Portugal, não há tradição nesse sentido. Por isso, a oferta é restrita”, afirma. Há, ainda, as limitações de espaço em determinadas áreas, como em Cascais. “São poucos os locais onde se pode construir imóveis de elevado padrão. E também não vemos Portugal com prédios acima de 10 andares”, complementa.
O executivo assinala que imóvel de luxo, necessariamente, não quer dizer só preço. “Um apartamento pode ser vendido por 300 mil ou 400 mil euros (R$ 1,8 milhão ou R$ 2,4 milhões), mas, pelo estilo da construção, por ter sido projetado por arquitetos famosos e conter materiais de primeira, é considerado de luxo”, detalha.
O luso-brasileiro Ayres Neto afirma que a demanda por imóveis de luxo em Portugal continuará crescendo
Arquivo pessoal
Em compensação, há um imóvel de 5 milhões de euros (R$ 30 milhões), um terreno grande, que, de luxo, não tem nada. “Estamos falando de empreendimentos exclusivos, com toques muito especiais”, diz. “Brasileiros e americanos valorizam muito isso, mas também franceses, canadenses, suecos”, frisa, lembrando que a The Agency, que abrirá um escritório no Porto, foi fundada em 2011, nos Estados Unidos, por Maurício Umansky, que, por anos, trabalhou com Rick Hilton, pai da modelo Paris Hilton.
Estrangeiros no Brasil
A empresa também está mirando o mercado de luxo do Brasil. “Temos sido procurados por várias construtoras brasileiras interessadas em atrair compradores estrangeiros para seus imóveis. E, por incrível que pareça, há um interesse crescente por empreendimentos no país”, frisa. É verdade, segundo ele, que o Brasil — em especial, o Rio de Janeiro — tem uma imagem ruim no exterior, de muita violência. “Mas não podemos negar que existem locais extraordinários para se viver. Nossa missão tem sido quebrar paradigmas”, explica. “Muita gente não sabe, mas um grupo cada vez maior de estrangeiros está comprando moradia no Nordeste brasileiro por causa do kitesurfe. Tem gente até da Austrália”, conta.
Para o executivo, com cada euro valendo R$ 6, fica mais barato comprar imóvel no Brasil. “Ficamos felizes quando vemos esse movimento de estrangeiros indo para o Brasil. Em maio, por exemplo, vamos percorrer cidades do Sul do país, como Canela e Gramado, que desejam atrair esse público como morador. Não podemos esquecer que, nos estados sulistas, há grandes comunidades de alemães e italianos, que voltaram a se conectar com familiares que continuaram nos países de origem. Isso também tem sido uma forma de mostrar um Brasil distante da imagem da violência”, destaca.
Na opinião de Ayres Neto, Portugal, tem muito o que aprender com o Brasil, que desenvolveu uma política pública que concilia a construção de imóveis de luxo com empreendimentos populares. “As mesmas empresas que constroem prédios luxuosíssimos fazem imóveis do Minha Casa, Minha Vida (MCMV), para a população de mais baixa renda. Portugal deveria seguir esse caminho e propor às construtoras que também invistam em moradias populares, para os mais jovens, de forma a retê-los no país. O sistema de ensino português é de altíssimo nível, mas forma pessoas para emigrarem para França, Luxemburgo, Suíça, Inglaterra, em busca de empregos e salários melhores”, sublinha.
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