Um brasileiro que conversou de forma privada com o Livecoins narrou toda a sua experiência vivida no final de abril de 2025, quando conheceu uma empresa do Uruguai que atua na captação de profissionais para trabalhar em um suposto “call center“.
De acordo com ele, um paulista de 38 anos, a vaga logo chamou atenção como uma oportunidade de trabalhar em outro país e até de receber em dólar.
“Vi uma oportunidade de trabalho no Instagram, em que dizia mais ou menos assim: Trabalhe no Uruguai com atendimento“, diz a vítima para a reportagem. Sem desconfiar da fria que estava entrando, ele recebeu vários contatos da empresa contratante, que prometia pagar as passagens de ida e acomodações aos funcionários.
Processo seletivo parecia sério
Após ter contato com a oportunidade de trabalho no Instagram, o brasileiro que conversou com o Livecoins e prefere não se identificar, conta que entrou em contato com a empresa via WhatsApp.
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No banner de publicidade, havia a indicação de que os profissionais receberiam mensalmente o equivalente a R$ 4 mil. Caso o trabalhador realizasse horas extras contaria com mais benefícios que poderiam chegar ao salário de R$ 5,2 mil por mês.
Ao iniciar a conversa e mostrando vontade de participar do processo seletivo, a vítima do esquema logo recebeu a atenção de um atendente, que lhe informou os passos da contratação. A empresa, que se apresentava como Wolfrin Montevidéu/Alfa dizia trabalhar no ramo de intermediação no setor financeiro (investimentos). O Livecoins não encontrou o contato dos responsáveis pela empresa, mas o espaço permanece em aberto para manifestações.

Assim, ele preencheu um formulário no Google com suas informações para iniciar o processo seletivo, sendo repassado ao setor de recrutamento, segundo a pessoa que lhe atendeu.
“Aprovado” na primeira fase, ele recebeu um Código de Conduta da empresa no qual deveria assinar o documento. Depois disso, houve ainda uma entrevista de emprego e, após isso, já recebeu encaminhamento para ir a um treinamento em São Paulo.
“Fiz a entrevista e fui encaminhado para um teste com o pessoal da Wolfrin que era a “a contratante”, contato feito por Sebastian. Fiz a entrevista passei, e iniciei o treinamento próximo a Avenida Paulista, e me ofereceram a passagem, hospedagem, um adiantamento de 4 mil pesos uruguaios e 2 mil pesos Uruguaios como ajuda para alimentação“, narrou o brasileiro para a nossa reportagem. Cada 1 mil pesos uruguaios equivale a R$ 135,00 na cotação cambial desta quarta-feira (21).
O início do pesadelo
O brasileiro completou todas as fases do suposto processo seletivo e logo embarcou para Montevidéu, a capital do Uruguai. De acordo com ele, ao chegar no local animado para começar suas atividades, a experiência se mostrou oposta ao que ele imaginava.
Isso porque, ao chegar no hostel que a empresa pagou por sua acomodação ele logo percebeu que o local era insalubre.
“Embarquei domingo retrasado para o Uruguai, chegando lá o hostel era insalubre, não tinha sequer um copo para beber água, não tinha nem roupa de cama, banheiro sujo. O hostel chama-se Piano dele Sur. Reclamei do hostel e demonstraram preocupação, porém nada foi feito“, lamentou o brasileiro.
Após uma investigação por sua conta, ele descobriu que o local já havia entrado na mira da Polícia Federal, após denúncias de outros brasileiros anteriormente.

“Tinha que dar golpe de criptomoedas para eles”
O brasileiro lembra que o trabalho de atendente de call center também se provou diferente do que ele imaginava. Assim, os funcionários brasileiros costumam aplicar golpes em outras pessoas para conseguirem pagar suas despesas junto aos empregadores, o que pode revelar ainda uma forma de trabalho escravo.
“O Lance é: Levam o pessoal pra lá, não cumprem o que prometem e o funcionário não tem como voltar pro Brasil, aí se submete a dar golpe de criptomoedas para eles“, diz a vítima que expõe um novo caso perigoso de tráfico humano na América Latina.
Determinado a ir embora do país, ele conta ainda que não recebeu nenhuma ajuda para retornar ao Brasil. Ele conta ainda que não recebeu agressões, nem ameaças durante sua estadia no local.
O brasileiro finaliza que já voltou ao Brasil e encontra-se seguro, embora carregue em sua mala uma experiência da qual não esquecerá mais. As empresas citadas por ele possuem páginas no Brasil, reclamações públicas de outros brasileiros, e mostram uma situação nebulosa.
O que fazer ao se ver vítima de tráfico de pessoas?
No Brasil, o Disque 100, ou Disque Direitos Humanos, é um serviço de atendimento que funciona 24 horas por dia, 7 dias por semana, incluindo feriados, para receber denúncias de violações de direitos humanos. Qualquer pessoa pode acionar o serviço, que é gratuito e pode ser acessado por ligação telefônica, WhatsApp, Telegram e pelo site do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Contudo, em casos internacionais, além da busca por ajuda de autoridades locais, os brasileiros podem ligar no telefone (61) 98260-0610, plantão consular do Ministério das Relações Exteriores do Brasil que funciona 24 horas.
O Governo do Brasil mantém ainda uma cartilha com informações sobre crimes de tráfico de pessoas envolvendo promessas de trabalho no exterior.
Atualmente a legislação brasileira prevê pena de reclusão de 4 a 8 anos e multa para quem praticar tráfico de pessoas. Essa pena é aumentada em um terço se o crime for cometido contra crianças e adolescentes.
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