Brasileira cega vai conduzir a tocha olímpica na Guiana Francesa | olimpíadas

Brasileira Brenda Isabella conduz a tocha olímpica na Guiana Francesa

Sabe qual é o país que tem a maior fronteira com a França, país sede das Olimpíadas neste ano? Uma dica: não é um europeu. Sim, acertou quem disse Brasil. São 730 km de fronteira com o território francês (a segunda maior é a Espanha, com 646 km). Mais precisamente, a divisa é entre o Amapá e a Guiana Francesa. E a chama olímpica vai passar na América do Sul, neste sábado e domingo, dias 8 e 9 de junho.

Brasileira Brenda Isabella fala sobre ser condutora da tocha olímpica na Guiana Francesa

Sete cidades receberão a chama, entre elas Caiena (ou Cayenne, em francês), capital do departamento ultramarino da França, onde o Brasil vai ter uma representante entre os condutores da tocha olímpica: Brenda Isabella Barata Barros.

– Vai ser uma experiência única pois irei representar todas as pessoas com deficiência e mostrar a todos que somos capazes de realizar todos os nossos sonhos – afirma Brenda ao ge.

Paraense de 17 anos, Brenda é tem deficiência visual e foi escolhida para conduzir a chama graças a um e-mail que sua mãe, Tatiana, escreveu ao comitê organizador dos Jogos Olímpicos.

– Eu li um artigo dizendo que a chama ia passar na Guiana Francesa e que os condutores podiam ser selecionados por sua história de superação. E a Brenda tem uma história de muita superação. Ela nasceu enxergando e começou a perder a visão a partir dos 11, 12 anos por causa de uma síndrome muito rara, que ainda não sabem como curar. Eu contei a história de vida dela e a Brenda foi selecionada – conta Tatiana ao ge.

Brenda Isabella, ao centro, com a mãe, Tatiana, e o irmão, Lucas, na Guiana Francesa — Foto: Arquivo pessoal

Nascida em Vigia de Nazaré, a 120km de Belém, aos 12 anos Brenda começou a perder a visão e hoje é cega. Sem tratamento adequado no Brasil, o pai pescador e a mãe foram para Guiana Francesa com Brenda e o irmão Lucas, de 13 anos, e que também começou a perder a visão aos 12. Segundo a mãe, Tatiana, o governo francês está ajudando nos exames para tentar descobrir qual doença Brenda e o irmão têm. A síndrome ainda não foi identificada, apesar de estudo do DNA pela qual ela passou.

Brenda sempre gostou de andar de bicicleta (hoje pedala em triciclo) e assistir à ginástica e à natação, esportes que acompanha com a narração da mãe. E agora está estudando para entrar na universidade. Ela terá um guia para ajudar a conduzir a tocha em Caiena.

– Eu narro tudinho para ela, dos esportes aos filmes, e ela vai imaginando e acompanhando. É uma guerreira. Quando ela perdeu a visão, virou uma menina muito revoltada. Mas quando viemos para cá (Caiena) ela aprendeu o francês, escreve em braile e está estudando para entrar na faculdade. É uma menina incrível. Tem notas muito altas. Quer ser diplomata. Sempre falo para ela: “Você não tem limites, pode ser o que você quiser” – afirma a mãe.

Brenda Isabella em Caiena, na Guiana Francesa — Foto: Arquivo pessoal

Brenda é a primeira brasileira a conduzir a chama olímpica até o momento, segundo os organizadores do revezamento que começou em 8 de maio. Ao todo, serão cerca de 10 mil condutores da tocha olímpica por territórios franceses, de Guadalupe, no Caribe, ao Taiti, na Polinésia Francesa, de Marselha, onde a chama chegou vinda da Grécia, a Paris, onde a pira será acesa dia 26 de julho. Contudo, nunca a chama esteve tão próxima dos brasileiros nesse revezamento quanto agora, nas mãos de Brenda, na maior fronteira francesa do mundo.

– Gostaria de agradecer ao comitê olímpico francês por me proporcionar a oportunidade de vivenciar essa experiência maravilhosa – concluiu Brenda.

Ponte Binacional – Brasil Guiana Francesa — Foto: Flávio Cavalcante/Rede Social

A Guiana Francesa tem cerca de 295 mil habitantes, é o único território francês na América do Sul e fica entre a Amazônia e o Oceano Atlântico. A tocha começará a jornada no continente sul-americano no sábado, dia 8, em Camopi, na fronteira brasileira, que corre ao longo do rio Oiapoque, onde haverá uma cerimônia indígena. De lá, seguirá para o campo de transportes de Saint-Laurent du Maroni, colônia penal do século 18.

No domingo, dia 9, a tocha irá se juntar às festividades em torno da comemoração da abolição da escravidão. Depois, chegará em Kourou, com foco no Centro Espacial da Guiana Francesa. A chama continuará avançando em direção a Saint-Georges de Oiapoque, novamente perto da fronteira com o Brasil, nas cidades de Tonate Macouria e Matoury. A última etapa do dia será na capital Caiena.

A chama olímpica iluminará uma cidade rica em história e herança indígena. O revezamento da tocha passará pelo Monumento das Correntes Quebradas, uma escultura comovente que representa a libertação dos escravos, por exemplo. Na sequência irá para a colina de Forte Céperou, que marca a chegada dos franceses no século 17.

Os atletas Gémima Joseph e Patrice Maciel, em Kourou, onde a chama olímpica vai passar durante o revezamento da tocha na Guiana Francesa — Foto: Divulgação

Patrice Maciel é uma referência quando o assunto é esporte no país. Aos 51 anos, nascido na Guiana Francesa e apaixonado pelo Brasil, o ex-jogador de futebol e atleta de canoagem é professor de educação física na cidade de Kourou, vizinha à Caiena.

– Essas Olimpíadas são muito importante para a França por vários motivos, somos um deles – afirma Patrice.

Ele é filho de brasileiros, um marceneiro amapaense e uma lavadeira paraense, que foram para a cidade de Kourou em 1968 quando o local deixava de ser uma colônia penal para se transformar em departamento francês. Lá, o general Charles de Gaulle decidiu construir uma estação de lançamento para viagens espaciais. Hoje, é um dos principais locais de lançamentos de foguetes e satélites no mundo.

Nesse cenário nasceu Patrice, que usa o esporte para transformar a vida dele e de guianeses, inspirando jovens como quando atravessou o Oceano Atlântico a remo, da Europa até a Guiana Francesa. Ele é um dos exemplos de filhos de imigrantes que fazem a roda esportiva da Guiana Francesa girar rumo aos Jogos de Paris.

Revista mostra o franco-brasileiro Patrice Maciel quando ele atravessou o Atlântico a remo, da Europa até a Guiana Francesa — Foto: Reprodução

A maior representação da força esportiva do local, atualmente, é Gémima Joseph, atleta nascida na Guiana Francesa, filha de haitianos. Mima, como é conhecida, representou a França nos Jogos Olímpicos de Tóquio e, hoje, é uma das mulheres mais rápidas da França. Ela deve representar os donos da casa em Paris nos 100m, 200m e 4x100m no atletismo. Mima é de Kourou. E já treinou no mesmo clube com Patrice.

– Brasileiro, nessa terra aqui, tem uma importância muito grande. Não é se prostituir ou garimpar… Meu pai foi um grande trabalhador, minha mãe também. Apesar de toda discriminação aqui, você tem que levantar a cabeça. Como esportista tenho esse dever com a juventude. Esforço e dedicação são recompensados. Na vida e no esporte é assim”, diz Patrice, que perdeu o pai assassinado em Macapá, há dois anos, e a mãe “morta por depressão” logo depois.

A equipe francesa do revezamento 4x100m medalhista de prata no Mundial com Chloe Galet, Helene Parisot, Mallory Leconte e Gemima Joseph, atleta nascida na Guiana Francesa — Foto: Dante Carrer/Reiters

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