O Brasil tem capacidade de responder por 75% da produção de Combustível Sustentável de Aviação (SAF) da América do Sul até 2029. A projeção é de um estudo da CNT Energia no Transporte, lançado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e obtido com exclusividade pela CNN.
As plantas brasileiras preveem iniciar as suas operações entre 2026 e 2029. Há quatro companhias apostando no combustível sustentável de aviação no país:
- Acelen: macaúba;
- Raízen: etanol;
- Petrobras: soja;
- BBF: palma.
No total, há sete projetos de SAF em desenvolvimento na América do Sul. Além das quatro iniciativas brasileiras, há dois projetos no Uruguai e um na Colômbia.
A CNT estima que as plantas brasileiras serão capazes de produzir 900 mil toneladas do combustível anualmente, o equivalente a 75% da capacidade da região.
O estudo ressalta, no entanto, que o custo de produção do SAF é elevado e que a escala industrial é limitada. Para evitar que esses fatores aumentem os preços das passagens aéreas, a diretora executiva interina da CNT, Fernanda Rezende, defende que a produção do combustível sustentável de aviação seja subsidiada.
“O custo do combustível na operação de uma companhia aérea representa cerca de 40% de todo o custo operacional. Quando você encarece o combustível, você tende a encarecer todo o restante da cadeia. Isso seria refletido nas passagens aéreas. Há necessidade de um avanço regulatório em subsídios dessa cadeia toda de produção do SAF para que esse custo não seja repassado para as passagens aéreas”, disse Fernanda à CNN.
Diferencial competitivo
Na avaliação da CNT, o Brasil tem um diferencial competitivo devido à sua ampla oferta de matérias-primas e à diversidade de linhas produtivas de SAF, autorizadas pela Agência Nacional do Petróleo (ANP). Veja:
- SPK-HEFA: obtido a partir de óleos vegetais e gorduras animais na presença de hidrogênio;
- SPK-ATJ: sintetizado a partir de álcool, mediante a combinação de moléculas menores em maiores;
- SPK-FT: produzido por meio de uma ou mais matérias-primas, processado com hidrogênio e sintetizado por método químico;
- SPK/A: sintetizado a partir de variação de processo químico com adição de compostos aromáticos;
- SIP: sintetizado a partir de açúcares, com a utilização de microrganismos geneticamente modificados;
- CHJ: obtido sob alta temperatura e pressão, na presença de água e com compostos aromáticos, sendo produzido a partir de óleos vegetais e gorduras animais;
- SPK-HC-HEFA: produzido a partir de hidrocarbonetos bioderivados da microalga Botryococcus braunii, óleos vegetais e gorduras animais, na presença de hidrogênio.
Fernanda Rezende destaca que o SAF a base de óleo vegetal é a tecnologia mais consolidada do mercado atualmente, mas ressalta que o Brasil tem potencial de usar resíduos, que já são descartados no meio ambiente, na produção do combustível.
“Resíduos urbanos, como lixo. Resíduos de produção agrícola, como bagaço de cana, a palha de uma cana e também o óleo de cozinha. Todas essas são fontes energéticas que hoje são descartadas e podem ser aproveitadas para geração de energia”, afirma a diretora da CNT.
Potencial exportador
Por meio da Lei do Combustível do Futuro, o Brasil espera impulsionar a corrida pela produção de SAF.
A legislação estabelece que operadores aéreos serão obrigados a reduzir as emissões de gases do efeito estufa nos voos domésticos, a partir do uso do SAF a partir de 2027. As metas começam com 1% de redução e crescem gradativamente até atingir 10% em 2037.
Para a CNT, a produção nacional de SAF será capaz de abastecer todo o mercado doméstico de aviação em 2027.
“Identificamos o potencial do Brasil para atender tanto a produção nacional quanto o mercado internacional”, afirma Fernanda.
A produção global de SAF mais do que dobrou em 2024, na comparação com 2023. Subiu de 600 milhões de litros para para 1,3 bilhão. Apesar do aumento expressivo, o volume representa somente 0,3% da demanda mundial por querosene de aviação. Para este ano, a expectativa é de que a produção global atinja 2,7 bilhões de litros.
Atualmente, há 146 unidades industriais de SAF no mundo, com capacidade combinada de 19 milhões de toneladas por ano. As plantas estão concentradas principalmente na América do Norte, Ásia e Europa.
No ano passado, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) lançaram uma chamada pública para apoiar projetos de biorrefinarias. Foram 76 propostas recebidas, totalizando R$ 167 bilhões em investimentos potenciais. Desse total, 43 projetos são focados exclusivamente em SAF, representando R$ 120 bilhões.
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