“O Brasil tem sido um lugar onde as comunidades convivem pacificamente com respeito, mas, se trouxerem o conflito internacional para o Brasil com declarações, às vezes infelizes, sobre a caracterização do que está a acontecer no Médio Oriente, eu acho que, de alguma maneira, corre o risco de trazer esse problema para dentro de casa. Indivíduos mais radicalizados podem aproveitar-se disso para tentarem fazer justiça com as próprias mãos e se vingarem”, avalia à Lusa o jurista brasileiro Fernando Lottenberg, comissário da OEA para Monitorização e de Combate ao Antissemitismo.
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, tem caracterizado a resposta de Israel ao atentado terrorista de 07 de outubro passado como “um genocídio” contra o povo palestiniano.
O Brasil tem a segunda maior comunidade de judeus da América Latina, apenas atrás da Argentina. Mas tem também a maior comunidade árabe da região, especialmente em Foz do Iguaçu, região de fronteira com o Paraguai e com a Argentina. Diversos especialistas em segurança afirmam que na região vivem células terroristas adormecidas.
“Se judeus que não vivem em Israel são responsabilizados por decisões do governo de Israel, isso é caracterizado como antissemitismo. Vemos manifestações contra sinagogas, em frente a clubes e a instituições judaicas. Isso, claro, é antissemitismo”, denuncia Lottenberg.
Em novembro passado, a Política Federal brasileira prendeu dois supostos terroristas vinculados ao grupo extremista libanês Hezbollah, de fortes vínculos com o Irão. Os dois brasileiros tinham sido recrutados pelo Hezbollah que os financiava para ataques terroristas contra alvos judaicos.
Em 2016, na prévia dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, a Polícia brasileira prendeu 11 suspeitos de planear atentados durante o evento. A Justiça brasileira tinha detetado que os terroristas tinham passado de comentários nas redes sociais a atos preparatórios de ataques.
Além disso, a Justiça concluiu que os envolvidos eram membros do Hezbollah e que tinham jurado lealdade ao Estado Islâmico.
Em setembro de 2018, o empresário Assad Ahmad Barakat, acusado pelos Estados Unidos de ser um financiador do Hezbollah, foi preso em Foz do Iguaçu por pedido da justiça paraguaia. O empresário é acusado também de financiar o atentado à Associação Mutual Israelita- Argentina em Buenos Aires, em 1994. Os acusados desse atentado teriam entrado na Argentina através de Foz do Iguaçu.
“O Brasil corre o risco interno de atentados. Prova disso são as prisões de pessoas ligadas ao Hezbollah. No Peru, também houve prisões. Essa é a consequência de, com declarações, importar no Brasil o conflito internacional. Isso coloca em risco a segurança da comunidade judaica”, avisa Fernando Lottenberg.
O Presidente argentino, Javier Milei, classificou recentemente o Hamas como grupo terrorista e acusou o Irão de estar por trás dos atentados em Buenos Aires em 1992 e 1994.
Através do jornal Tehran Times, porta-voz da república islâmica, Teerão avisou que “não vai esquecer a política anti-iraniana de Buenos Aires” e que “fará a Argentina arrepender-se da sua inimizade com o Irão”. Em Buenos Aires, a advertência foi interpretada como uma ameaça de um novo atentado.
“Eu acho que nunca se deve minimizar as ameaças. Todos os países, a Argentina entre eles, o Brasil também, e outros países da região, correm o risco de tentativas de desestabilização, de ataques, se não tomarem cuidados”, avisa Fernando Lottenberg em entrevista à Lusa.
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