‘JAM sessions’ é o espaço de opinião semanal de João Almeida Moreira, correspondente de A BOLA no Brasil
Carlo Ancelotti fica até à noite de amanhã, domingo, no Hotel Grand Hyatt, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, de frente para o Oceano Atlântico. Com 120 m2 de área, fora os 33 m2 da varanda, salas de estar e de jantar, banheira de imersão com televisão, pequeno almoço no quarto e cocktails ao longo do dia incluídos, a diária na suite Diplomata onde está alojado custa cerca de 660 euros.
Quando sair do hotel, terá uma mansão na mesma região do Rio à disposição, além de jato fretado para realizar viagens à Europa, salário à volta de 630 mil euros, o dobro do de Tite, o selecionador nos últimos dois Mundiais, e prémio de quase 800 mil em caso de vitória na Copa, a obsessão da Confederação Brasileira de Futebol e do povo brasileiro.
A atravessar jejum de 24 anos, idêntico ao que interrompeu em 1994, nos mesmos Estados Unidos que são sede do próximo Mundial, o Brasil parece sem identidade desde que em 2022 caiu aos pés da Croácia nos penáltis.
Ramon Menezes, Fernando Diniz e Dorival Júnior, os três antecessores de Carletto, falharam nos resultados, nas exibições e, mais grave, na construção de uma equipa. Os três optaram por ir convocando os melhores do momento, uma prática aplaudida por boa parte da crítica e da torcida brasileiras porque no Brasil há uma quantidade imensa (e única) de selecionáveis, em detrimento da estabilidade nas chamadas.
Com isso, dos 26 eleitos de 2022 no Qatar só uma minoria — os inevitáveis Alisson, Vinícius, Marquinhos, Bruno Guimarães, Raphinha e pouco mais — continuaram a fazer parte do grupo repetidamente. Porque os citados treinadores entre Tite e Ancelotti, assim como as citadas imprensa e torcida, adoram terras arrasadas e revoluções, desconhecendo que esses são normalmente os caminhos mais longos para a retoma do sucesso.
De sucesso, entretanto, Ancelotti entende. E, por isso, mesmo ainda sem os lesionados Neymar ou Militão, tratou de basear a sua primeira convocatória na última convocatória de Tite, isto é, nos tais 26 do Qatar. A Alisson, Vinícius, Marquinhos, Bruno Guimarães ou Raphinha juntam-se Danilo, Alex Sandro, Casemiro, Antony e Richarlison, um quinteto sem o frescor da novidade mas com a garantia da experiência que todas as melhores equipas do italiano — e todas as seleções brasileiras que levantaram a taça — foram exibindo.
Primeiro, a base. Depois, o telhado, os acabamentos, a decoração. Ancelotti sabe-o como ninguém — por isso é pago principescamente, dorme em mansões e nos melhores quartos dos melhores hotéis. E, caso o italiano tenha êxito, chegue à final de New Jersey no dia 19 de julho e a ganhe, o pesado investimento em alojamento, ordenados e prémios será alegremente esquecido pelo organismo e pela população — e, provavelmente, até renovado.
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