Os funcionários públicos em Angola contam com um aumento salarial de 25% desde janeiro deste ano. Estes valores começaram a cair nas contas bancárias desta classe desde o mês passado. Mas esta força de trabalho diz que os reajustes não trouxeram nenhuma transformação económica nas suas vidas face à inflação.
Adão Dala é professor do sexto grau do ensino primário e secundário desde 2016 em Malanje. Até dezembro de 2024, auferia o salário de 260 mil kwanzas, o equivalente a 260 euros. Com o reajuste salarial de 25%, o ordenado mensal de Dala subiu para 325 mil kwanzas, equivalente a 325 euros.
Mas para este docente, o valor não teve um impacto positivo na transformação económica das famílias, face à subida galopante dos preços dos produtos da cesta básica em Angola. “E nós estamos a falar de professores, um número demográfico dentro do seu agregado familiar que não se adequa aos 25%”, diz.
Inflação é o maior vilão
Para o economista Carlos Rosado de Carvalho, a inflação é o maior vilão para os angolanos. “Isso não são aumentos coisíssima nenhuma e nem sequer serve para repor o poder de compra de 2022”, afirma.
“Relativamente ao ano passado, a inflação foi de 27,5%, o aumento foi de 30%,mas não podemos esquecer que os salários estão congelados desde o ano de 2022. Portanto, a isto podemos chamar o que quiser, atualização qualquer coisa, mas isto não é um aumento salarial”, acrescenta o especialista.
Sindicatos falam em “injustiça”
O secretário-geral da Central Geral de Sindicatos Independente Livres de Angola, Francisco Jacinto, não está contente com o aumento, porque os valores já não tem o mesmo peso desde maio do ano passado, altura em que chegaram a um acordo com o Governo que previa o cumprimento de sete pontos que constavam das reivindicações.
Destes, apenas três foram cumpridos: aumento salarial de 25% na função pública, reajuste do salário mínimo nacional e subsídios aos funcionários que trabalham em zonas recônditas.
“O que se pratica aqui no nosso país é uma questão de injustiça evidente”, considera Jacinto.
Greve à vista em Benguela?
Já Ademar Ginguma, secretário do Sindicato dos Professores, diz que o executivo tem de cumprir os acordos.
Por exemplo, em Benguela, mais de 800 professores que trabalham no município de Kaimbambo não foram contemplados com os retroativos referentes aos subsídios para zonas recônditas. Na semana passada, estes professores paralisaram as aulas. “Se o governo não pagar lá no município, eles vão executar a segunda e depois a terceira fase”, diz Guinguma.
O secretário do Sindicato dos Professores espera “que o governo não deixe que as crianças fiquem sem aulas” neste momento derradeiro. “Estamos a caminhar para o fim do segundo trimestre e depois o último trimestre tem pouco tempo, então já não seria de bom ter estas paralisações”, conclui.
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