Ataque hacker ao Paraguai causa saia justa ao Brasil

As relações diplomáticas entre Brasil e Paraguai vivem o pior momento, em muitos anos, por causa da denúncia de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) realizou um ataque hacker para roubar dados sigilosos de autoridades paraguaias sobre as negociações relacionadas à tarifa da hidrelétrica de Itaipu, administrada pelos dois países. A repercussão do episódio motivou uma reunião entre o chanceler Mauro Vieira e o ministro das Relações Exteriores paraguaio, Rubén Ramírez Lezcano, para prestar esclarecimentos. Os dois países, porém, tentaram reduzir a importância do problema.

O ataque hacker foi divulgado pelo colunista Aguirre Talento, do portal UOL, ontem. Segundo uma investigação da Polícia Federal (PF), agentes da Abin lançaram uma onfensiva contra computadores do Congresso e da Presidência da República do Paraguai para obter informações confidenciais.

O objetivo seria auxiliar na negociação sobre a tarifa da compra da energia excedente de Itaipu, cujo valor o Paraguai pretendia aumentar. O acordo foi fechado em maio de 2025, quando o Brasil concordou em pagar mais pela energia comprada do país vizinho, mas menos do que o pedido pelo governo paraguaio.

Em nota, o Ministério das Relações Exteriores (MRE) negou envolvimento do atual governo na operação. “O governo do presidente Lula desmente, categoricamente, qualquer envolvimento em ação de inteligência, noticiada hoje (ontem), contra o Paraguai, país membro do Mercosul com o qual o Brasil mantém relações históricas e uma estreita parceria”, frisa o texto.

“A citada operação foi autorizada pelo governo anterior (de Jair Bolsonaro), em junho de 2022, e tornada sem efeito pelo diretor interino da Abin em 27 de março de 2023, tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato”, acrescenta a nota do MRE.

Segundo o depoimento de um servidor da Abin envolvido na operação, e coletado pela PF, o ataque ocorreu durante a gestão do atual diretor da agência, Luiz Fernando Corrêa, indicado ao cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Agentes da Abin teriam viajado para o Chile e para o Panamá para montar os servidores utilizados na ofensiva hacker. O governo negou que a autorização tenha partido da atual gestão.

“O atual diretor-geral da Abin encontrava-se, naquele momento, em processo de aprovação de seu nome no Senado Federal, e somente assumiu o cargo em 29 de maio de 2023”, salienta o MRE.

O caso foi descoberto pela PF no inquérito para investigar irregularidades na gestão do ex-diretor-geral da Abin, o hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), também investigado no Supremo Tribunal Federal (STF) por participação em uma tentativa de golpe de Estado.

Conversa

Para conter os danos da operação, Mauro Vieira entrou em contato com Rubén Lezcano. Segundo o ministro paraguaio, o chanceler brasileiro negou, categoricamente, que o governo federal tenha autorizado a ação de espionagem. Em nota divulgada após a conversa, o governo do Paraguai disse não ter qualquer tipo de evidência das invasões, mas afirmou que o caso está sendo investigado.

“Temos a tranquilidade de que as informações que administramos no âmbito de nossas negociações internacionais estão resguardadas. Estamos trabalhando ordenadamente e com todos os elementos que nos permitam proteger a informação de nosso país”, salientou Lezcano.

O ministro paraguaio disse, ainda, que a diplomacia do seu país não se baseia em publicações na imprensa e que todos os canais de comunicação com o Brasil são de caráter institucional e oficial. Lezcano também “ratificou as boas relações entre os dois países”.

 Preços só sobem

A hidrelétrica de Itaipu é gerenciada por Paraguai e Brasil, que compra a energia excedente do país vizinho. Os termos da venda foram renegociados nos últimos anos, com os paraguaios cobrando uma tarifa maior, de cerca de US$ 22 por kW, em relação aos US$ 16,70 kW que eram desembolsados pelo lado brasileiro. Em maio de 2024, os dois países fecharam um acordo e reajustaram o preço em 15,4%, chegando a US$ 19,28 por kW. Também se comprometeram a rever o Anexo C do tratado de Itaipu, que define as bases financeiras da geração de energia da usina. Para o Brasil, os preços deveriam estar baixando e não subindo.

 


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