No domingo, 25 de maio, o regime de Nicolás Maduro sofreu mais uma derrota contundente. Com o objetivo de virar a página da humilhante derrota nas eleições presidenciais de 28 de julho de 2024, o regime convocou de forma antecipada “eleições” parlamentares e de governadores completamente manipuladas e em violação a todas as leis eleitorais da Venezuela. Acreditaram que essa manobra ajudaria a criar uma imagem de “normalidade” no país; mas o tiro saiu pela culatra.
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O que aconteceu no dia 25 de maio foi um ato de desobediência massiva, militante, consciente e corajosa. Um dos maiores da nossa história. Apesar das ameaças do regime — que tentou coagir os eleitores com a suspensão da entrega de cestas básicas e de bônus governamentais, e ameaçou punir servidores públicos sob sua vigilância mais estrita —, o único resultado foi que mais de 85% dos venezuelanos (a maior taxa de abstenção já registrada em uma eleição na história do país) disseram NÃO.
É crucial compreender a profundidade desse fato.
Imaginem um país em que o governo decide quais partidos podem registrar candidatos; determina quem está habilitado a concorrer e quem não está; impede a auditoria do registro de eleitores e das urnas eletrônicas; inventa uma circunscrição nacional inconstitucional; cria um novo estado (Essequibo) com um território que está sob controle de outro país (Guiana); persegue, desaparece e prende todos os líderes críticos ao regime…
Num cenário desses, NENHUM opositor real legitimaria uma farsa desse tipo. Pois bem, foi exatamente isso que aconteceu na Venezuela. Apesar dos riscos de represálias, o povo desobedeceu em massa e se recusou a validar essa armadilha.
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Esse ato de repúdio à manobra grotesca do chavismo também deve ser entendido como uma reafirmação do voto como expressão da soberania popular, porque há apenas 10 meses, nas eleições presidenciais de 28 de julho, derrotamos Maduro por 70% a 30%, e estamos decididos a fazer valer esse mandato.
Enfrentamos regras eleitorais inconstitucionais e absurdas, desenhadas para nos impedir de vencer. Mas nos organizamos, enfrentamos, surpreendemos e vencemos — no terreno deles. E em 24 horas comprovamos nossa vitória com as atas originais em mãos e digitalizadas.
Diante de tamanha derrota, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), controlado por Maduro, ainda não apresentou um único resultado das mesas de votação, nem as atas sob sua custódia. Esse mesmo diretório abjeto e servil foi o responsável por organizar e executar a farsa de 25 de maio.
Uma farsa orquestrada, aliás, após meses de brutal repressão e perseguição política. Crimes contra a Humanidade, principalmente contra os membros da rede de testemunhas que conseguiu coletar as atas no dia 28 de julho. Mais de 2 mil pessoas foram vítimas de desaparecimentos forçados e torturas desde então. Mais de 30 foram assassinadas, e milhares de cidadãos inocentes estão hoje exilados, presos ou na clandestinidade — incluindo o presidente eleito Edmundo González, forçado a deixar o país para preservar sua integridade física.
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Em “eleições” como essa, o voto é o que menos importa: ele simplesmente não conta. Como era de se esperar, o CNE voltou a anunciar “resultados” sem apresentar uma única ata, enquanto seu site está fora do ar… desde 28 de julho!
Não nos surpreende que os cargos anunciados dois dias depois da tal “eleição” não correspondam aos votos que o próprio regime disse que cada grupo político recebeu. Aqui, não são os votos do povo que decidem, é o dedo de Maduro que escolhe e distribui cargos, tanto para os seus quanto para os “opositores” que se prestam à farsa.
Por isso, o que fizemos os venezuelanos no domingo, 25 de maio, não foi apenas cumprir o mandato soberano de 28 de julho — um mandato que faremos valer, custe o que custar. Foi um ato consciente e corajoso de defesa e reivindicação do voto, do voto verdadeiro, do voto que escolhe, do voto que expressa fielmente a soberania popular.
Ao esvaziar as ruas de toda a Venezuela, mostramos que o regime perdeu o poder. Não há poder onde não há povo. Nem mesmo com o terror conseguem fazer o povo baixar a cabeça. Desobedecer, resistir à pressão e não validar essa farsa é uma enorme demonstração da coragem e da inteligência do povo venezuelano.
O dia 25 de maio será lembrado como uma nova e avassaladora derrota para a tirania e seus cúmplices. E já é a quarta, dentro de uma sequência de vitórias populares que colocaram Maduro e seu regime em sua maior vulnerabilidade:
- As primárias realizadas pela oposição democrática, sem a intervenção do CNE, em 22 de outubro de 2023, quando a força da organização cidadã recuperou a confiança no voto, após anos e anos de fraudes eleitorais, uniu o país, legitimou uma liderança e conferiu um mandato de luta pela liberdade;
- As eleições presidenciais de 28 de julho de 2024, quando superamos obstáculos inacreditáveis e demos a Maduro uma surra histórica, retirando dele toda legitimidade de forma irreversível;
- A Operação Guacamaya, que resgatou semanas atrás os reféns da Embaixada da Argentina, demonstrando as fraturas profundas dentro da estrutura repressiva do regime de Maduro; e
- O grande ato de desobediência popular de 25 de maio, que evidenciou a solidão e o vazio de poder do regime.
Hoje, a Maduro resta apenas a violência — e ela vem sendo aplicada em níveis tão brutais que já foi classificada como terrorismo de Estado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos e como crime contra a Humanidade pela Missão de Verificação de Fatos das Nações Unidas.
Seu único e último apoio é seu aparato repressivo — cada vez mais cercado, infiltrado e dividido, porque ninguém quer afundar junto com um navio em naufrágio.
A decisão de nossos aliados internacionais, especialmente do governo dos Estados Unidos, de aplicar com firmeza a justiça internacional e cortar os fluxos de dinheiro que sustentam a estrutura repressiva do regime, começou a surtir efeito, como mostram os fatos recentes. Nunca antes todos os vetores estiveram tão alinhados a favor da transição democrática na Venezuela.
É hora de avançar. Vamos 4 a 0 — e isso é ATÉ O FINAL!
*María Corina Machado é líder da oposição na Venezuela
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