O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu, nesta sexta-feira (23), em Brasília, o presidente de Angola, João Lourenço, em uma visita de Estado importantíssima, que celebrou os 50 anos das relações diplomáticas entre os dois países. Foram firmados acordos estratégicos nas áreas de segurança, energia, direitos humanos e agricultura. Mas, como já virou tradição na imprensa corporativa, esse marco para a política externa do Brasil foi solenemente ignorado pelos grandes conglomerados de mídia – que preferem gastar tinta e espaço editorial em intrigas palacianas, factoides e fofocas ministeriais.
Nem uma manchete, nem um destaque, nem uma análise que vá além da nota burocrática. A mídia comercial, sempre pronta a amplificar qualquer ruído que possa desgastar o governo Lula, demonstrou mais uma vez que está menos preocupados com o desenvolvimento nacional do que com a manutenção de uma narrativa hostil, baseada na sabotagem sistemática de qualquer avanço do país.
Ignorar Angola é ignorar o próprio Brasil. O país africano não apenas compartilha conosco a língua portuguesa e a participação na CPLP, como também é uma das matrizes culturais mais profundas da nossa identidade nacional. O samba, expressão máxima da cultura brasileira, nasceu da influência direta dos ritmos bantos trazidos por povos de Angola e do Congo. Nossa musicalidade, nossa religiosidade, nossa língua, nossa culinária, nossa forma de estar no mundo – tudo isso tem raízes africanas, em especial angolanas.
Mais do que laços culturais e históricos, Angola é também um parceiro econômico e geopolítico estratégico. Ainda que tenha decidido, no fim de 2023, deixar a OPEP – por considerar que suas cotas de produção estavam sendo limitadas de forma injusta – Angola continua sendo um dos maiores produtores de petróleo do mundo, com reservas imensas e papel central no mercado energético global. Atualmente, o país produz cerca de 1,1 milhão de barris por dia e segue sendo um dos atores mais relevantes da indústria petrolífera africana.
Durante a visita, Lula e Lourenço firmaram quatro acordos fundamentais. Um na área de direitos humanos, que fortalece a proteção de pessoas com deficiência, crianças e afetados pela hanseníase. Outro entre Petrobras e Sonangol, que reforça a parceria na área de energia, inclusive em pesquisa e transição energética. Um terceiro acordo trata da cooperação policial, focada no combate ao crime organizado transnacional. E um quarto, voltado à agricultura familiar, contribui para o desenvolvimento sustentável de regiões semiáridas em Angola.
Ignorar isso tudo não é apenas miopia jornalística. É cumplicidade com um projeto de país subordinado, dependente e apequenado. Felizmente, a diplomacia brasileira está em movimento e enxerga a África como aliada, que investe no Sul Global, que recupera o prestígio do Brasil no mundo e que busca construir uma ordem internacional multipolar e solidária.
Angola, com quem temos laços de sangue, de música, de história e de futuro, é parte central dessa estratégia. Quando Lula estende a mão ao continente africano, não está apenas fazendo política externa – está reafirmando a dignidade do Brasil e de seu povo. É exatamente isso que a velha imprensa se recusa a aceitar. Mas o Brasil mudou. E já entendeu quem está do lado do desenvolvimento soberano – e quem continua trabalhando contra ele.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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