Angola surpreendida com mediação do Qatar – DW – 20/03/2025

O Governo de Angola reagiu com surpresa ao encontro dos presidentes da República Democrática do Congo, Félix Tshisekedi, e do Ruanda, Paul Kagame, em Doha, no Qatar, fora da agenda da mediação de paz entre os dois países. O ministro das Relações Exteriores de Angola, Téte António, informou que o encontro aconteceu no mesmo dia em que a RDC enviou uma delegação a Luanda para negociações com o M23.

Téte António sublinhou que Angola continua comprometida com a resolução dos conflitos africanos, lembrando que, como presidente da União Africana, o país não abandonará os seus membros e continuará a buscar soluções para a paz no continente. O ministro ainda reforçou que, apesar da surpresa com a mediação do Qatar, Angola apoia todos os esforços para a paz, mas acredita que os problemas africanos devem ser resolvidos por africanos.

Recorde-se que, antes de assumir a presidência da União Africana, João Lourenço sugeriu que outro chefe de Estado assumisse a mediação entre a RDC e o Ruanda, devido à sua agenda carregada.

Em entrevista à DW, o analista político angolano Nkikinamo Tussamba disse que a mediação do Qatar é uma jogada de Paul Kagame para mostrar que não confia na mediação de Luanda e prefere contar com outros mediadores.

DW África: O que significa a entrada do Qatar no tabuleiro do xadrez diplomático concernente ao conflito no leste da RDC para a resolução do conflito?

Nkikinamo Tussamba (NT): Ao ir a essa mediação no Qatar demonstra claramente que Paul Kagame não confia e preferia ir para um outro lado.

DW África: E a mediação do Qatar tem pernas para andar? Vai alterar alguma coisa?

NT: Se tem pernas para andar ainda é muito cedo porque conseguimos perceber, entrelinhas, aquilo que foi o tom de voz do corpo Félix Antoine Tshisekedi, ou seja, estavam de facto no mesmo sítio, mas nem sequer se olhavam, o que significa dizer que é mais um show off neste processo. Pelo menos Paul Kagame está a passar uma imagem para a comunidade Internacional: “Eu não confio no processo de mediação de Luanda, muito menos no processo de Nairobi e posso confiar noutros atores”. O que significa dizer que é mais um show off. Até porque o M23 nem sequer foi chamado em Doha, o que significa dizer que continua de facto aqui a faltar um autor fundamental neste processo. Logo é um processo que não vai ter pernas para andar. Vai morrer daqui a pouco.

Sete razões da continuação do conflito no leste da RDCongo

To view this video please enable JavaScript, and consider upgrading to a web browser that supports HTML5 video

Só a ida de Paul Kagame até Doha surtiu efeito e obrigou com que Paul Kagame pelo menos sentasse a mesa de negociação com Tshisekedi. Agora temos que perceber se de facto confia no Qatar, mas pelo menos foi para lá. Agora vamos ver se o Paul Kagame se sentirá muito mais pressionado no sentido de fazer esse recuo.

DW África: Diz, portanto, que a mediação do Qatar vai falhar. O que é certo é que a mediação de Angola parece ter já falhado. Estava previsto o encontro entre as partes beligerantes no Leste do Congo, em Luanda, mas esse encontro não se realizou. Foi uma derrota para a mediação angolana?

NT: Temos que olhar para essa situação como é que Angola conseguirá contornar essa situação, tendo em conta que fica, de facto, uma imagem negativa.

DW África: São verdadeiras as notícias que circulam, que dizem que João Lourenço sugeriu retirar-se da mediação, uma vez que assumiu a Presidência da União Africana? Ele terá sugerido que outro país africano assuma a mediação neste conflito?

NT: Sim. Aquando da tomada de posse do Presidente João Lourenço, numa entrevista à parte, o Presidente João Lourenço, tendo em conta a sua responsabilidade enquanto Presidente da União Africana e convenhamos que o Presidente João Lourenço, neste momento, tem uma responsabilidade muito acrescida e não deve apenas olhar para a situação do Congo. É preciso olhar para toda a situação a nível continental e que nós sabemos que são vários desafios que o Presidente João Lourenço tem neste momento. Logo, inclinando-se apenas para República Democrática do Congo com certeza iria manchar o seu consulado e não é muito tempo, é apenas para um ano e sugeriu que houvesse aqui uma outra mediação.

Então penso que essa tentativa do Qatar estar a mediar isso vai no seguimento daquela intenção do Presidente João Lourenço em procurar de facto aqui uma outra mediação, tendo em conta a sua responsabilidade enquanto Presidente da União Africana.

 

 

Crédito: Link de origem

- Advertisement -

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.