Angola deve criar base de dados para traçar perfil de abusadores de menores

Ana Panzo, que lança hoje o livro “Crianças Vítimas de Abuso Sexual: Identificação, Assistência e Intervenção” – a sua segunda obra, depois de em 2020 ter lançado “Agressores Sexuais de Menores” -, disse que “à medida que os anos vão passando não são apenas os números que são alarmantes, mas acima de tudo a consumação dos atos, com as estratégias utilizadas pelos agressores”.

 

Os agressores situacionais, que encontram as crianças fora do seio familiar, geralmente associados a sequestros, são “muito reduzidos”, já que a maior parte dos casos de abuso sexual são cometidos por pessoas próximas, referiu a autora desta obra em declarações à Lusa, sublinhando que muitos dos agressores são familiares, vizinhos, professores, entre outros.

“Nós precisamos de começar a fazer estudos e, mais do que estudos, criarmos uma base de dados para a construção do perfil dos agressores que se encontram em Angola, tendo dessa forma maior sustentabilidade para identificar as causas”, disse.

Baseada nas suas pesquisas, Ana Panzo avança que os agressores atacam preferencialmente menores de 12 anos, afetando todo o país, com maior relevância nas províncias de Luanda, Benguela, Cuanza Sul e Bié.

Ana Panzo referiu que, neste livro, ao contrário da primeira obra em que se debruçava sobre os agressores sexuais, o foco são as vítimas, constatando que é alto o número das que se culpabilizam pelo que lhes aconteceu.

De acordo com Ana Panzo, esse sentimento é causado por familiares ou profissionais chamados a intervir na situação abusiva, “que pensam que estão a ajudar, mas não o fazem de forma assertiva”.

Afirmou, por exemplo, que nas esquadras nem todos os polícias estão preparados para entrevistar uma vítima de abuso sexual, sendo necessário especializar as pessoas que trabalham em instituições de atendimento, apesar de reconhecer a ausência de condições de trabalho nas esquadras e em hospitais.

O livro, com três capítulos, relata casos verídicos, que atendeu em consultório e outros divulgados pelos órgãos de comunicação social, sendo os que ocorrem em famílias de baixos rendimentos os que normalmente chegam ao conhecimento público, embora o problema afete todas as camadas sociais.

A psicóloga destaca ainda o aumento das denúncias e da consciencialização das pessoas, fruto de “trabalho árduo” dos meios de comunicação social e instituições governamentais e da sociedade civil.

“Hoje há maior divulgação, porque as pessoas vão elevando o nível de consciencialização das famílias, no sentido de denunciarem e não resolverem os assuntos internamente como faziam há alguns anos”, vincou.

“Nada justifica um ato abusivo contra um menor”, acrescentou, salientando que muitas vezes são apontadas questões culturais e que o Instituto Nacional da Criança angolano vem levando a cabo uma campanha que desincentiva o casamento com menores em algumas regiões do país, onde é aceitável este ato.

Em 2024, o Instituto Nacional da Criança registou 649 casos de violência sexual, através da sua linha de denúncias SOS — Criança, com Luanda a liderar a lista com 179 alertas, seguida de Benguela com 97.

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