“Angola deve adotar diplomacia de jogo de cintura” – DW – 04/03/2025

João Lourenço pediu, esta terça-feira, a Israel para abrir corredores humanitários que permitam o regresso de centenas de milhares de deslocados palestinianos às suas zonas de origem, na Faixa de Gaza.

Na abertura da cimeira extraordinária da Liga Árabe, na capital egípcia, o Presidente de Angola e da União Africana repudiou ainda “quaisquer tentativas de deslocalização do povo palestiniano dos seus territórios, da contínua política de expansão dos colonatos, da ocupação e anexação ilegal de território pertencente à Palestina”.

“Tendo a Liga Árabe um papel crucial na prossecução de iniciativas que visam o alcance de soluções pacíficas e duradouras para os dois países e a região, reitero, em nome da União Africana, o compromisso de juntos trabalharmos em prol do alcance de uma paz duradoura e sustentável no conflito que opõe Israel ao Hamas”, afirmou João Lourenço, citado pelo Jornal de Angola.

À DW, o analista angolano Osvaldo Mboco considera que a experiência de João Lourenço pode contribuir para os esforços de paz. Já relativamente à relação com os Estados Unidos, o analista defende que Angola deve adotar uma “diplomacia de jogo de cintura”.

Analista político angolano Osvaldo Mboco
Osvaldo Mboco: “O Estado angolano encontra-se numa posição complexa, com o regresso do Presidente Donald Trump”Foto: privat

DW África: Acredita que João Lourenço pode contribuir de forma positiva para a resolução da crise israelo-palestiniana?

Osvaldo Mboco (OM): Qualquer esforço político-diplomático para encontrar a paz e a estabilidade é importante. Mas a honestidade intelectual também é importante.

O conflito israelo-palestiniano é crónico e complexo, há vários fatores que contribuem para isso. Penso, ainda assim, que o Presidente João Lourenço, na qualidade de presidente da União Africana, pode, com a sua experiência, contribuir significativamente para os esforços que estão a ser feitos para alcançar a paz.

DW África: O Presidente dos EUA, Donald Trump, sugeriu no início de fevereiro transferir a população da Faixa de Gaza para países da região, principalmente para os vizinhos Jordânia e Egito. Que posição se espera da União Africana em relação a esta proposta aplaudida por Israel, mas duramente criticada no Médio Oriente?

OM: Espero que a União Africana tenha uma posição contrária à do Presidente Donald Trump. Porque esta é uma posição que viola o direito à autodeterminação dos povos e os princípios históricos de qualquer povo. Eu penso que, por África ter sido um continente que foi colonizado, onde há grandes focos de conflito, a visão da União Africana passará por respeitar os valores culturais e históricos daquele povo, que nasceu ali e continua ali.

DW África: Conseguirá João Lourenço manter uma posição equilibrada ou poderá sentir-se implicitamente pressionado pelos EUA, tendo em conta os investimentos americanos em Angola, nomeadamente o Corredor do Lobito?

OM: O Estado angolano encontra-se numa posição complexa, com o regresso do Presidente Donald Trump, em função do reposicionamento da política externa norte-americana, principalmente sobre o conflito entre a Rússia e a Ucrânia. Vimos, recentemente, o sentido do voto do Estado angolano na Assembleia Geral das Nações Unidas. Penso que é prudente e aconselhável que [Angola] mantenha uma posição de equilíbrio, respeitando o princípio da não-ingerência em assuntos internos. Ainda assim, com base nos vários interesses que Angola tem – e considerando o seu realinhamento político, aproximando-se a Washington e Bruxelas e distanciando-se um pouco de Pequim e Moscovo – o país fica numa posição [intermédia]. Angola deve adotar uma diplomacia de jogo de cintura, olhando em simultâneo para os vários interesses globais e para os interesses do Estado angolano.

Para quem vão os louros do cessar-fogo na Faixa de Gaza?

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