Angola abandona mediação entre República Democrática do Congo e Ruanda

A decisão foi anunciada esta segunda-feira, 24, em comunicado a que o JE teve acesso e que justifica a necessidade de Angola se concentrar em responsabilidades mais amplas que abrangem questões como a paz e segurança em todo o continente, o desenvolvimento de infra-estruturas e a promoção do comércio livre. João Lourenço preside há dois meses à União Africana.

Angola anunciou esta segunda-feira, 24 de março, que vai deixar a mediação do conflito, protagonizada pelo Presidente João Lourenço, entre a República Democrática do Congo (RDC) e o Ruanda para se concentrar em prioridades mais amplas no âmbito da União Africana (UA).

“Passados quase dois meses de ter assumido a Presidência pro tempore da União Africana, Angola considera a necessidade de se libertar da responsabilidade de medianeiro deste conflito do leste da RDC, para se dedicar de forma mais ampla às prioridades gerais definidas pela organização continental, que se prendem com a paz e segurança do continente no seu todo, às infra-estruturas, ao comércio livre continental, à luta contra as epidemias, endemias e pandemias, ao desenvolvimento económico e social e à justiça aos africanos e afro-descendentes através de reparações”, justifica um comunicado da Presidência da República enviado ao nosso jornal.

O documento recorda que, ao longo de várias rondas de negociações sob mediação angolana, foram registados “importantes progressos” a nível ministerial. Em Dezembro de 2024, salienta, a RDC comprometeu-se a neutralizar as FDLR. Por sua vez, o Ruanda aceitou retirar as suas forças armadas do solo congolês, onde tem apoiado o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23), para as linhas de fronteira entre os dois países.

“Sendo essas as principais reivindicações das partes, estavam assim criadas as condições para a Cimeira de 15 de Dezembro passado que teria lugar em Luanda, o que acabou por não acontecer por ausência do Ruanda”, afirma o documento.

João Lourenco trabalhou no sentido de haver negociações diretas entre o Governo da RDC e o M23, tendo conseguido o consentimento das partes para que a primeira ronda se realizasse dia 18 de março, em Luanda. A reunião não aconteceu. Foi, salienta o documento, “abortada in extremis por um conjunto de fatores, entre os quais “alguns externos e estranhos ao processo africano que decorria”.

Apesar do seu afastamento do processo, o governo angolano saúda “todas as ações” das Nações Unidas, de outros organismos internacionais e países  que possam contribuir para a resolução dos diferentes conflitos em África e para a paz, desde que “devidamente concertadas com os medianeiros designados, o Conselho de Paz e Segurança e com o Presidente da Comissão da União Africana”.

O comunicado a que o JE teve acesso termina com a presidência angolana informando que “nos próximos dias” serão dados, com a Comissão da União Africana, “os passos necessários” para se encontrar o país cujo Chefe de Estado, coadjuvado pela SADC, a Comunidade da África do Leste e os facilitadores, assuma a mediação do conflito entre a RDC e o Ruanda.


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