Ana luta há oito meses no Peru para recuperar os filhos. Diz que o marido os sequestrou – Observador
Está no Peru desde então e sem intenção de sair até recuperar as crianças. Desde janeiro que também não poderia fazê-lo. “Estou sob ordem de impedimento de saída do país porque o Fernando fez uma denúncia para eu pagar pensão de alimentos e com parte dessa denúncia pediu um impedimento de saída, apesar de não ser o meu país e não ter qualquer obrigação de cá estar”, refere.
Ana Gaivão falou com os filhos pela primeira vez a 26 de julho, por vídeochamada. Um mês depois, no dia 25, esteve com eles na casa da sogra, por duas horas. O encontro foi descrito em pormenor nas contas nas redes sociais que criou, com o nome “Ayuden a Mis Hijos” (“Ajudem os meus filhos”), para divulgar a sua história.
“Obrigaram-me a entrar sem carteira, sem telemóvel, sem nada e SOZINHA no apartamento da minha sogra, onde me informaram que tudo seria gravado”, lê-se na publicação. Entrou pelas escadas de serviço, passou por um detetor de metais e foi acompanhada por um segurança. “Durante toda a visita estiveram a minha sogra, uma segurança com cara de que me queria matar.” Ao tribunal Fernando Menéndez fez um relato diferente, em como Ana foi recebida pela mãe e agiu de “forma hostil.” Diz que o encontro foi acompanhado por seguranças femininas, para zelar pelos filhos e pela avó.
Ana nega a versão e acrescenta que o ambiente de “intimidação” se manteve noutras visitas, numa das quais diz ter sido impedida pela sogra de partir, tendo de chamar a polícia. Segundo a portuguesa, em muitas ocasiões foi impedida de entrar, ficando horas à porta, incluindo no aniversário do filho mais novo, a 15 de março. Juntou um pequeno protesto, cantando os parabéns rodeada de cartazes com frases como “Os meninos não são reféns”. Também chegou a ser impedida de entrar na escola que o mais velho frequenta em várias ocasiões.
15
De marzo de 2025.
Hoy Felipe cumple 3 años… y no está conmigo.Debería estar aquí, soplando sus velas, riendo, recibiendo abrazos y amor. Pero en lugar de eso, llevo 10 días sin verlo, sin saber dónde duerme, sin poder escuchar su risa ni sostener su manito mientras se… pic.twitter.com/1RUoxuQeia
— Ayuden a Mis Hijos (@AyudenAMisHijos) March 15, 2025
Ao Observador, Ana Gaivão alega que desde março que está a ser impedida de estar com os filhos. A 4 desse mês esteve pela última vez com o mais novo, que ainda viu por vídeochamada — “muito difíceis para as crianças” — na quinta-feira passada. O mais velho, de cinco anos, reencontrou numa sala de tribunal. O marido e a criança, recorda, chegaram acompanhados da mãe, da babysitter e de seguranças.
Na sessão o marido procurou “mantê-los afastados”. “Passou o tempo a tentar agarrá-lo, a dizer-lhe que não podia ir comigo. Quando se escapava arranjava maneira de o levar com uma distração, um doce ou à força”, acusa Ana. Ouvido em tribunal, o rapaz disse que queria viver com o pai, que este não quer que ele veja a mãe ou esteja na casa dela e que tinha “demasiadas” saudades. Questionado sobre se havia algo de que não gostasse nela, respondeu: “Não, o meu pai não gosta de algo da minha mãe.” O Observador, que teve acesso ao depoimento, reproduz aqui parte:
[Questionado pela juíza]
A tua mamã visita-te? Só vai ao meu colégio um pouco e quando a campainha toca vai-se embora, também visita a minha casa.
Tu gostas quando a tua mamã te visita em casa? Sim.
Sais a passear com a tua mamã? Não, não.
E porque não sais a passear com a tua mamã? Porque ela vive noutra casa e o meu papá não quer que eu viva com ela.
Sais com a tua mãe? Não, porque o meu papá não gosta de estar com ela e os meus pais estão a discutir.
Com quem gostavas de viver? Com o meu papá, para fazer todos os possíveis para que fique no Peru.
Queres ficar no Peru? Não, quero ir para outro país, a Espanha ou o Peru.
Gostas de ir ao colégio? Sim.
Com quem gostarias de viver? Com o meu papá, e depois estavam a discutir e depois disso a minha mamã levou-me para Espanha.
E depois disso? O meu pai levou-me para o Peru.
(…)
[Questionado pelo fiscal]
A tua mãe liga-te por telefone? Sim.
Com que frequência? Não sei.
A tua mamã vai ao colégio todos os dias? Quase todos não, alguns dias.
Gostavas de sair com a tua mamã para passear? É que o meu papá está a fazer todos os possíveis para que não o faça e a minha mamã também está a fazer todos os possíveis.
Gostavas de dormir uma noite em casa da tua mamã? Não posso.
Porque não podes? O meu pai não quer deixar que vá a sua casa, porque diz que a minha mamã me quer levar para a Espanha, mas a minha mamã não me quer levar para Espanha.
Desde que está no Peru, Ana Gaivão consultou dezenas de advogados e é acompanhada por um regularmente, mas também procurou apoio junto das representações portuguesas e espanholas. Por três vezes pediu ajuda da Embaixada Portuguesa em Lima, que inicialmente disse não poder fazer nada e que devia arranjar um advogado local. Depois do caso ter sido noticiado pela SIC, a 11 de março, conseguiu finalmente encontrar-se com o embaixador e o cônsul, que foram “muito prestáveis”.
A principal sensação de abandono vem atualmente de Espanha. “A autoridade central espanhola e a embaixada espanhola dizem que nós não somos cidadãos espanhóis e, portanto, é problema de outros. Eu vivi em Espanha, os meus filhos viviam em Espanha, eu pagava impostos em Espanha”, critica. “Foi uma lei europeia implementada em Espanha que permitiu que o pai dos meus filhos saísse com eles ilegalmente, mas agora ninguém se envolve.”
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