Essa é uma tendência: Além de Thiaguinho, em “Sorte”, IZA, Ellen Oléria e Linn da Quebrada estão entre nomes que resgatam matrizes do continente africano em suas obras.
Ao lançar o álbum “Sorte”, Thiaguinho não apenas inovou ao incorporar afrobeat ao samba, mas explicitou um elo cultural que muitos artistas negros brasileiros têm fortalecido: a conexão criativa com a África. Em entrevista ao Metrópoles, o cantor destacou: “Sempre fiz isso com melodias, mas dessa vez ficou mais explícito. O samba é um ritmo africano que abrasileiramos – esse projeto é uma devolução em forma de gratidão”.
A obra, que gerou a turnê homônima com datas no Brasil e exterior (incluindo shows em Angola em 2025), usa batidas sincopadas e tambores que remetem à Nigéria e Gana, países berços do gênero.
Por que essa tendência cresce?
O fenômeno não é isolado. Com o afrobeats dominando paradas globais (ex.: o nigeriano Rema com 1 bilhão de streams em “Calm Down”), artistas brasileiros revisitam suas raízes enquanto o mercado se abre. Para Thiaguinho, a explicação é orgânica: “Samba e afrobeats vêm da mesma matriz. Essa mistura é um reencontro”.
Já Tássia Reis, citada no livro “Catálogo de Cantoras Negras Brasileiras” (Luciana Oliveira, 2025), vê o movimento como afirmação política: “Quando canto ‘Preta D+’, falo de autoestima negra. Resgatar sonoridades africanas é devolver o protagonismo roubado”.
Legado e futuro
Projetos como o “Catálogo” – que mapeia 200 cantoras negras brasileiras – evidenciam como essas referências têm sido sistematizadas. Para Luedji Luna, uma das artistas catalogadas, “A música é um rio que liga o Brasil à África. Somos as correntezas desse fluxo”.
Com turnês como a de Thiaguinho em Angola e o festival Back2Black trazendo Tiwa Savage ao Rio em 2024, a troca se consolida. Como sintetiza Ayra Starr, estrela nigeriana que se apresentou em São Paulo em 2025: “O Brasil tem a cultura iorubá viva. Quero aprender com ela e mostrar nossas semelhanças”.
5 nomes que conectam o Brasil ao continente africano
- IZA: Pontes transatlânticas
Em “Afrodhit” (2024), a cantora uniu-se à nigeriana Tiwa Savage, “rainha do afrobeats”, na faixa “Bomzão”. A parceria simboliza a troca entre diásporas: “É sobre celebrar nossa ancestralidade comum através do ritmo”, explicou IZA em coletiva.
- Ellen Oléria: Afrofuturismo sonoro
Com o álbum “Afrofuturista”, a artista brasiliense explora tecnologias digitais sem abandonar raízes tradicionais: “Utilizamos recursos eletrônicos para ressignificar timbres e grooves africanos, projetando novos futuros para a negritude”.
- Linn da Quebrada: Águas e orixás
Em “Bom Mesmo É Estar Debaixo D’Água” (2022), a cantora baiana entrelaça cânticos iorubás com arranjos contemporâneos. Sua música “Oito” (2025) mantém essa linha, dialogando com culturas de matriz africana.
- MC Soffia: Rap como reexistência
Aos 16 anos, a rapper paulistana declarou em “África”: “África, onde tudo começou / África, onde está meu coração”. Suas letras educativas destacam figuras como a rainha Nzinga de Angola, combatendo apagamentos históricos.
- Nega Duda: Samba de roda como ritual
No Recôncavo Baiano, a cantora criou o Samba de Roda da Nega Duda, espaço que une música e debates sobre orixás. Seu trabalho preserva tambores e cantigas jêje-nagôs, resistindo à descaracterização.
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