Abin manda agente ao Paraguai para minimizar crise – 16/04/2025 – Mundo

A Abin (Agência Brasileira de Inteligência) enviou um oficial de inteligência em missão ao Paraguai com o objetivo oficial de “minimizar os impactos das notícias que vêm sendo veiculadas na imprensa brasileira e paraguaia” sobre ação de espionagem entre os dois países.

Segundo a justificativa para afastamento do agente, a viagem oficial a Assunção, capital do Paraguai, foi autorizada para contatos institucionais, com intuito de reforçar compromissos bilaterais.

A viagem aconteceu entre quarta-feira (9) e sábado (12), a um custo estimado de R$ 13,5 mil. O afastamento do agente foi publicado no Diário Oficial da União sem identificação nem detalhamento da missão.

A Folha questionou a agência sobre o envio do servidor ao Paraguai, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.

A iniciativa seria um esforço conjunto para redução de danos após vazamento de uma operação de espionagem planejada na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e executada também durante o governo Lula, de acordo com depoimento revelado pelo UOL.

Paralelamente, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, reuniu-se com o chanceler paraguaio, Rubén Ramírez, em Buenos Aires. Segundo postagem do Itamaraty, de sexta-feira (11), “trataram de formas para avançar na resolução de temas bilaterais, como as negociações sobre o Anexo C do Tratado de Itaipu, obras de infraestrutura e questões de segurança”.

Em pauta, também estavam “as apurações em curso no Brasil para esclarecer operação de inteligência determinada previamente em relação ao Paraguai, cujos resultados serão comunicados às autoridades paraguaias tão logo sejam tornados públicos”.

Em depoimento à Polícia Federal, ao qual à reportagem também teve acesso, um servidor da agência afirmou que a investida contou com autorização do atual diretor-geral da Abin de Lula, Luiz Fernando Corrêa —o que o governo brasileiro nega.

A ação hacker, executada fora do Brasil, teria resultado na captura de dados de diversas autoridades paraguaias. No depoimento, o servidor menciona, entre os alvos, os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados, além do chefe da Casa Civil paraguaio.

Reservadamente, servidores da Abin afirmam haver o receio de que o Paraguai descredencie a adida de inteligência, o que a obrigaria a encerrar a missão antecipadamente e retornar ao Brasil. O posto é ocupado por uma ex-chefe de gabinete do deputado federal e ex-diretor-geral da Abin Alexandre Ramagem (PL-RJ) —ocupantes de cargos da Abin têm os nomes mantidos sob sigilo.

Quando deixou a Abin para disputar as eleições, em 2021, Ramagem indicou para o cargo Victor Carneiro —apontado no depoimento do servidor como o diretor-geral da Abin à época em que a operação foi iniciada.

O caso veio à tona no dia 31 de março, exigindo uma reação das autoridades brasileiras. Em reunião na Casa Civil, ministério ao qual a Abin é subordinada, foi discutido o teor de uma nota divulgada, horas depois, pelo Ministério das Relações Exteriores.

No texto, o governo brasileiro afirmou que a ação foi autorizada, em junho de 2022, pela administração passada. Mas foi tornada sem efeito pelo diretor interino da agência —indicado por Lula (PT)— em 27 de março de 2023, “tão logo a atual gestão tomou conhecimento do fato”.

A pasta também afirmou que o atual diretor-geral da Abin esperava, naquele momento, o processo de aprovação de seu nome no Senado Federal, e que ele só assumiu o cargo em 29 de maio de 2023.

A PF vê com desconfiança o papel do atual diretor-geral da Abin, Luiz Fernando Corrêa, no caso. Ele e o diretor-geral interino à época da suposta espionagem, Alessandro Moretti, foram intimados a prestar depoimento nesta quinta-feira (17).

Investigadores têm levantado elementos para afirmar, entre outras coisas, que Corrêa já dava as ordens dentro da Abin antes mesmo de ter sido aprovado pelo Senado.

A ação contra o Paraguai aconteceu meses antes de o governo brasileiro fechar um novo acordo sobre os valores pagos ao país vizinho pela energia vendida ao Brasil, em maio de 2024. A PF abriu inquérito para investigar a operação e o vazamento de dados sigilosos.

Moretti e Corrêa sempre negaram participação em atos irregulares e disseram colaborar com as investigações. Nesta terça-feira (15), a Abin disse que Corrêa “está à disposição das autoridades competentes para prestar quaisquer esclarecimentos”.

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