A principal rota de cocaína para a Europa sai de um pequeno país da América do Sul e não pára de crescer
“A máfia albanesa ligou-me a dizer: ‘Queremos enviar 500 quilos de drogas.’ Se não aceitar, matam-te.” César (nome fictício) é um membro da Latin Kings, um gang criminoso de drogas do Equador, que foi recrutado por um polícia corrupto de combate às drogas para trabalhar para a máfia albanesa, uma das redes de tráfico de cocaína mais prolíficas da Europa.
De acordo com os britânicos da ‘BBC’, a máfia albanesa expandiu a sua presença no Equador nos últimos anos, atraída pelas principais rotas de tráfico do país: agora controla grande parte do fluxo de cocaína da América do Sul para a Europa. Embora o Equador não produza a droga, 70% da cocaína do mundo agora passa pelos seus portos, frisou o presidente equatoriano, Daniel Noboa.
A polícia local avançou ter apreendido uma quantidade recorde de drogas ilícitas em 2024, o que indicou que as exportações totais estão a aumentar. As consequências são fatais: em janeiro último houve 781 assassinatos, o mês mais mortal dos últimos anos, sendo que a maioria estava relacionados com tráfico de drogas.
César, de 36 anos, começou a trabalhar com os cartéis aos 14 anos. “Os albaneses precisavam de alguém para resolver problemas”, explicou. “Eu conhecia os guardas portuários, os motoristas de transporte, os supervisores das câmaras”, apontou, garantindo que os subornou para ajudar a contrabandear drogas para os portos do Equador vinda da Colômbia e Peru. É depois armazenada até que os empregadores albaneses tomem conhecimento de um contentor que vai sair de um dos portos com destino à Europa.
Há três métodos: esconder as drogas na carga antes que chegue ao porto, arrombar contentores no porto ou anexar as drogas nos navios no mar. César ganhava até 3 mil dólares por um trabalho, mas não era o único incentivo: “Se não fizer um trabalho pedido pelos albaneses, eles vão matar-te.”
Trabalhadores comuns, não apenas membros de gangs, ficam presos nessa cadeia de abastecimento. Juan, nome fictício, é um motorista de camião que um dia apanhou um carregamento de atum para o porto. “O primeiro sinal de alerta foi quando fomos ao armazém e só havia a carga, nada mais. Era um armazém alugado, sem nome de empresa”, lembrou. “Dois meses depois, vi no noticiário que os contentores cheios de drogas tinham sido apreendidos em Amsterdão. Nunca soubemos.” Alguns motoristas transportam drogas sem saber; outros são coagidos – se recusarem, são mortos.
Quase 300 toneladas de drogas foram apreendidas no ano passado – um novo recorde anual, de acordo com o Ministério do Interior do Equador. De acordo com o major Christian Cozar Cueva, da Polícia Nacional, “houve um aumento de cerca de 30% nas apreensões com destino à Europa nos últimos anos”.
Esse aumento nas remessas de cocaína tornou-a mais perigosa para aqueles envolvidos na cadeia de abastecimento. Juan apontou que as autoridades apreenderam um contentor no dia anterior com duas toneladas de drogas: “Antigamente eram quilos, agora falamos em toneladas.”
Os gangs europeus são atraídos para o Equador pela sua localização, mas também pelas suas exportações legais, que fornecem uma maneira conveniente de esconder cargas ilícitas. “As exportações de banana representam 66% dos contentores que saem do Equador, 29,81% vão para a União Europeia, onde o consumo de drogas está a crescer”, explicou o representante da indústria bananeira, José Antonio Hidalgo: há gangs que criaram empresas de importação ou exportação de frutas falsificadas na Europa e no Equador como fachada para atividades ilícitas.
A advogada Monica Luzárraga falou abertamente sobre o seu conhecimento de como essas redes operam. “Nos últimos anos, as exportações de banana para a Albânia cresceram muito”, disse, frustrada porque as autoridades não juntaram as peças: “A economia inteira aqui está estagnada. No entanto, um item que aumentou as exportações são as bananas. Então, dois mais dois é igual a quatro.”
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