“A imagem do país fica manchada” – DW – 14/03/2025

O impedimento da entrada de diversas personalidades em Angola, que ocorreu na quinta-feira (13.03) no Aeroporto 4 de Fevereiro, em Luanda, gerou polémica e críticas à atuação das autoridades angolanas. Entre os afetados estavam convidados para um evento parcialmente organizado pela UNITA, o que levantou suspeitas sobre motivações políticas por trás da decisão. A situação causou indignação dentro e fora do país, reacendendo o debate sobre o respeito aos direitos fundamentais e às normas internacionais de circulação.

Para o analista político Agostinho Sicato, este episódio representa um embaraço diplomático para Angola e pode ter repercussões na sua imagem internacional.

DW África: O que pensa sobre o que aconteceu ontem no Aeroporto 4 de Fevereiro em Luanda?

Agostinho Sicato (AS): Na verdade, foi mau para o país e um precedente bastante negativo. Isto coloca o país numa situação de embaraço diplomático. As entidades foram convidadas; foram observados todos os procedimentos normais, até porque para entrar em Angola não era necessário outros procedimentos, desde que os indivíduos tivessem os passaportes em ordem. No caso dos que pertencem à SADC, nem precisavam de ter visto. Saíram dos seus países, vieram a Angola e tiveram de passar um vexame. Isto coloca o país numa situação má. É um mau sinal para o Governo angolano.

DW: A imagem do país fica em xeque?

AS: A imagem do país fica manchada, até a imagem económica do país. O Presidente João Lourenço, nesta altura, é o Presidente da União Africana. Portanto, tudo o que pode acontecer no seu país são boas práticas para a atração da boa imagem. É isso que o Governo tem estado a fazer que é lutar para passar uma imagem positiva de Angola no estrangeiro. Portanto, isto aqui mancha e macula em definitivo a imagem de Angola. 

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DW: Algumas pessoas tiveram longas horas de espera até serem autorizadas a entrar no país. Outras terão sido mesmo deportadas. Essa situação é legal?

AS: Completamente ilegal tanto ao nível do direito interno quanto ao nível do direito Internacional. Afinal, essas pessoas não vieram fazer turismo. Eventualmente há caprichos de alguns que entendem que determinadas pessoas não podem entrar no país, como é o caso de Venâncio Mondlane, por exemplo, que foi um grande opositor nas eleições [moçambicanas] passadas com a FRELIMOque é amiga do partido que está no poder em Angola. Mas isso são relações interorganizacionais e, portanto, não podem beliscar a vida do país.

DW África: Acredita que o facto de o evento ser parcialmente organizado pela UNITA, da oposição em Angola, possa ter tido influência no que aconteceu?

AS: Infelizmente, por mais que tenha sido algo ocasional, a conclusão que se pode chegar é essa. E se for isso, é muito mau para o país, porque o país não pode estar dividido com ressentimentos organizacionais. Esses ciúmes políticos resvalam até para crimes, porque quando o Estado já impede direitos de cidadãos estrangeiros em participar numa conferência, isso ultrapassa todas as linhas até da relação que tem de contenda com o partido político na oposição e passa para o nível do direito da violação de direitos até de personalidade. Isso não é bom. Por tocar até individualidades externas, isso belisca a imagem do país, o que não é bom, porque o país precisa de estrangeiros para virem para Angola, para virem investir e, portanto, para isso não precisa de existir esta atitude negativa que desincentiva qualquer um que queira vir para Angola. 

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