Crédito, Governo do Uruguai, reprodução
- Author, Luiz Antônio Araujo
- Role, De Porto Alegre para a BBC News Brasil
Atravessando os rios Paraná e Uruguai a bordo de dois barcos, tinham apenas duas preocupações: manter o mais absoluto silêncio e remar com a máxima rapidez possível.
Tinham zarpado de portos situados no que é hoje a Argentina, armados pobremente de carabinas, sabres e adagas.
Se algum deles tivesse dúvida sobre o que os aguardava ao final da jornada, bastaria perguntar ao comandante da expedição.
Aos 40 anos, Juan Antonio Lavalleja passara três em uma masmorra na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro.
Sob a lei brasileira, não havia outra definição para qualquer tentativa de desmembrar o território nacional — exatamente o que Lavalleja e seus homens pretendiam fazer se chegassem à margem direita do Rio Uruguai.
A aventura por pouco não terminou em derramamento de sangue antes mesmo de começar.
Nas palavras de José Spikermann, um dos cronistas do grupo: “(…) ficamos entre dois barcos inimigos, um a bombordo e outro a estibordo, víamos seus faróis a muito pouca distância”.
Por volta de 23h de 19 de abril de 1825, o bando desembarcou na Praia da Agraciada, distante 370 quilômetros de Montevidéu.
Tinham “o aspecto de verdadeiros bandidos”, diria Atanasio Sierra, outro participante.
“Nesse momento, não pudemos menos que beijar o solo da Pátria”, relatou Spikermann.
Pátria, para Spikermann e seus companheiros, não era o Brasil. Nem Portugal, muito menos a Espanha.
Era a região situada entre os rios da Prata e Uruguai e os antigos limites meridionais do império português, anexada em 1821 por Lisboa e zelosamente conservada pelo Brasil após a independência.
Os expedicionários de Lavalleja pretendiam libertá-la do domínio brasileiro e devolvê-la ao seio da república independente proclamada em Buenos Aires.
Tinham o apoio mais ou menos explícito do governo e da elite portenha, que lhes brindaram com dinheiro, armas e propaganda ufanista nos jornais.
À primeira vista, a façanha de 19 de abril assemelhava-se a mais um episódio obscuro em séculos de guerras e escaramuças de fronteira.
Acabou provocando um conflito que, de 1825 a 1828, fixaria praticamente em definitivo os limites territoriais na região.
Para os uruguaios, é a Guerra do Brasil. Para os brasileiros, Guerra da Cisplatina. Para os argentinos, Guerra da Banda Oriental ou Guerra contra o Império do Brasil.
A campanha envolveu os dois Estados mais poderosos da América do Sul: o Império do Brasil, hoje Brasil, e as Províncias Unidas do Rio da Prata, que apoiaram os insurretos.
Acompanhando de perto os acontecimentos, estava o poder marítimo dominante desde o final das guerras napoleônicas, com fortes interesses na América do Sul: o Reino Unido.
Nenhum deles, porém, poderia prever de antemão o desfecho do conflito: a criação de um terceiro país, o Uruguai.
Bicentenário de expedição motiva celebrações em todo o Uruguai
Transcorridos dois séculos, a expedição de 1825 passou à posteridade como Desembarque dos 33 Orientais e é um dos mitos fundadores da nacionalidade uruguaia.
As celebrações da data ocorrem desde o início deste mês em todo o Uruguai.
Na Praia da Agraciada, hoje situada no departamento uruguaio de Soriano, um Comitê de Homenagem aos Libertadores de 1825 foi recebido no dia 19 com honras depois de recriar a travessia, partindo de Buenos Aires.
A solenidade foi encabeçada pelo presidente Yamandú Orsi.
“Se tivéssemos de pensar no significado desse acontecimento para a Guerra da Cisplatina, em primeiro lugar teríamos de nos localizar em um contexto em que havia múltiplas opções”, explica Ana Frega, professora titular de História do Uruguai da Universidade da República, de Montevidéu, por videoconferência, à BBC News Brasil.
“Os caminhos possíveis a respeito do desenvolvimento político da organização dos territórios na região não estavam claramente definidos”, complementa.
A área tinha sido palco de disputa sangrenta entre Portugal e Espanha por quase dois séculos.
Nesse intervalo, múltiplos tratados entre as duas potências haviam desenhado e redesenhado o mapa do território.
O primeiro desses textos, o Tratado de Tordesilhas, negociado em 1494 por Espanha e Portugal com o papa espanhol Alexandre 6º no papel de mediador, designara Laguna (hoje no Estado de Santa Catarina) como ponto máximo de expansão meridional de Portugal na América do Sul.
A ideia de um Brasil insular estimulou os portugueses a expandir seu domínio além do designado nos tratados.
“Desde os tempos coloniais, os portugueses pensavam que os rios das bacias do Prata e do Amazonas tinham divisores de águas muito próximos. Isso constituiria um espaço físico que configuraria uma Ilha Brasil”, afirma Cesar Augusto Barcellos Guazzelli, professor titular de História da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

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Bandeirantes e tropeiros empenharam-se em atingir o que lhes parecia o máximo limite natural, ou seja, o rio da Prata.
“Tordesilhas foi feito pelo papa, mas a natureza foi feita por Deus”, ironiza Guazzelli.
Os portugueses fundaram a Colônia do Sacramento em 1680, como uma cabeça de ponte na margem direita do Prata.
A cidade foi portuguesa por 97 anos, até 1777, quando acabou trocada com a coroa espanhola, nos termos do Tratado de Santo Ildefonso, pelos Sete Povos das Missões, hoje em território brasileiro.
Independência do Brasil e da Argentina reembaralhou cartas no Prata
Pouco mais de 30 anos depois de Santo Ildefonso, ao final da primeira década do século 19, as condições haviam mudado outra vez.
Na margem esquerda do Prata, Buenos Aires, antiga capital do Vice-reinado espanhol do Rio da Prata, expulsara as autoridades coloniais em 1810 e proclamara independência seis anos depois sob o nome de Províncias Unidas do Rio da Prata.
Os portugueses, por sua vez, viram as dificuldades espanholas no Prata como uma oportunidade.
Os exércitos de Dom João 6º avançaram sobre a margem direita do curso d’água em 1811 e 1817 — dessa última vez, para uma longa permanência.
Incapazes de expulsar o exército lusitano, os governantes de Buenos Aires continuaram reclamando soberania sobre a região, que chamavam pelo antigo nome colonial: Província Oriental.
Sem dar-lhes ouvidos, Dom João anexou o território ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Foi batizada de Província Cisplatina.
“Os nomes, aqui, são importantes. A Província Oriental estava a oriente de quê? Do antigo Vice-Reinado do Rio da Prata, parte da Espanha imperial. Ficava além do rio Uruguai”, ressalta Guazzelli.
E completa: “Por outro lado, quando se fala, como os portugueses, em Província Cisplatina, trata-se da região que fica do meu próprio lado do Prata”.
Independentemente do nome da província, a população autóctone falava sobretudo espanhol.
A maioria aprendera a desconfiar não apenas de coroas, mas de qualquer forasteiro que lhe exigisse obediência.
Expulsos de Buenos Aires, os espanhóis entrincheiraram-se em Montevidéu. O entorno rural, chamado de Campanha, cerrou fileiras com os revolucionários.
Em meio à guerra e à convulsão social, emergiu como líder José Gervasio Artigas (1764-1850), autoproclamado Chefe dos Orientais (Jefe de los Orientales).
Durante 10 anos, esse leitor de Thomas Paine e Jean-Jacques Rousseau fez guerra contra espanhóis e portugueses. A certa altura, passou a resistir ao centralismo de Buenos Aires.
Nas mãos dos revolucionários, a bandeira de Artigas
Artigas sustentava que os orientais deviam constituir uma república independente como parte de uma federação platina.
Era, em linhas gerais, a mesma proposta de caudilhos das antigas províncias espanholas de Santa Fe, Entre Ríos e Corrientes, desconfiados das intenções unitárias de Buenos Aires.
Em defesa da própria autonomia, Artigas e os chefes desses territórios constituíram exércitos guerrilheiros.
Em suas fileiras, havia forte presença de indígenas, afrodescendentes e camponeses. Horrorizado, o governo portenho chamava-os depreciativamente de montoneros (de montón, ralé).
Quase 150 anos depois, o xingamento seria adotado com orgulho na Argentina pela fração guerrilheira do movimento peronista.
Artigas tinha uma peculiaridade em relação aos caudilhos da margem ocidental: defendia a divisão de terras e a libertação dos escravizados alistados nas forças revolucionárias.
A primeira medida tinha propósitos sociais e militares: a Pátria seria melhor protegida se cada um de seus filhos pudesse tirar dela seu sustento.
Chegara a essa conclusão no início do século 19, como lugar-tenente do militar e naturalista espanhol Félix de Azara (1742-1821) em uma missão de demarcação de terras e fundação de assentamentos a mando da Coroa espanhola na região das Missões, hoje território brasileiro.

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A segunda proposta almejava reforçar as fileiras do exército oriental.
Refletia, no fim das contas, um fato consumado: de armas nas mãos, ninguém se deixa escravizar.
Esse programa radical atraiu para o Chefe dos Orientais a ira de todos os governos com interesses na região.
Enfraquecido pela divisão das próprias forças, Artigas emigrou em 1820 para o Paraguai, onde morreria afastado da política três décadas mais tarde.
Em 1825, o nome de Artigas havia se tornado anátema.
Lavalleja e alguns de seus lugares-tenentes, porém, haviam servido sob suas ordens.
A bandeira dos insurretos da Praia da Agraciada tinha as mesmas cores da de Artigas: azul, branco e vermelho.
A esse desenho, os expedicionários acrescentaram uma inscrição sobre a faixa branca: “Liberdade ou morte” (Libertad o muerte).
Após quatro meses, a declaração de independência
Na fase inicial da luta, sublinha Ana Frega, os revolucionários tinham duas tarefas centrais.
“Precisavam provar-se militarmente confiáveis e formar um governo que enviasse deputados da região ao Congresso das Províncias Unidas reunido em Buenos Aires”, enumera.
O avanço dos rebeldes foi fulminante: em 20 de abril tomaram Soriano, em 29 surpreenderam e capturaram o brigadeiro Fructuoso Rivera, comandante militar da Cisplatina, que aderiu à revolução, e em 14 de junho instalaram um governo provisório em Florida.
Montevidéu e Colonia, as principais cidades, caíram sob cerco e tiveram de ser abastecidas pela Armada brasileira por mar.
O governo da Província Cisplatina, encabeçado pelo tenente-general Carlos Frederico Lecor, visconde de Laguna, controlava apenas parte do litoral.
Em 25 de agosto, uma assembleia de representantes reunida em Florida declarou “írritos, nulos e dissolvidos todos os atos de incorporação e juramentos arrancados aos povos da Província Oriental”.
A região foi proclamada livre e independente “do rei de Portugal, do imperador do Brasil e de qualquer outro poder do universo, e com pleno poder para dar-se a forma de governo que estimasse conveniente”.
Em outras duas votações históricas, aprovaram-se a união às Províncias Unidas e a adoção da bandeira dos insurretos como pavilhão nacional.
Em setembro e outubro, a força terrestre brasileira sofreu duas graves derrotas.
Na primeira, em Rincón de Gallinas (Rincão de Galinhas), Rivera bateu o único contingente do exército imperial a operar no interior do país, que perdeu em combate o comandante, coronel José Luís Menna Barreto, de apenas 27 anos.
Na segunda, junto ao Arroio Sarandí (Sarandi), Lavalleja e Rivera dispersaram a força comandada pelos coronéis Bento Manuel Ribeiro e Bento Gonçalves e fizeram mais de 500 prisioneiros.
Mais de 60 anos depois, o Barão do Rio Branco, patrono da diplomacia brasileira, lamentaria: “O combate do Rincón foi o primeiro revés que sofremos, depois de continuadas vitórias nas campanhas do sul, de 1801 a 1820, quando tínhamos sobre os nossos vizinhos a superioridade da disciplina e da instrução militar”.
No final de outubro de 1825, o Congresso das Províncias Unidas aprovou a reincorporação da Província Oriental.
Em dezembro, o Brasil declarou guerra às Províncias Unidas, às quais acusava de estar por trás da revolução.
Depois de três anos de luta, sem que nenhum dos beligerantes conseguisse se impor decididamente sobre o inimigo, prevaleceu a solução de compromisso preconizada pelos ingleses.
Nasceu a República Oriental do Uruguai, tendo como fiadores os dois poderosos vizinhos, que se reservavam o direito de intervir no Estado recém-criado em nome da lei e da ordem.
O conflito consumiu homens e recursos do Império, contribuindo para o desgaste da imagem de Dom Pedro 1º na Corte e nas províncias.
As cicatrizes deixadas na província vizinha do Rio Grande do Sul teriam desdobramentos nas décadas seguintes.
A região das Missões chegou a ser ocupada por Rivera, partindo de Santa Fe, nos últimos meses da guerra, de abril a agosto de 1828.
“Ao recuar para o sul do Rio Quaraí, por disposição da Convenção de Paz, Rivera leva consigo boa parte da população indígena das Missões, com a qual vai colonizar as terras abandonadas pelos brasileiros no norte do Uruguai”, avalia Tau Golin, doutor em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) e autor de A Fronteira (L&PM), com quatro volumes publicados e um quinto no prelo.
Veteranos da Cisplatina como Bento Gonçalves, Bento Manuel e David Canabarro e outros sublevariam a província por 10 anos na Revolução Farroupilha (1835-1845).
“A Cisplatina foi a primeira guerra do Brasil independente contra um inimigo externo. Ao mesmo tempo, trouxe uma carga muito grande das disputas coloniais, ao ser resultado de uma expansão portuguesa”, diz Golin.
Nem 33, nem orientais
Autointitulados como Cruzada Libertadora, os combatentes de Lavalleja passaram à história sob a alcunha de 33 Orientais.
O título heroico permanece controvertido: não teriam sido 33, e nem todos seriam orientais no sentido corrente de nascidos na região hoje compreendida pelo Uruguai.
O número seria uma alusão ao grau máximo da maçonaria, à qual pertenciam muitos dos revoltosos.
Registros surgidos nos anos seguintes em 16 listas diferentes dão conta de até 59 nomes.
Faziam parte do grupo quatro argentinos, quatro paraguaios e pelo menos dois africanos.
Embora os veteranos tenham colhido reconhecimento público e muitos tenham seguido prestigiosas carreiras políticas e administrativas, o culto em torno do 19 de abril levaria mais de três décadas para emergir.
“Somente em 1860 começa-se a celebrar a data e se decide que isso é um feito histórico capaz de contribuir para a formação cívica dos habitantes do país em 1860”, assinala Ana Frega.
A primeira legislação sobre feriados no Uruguai, em 1834, estabelece como datas nacionais os dias 25 de maio (data da Revolução de Maio, com formação da Junta de Governo autônoma em Buenos Aires) e 18 de julho (quando foi jurada em 1830 a primeira Constituição uruguaia).
Outras duas festas eram observadas: 20 de fevereiro, data da vitória uruguaia na Batalha de Ituzaingó (no Brasil, Batalha do Passo do Rosário) contra o exército imperial em 1827, e 4 de outubro, quando, em 1828, representantes brasileiros e argentinos trocaram em Montevidéu a ratificação da Convenção de Paz.
A valorização do 19 de abril ganhará impulso durante o governo do presidente Bernardo Berro (1803-1868).
“Essa ideia vai surgir em um contexto preciso, depois da chamada Guerra Grande (1836-1851), como parte de um conjunto de medidas que tendem a ‘nacionalizar nossos destinos’, como diz Berro em um de seus discursos”, explica Ana Frega.
Tratava-se, para o governo uruguaio, de apresentar o Uruguai como uma nação plenamente independente.
Fica estabelecido que, a cada quatro anos, haverá uma grande festa em memória do desembarque de 1825 nos dias 18, 19 e 20 de abril.
A vigência da lei acaba adiada em razão da invasão do país pelo general colorado Venâncio Flores (1808-1868).
Flores planejava derrubar Berro e abortar sua política de conciliação entre blancos e colorados.
Em 1865, apoiado pelo Brasil e pela Argentina, Flores tomou Montevidéu e tornou-se ditador.
Lenda sobrevive na mais célebre pintura uruguaia
A lenda dos 33 sobreviveu na mais célebre tela produzida por um artista uruguaio: O Juramento dos Trinta e Três Orientais, de Juan Manuel Blanes (1830-1901).
Nascido em Montevidéu, Blanes estudou em Florença com o pintor Antonio Ciseri (1821-1891), preferido dos artistas sul-americanos de passagem pela Itália.
Além de Blanes, os pupilos de Ciseri incluíram o brasileiro Pedro Américo (1843-1905), o peruano Luis Montero (1826-1869) e os argentinos Ángel Della Valle (1852-1903) e Lucio Correa Morales (1852-1923).
Em um país unificado com Roma como capital, contra a vontade do Vaticano, e no qual a Igreja sofria forte oposição popular, Ciseri atraiu multidões à Galeria dos Uffizi com uma tela de temática a um só tempo religiosa e política: Ecce Homo (1871).
No quadro, Pilatos, mostrado de costas, inclina-se servilmente perante a multidão para consultá-la sobre o destino do prisioneiro Jesus.
As figuras das telas de Ciseri aparecem em poses dramáticas, sob luzes que parecem enfatizar ou obscurecer traços de personalidade.
“Blanes aprendeu em Florença essa teatralidade da pintura. Isso tornou-o muito famoso em Montevidéu e Buenos Aires quando regressou e pintou em 1871 Um Episódio da Febre Amarela em Buenos Aires“, afirma Laura Malosetti Costa, doutora em História da Arte pela Universidade de Buenos Aires e integrante da Academia Nacional de Belas Artes da Argentina.
Em O Juramento, o artista utiliza igualmente recursos plásticos variados a serviço de um propósito político: a pacificação do país.
“Blanes não escolheu pintar o desembarque dos 33, e sim um juramento. É um pacto cívico. As cores do quadro são muito equilibradas entre o branco e o vermelho (colorado). Os olhares dos orientais para o sol nascente indicam a mirada ao futuro”, diz Malosetti.
Assim como o presidente Bernardo Berro, o pintor pertencia a um grupo de intelectuais que preconizava o fim da brutal série de guerras civis entre os partidos Blanco e Colorado que sacudiu o Uruguai, com breves intervalos, de 1836 a 1904.
“O Juramento contém um programa político para toda a região. E digo mais: era um programa maçônico”, avalia Malosetti, referindo-se ao vínculo do artista com a maçonaria, explicitado em boa parte de sua produção.
A descoberta de O Juramento, em 1877, no ateliê de Blanes, foi um acontecimento nacional celebrado com uma cerimônia assistida pelo ditador Lorenzo Latorre.
O vernissage, na Sociedade de Ciências e Artes do Uruguai, teve visitação mediante venda de ingressos e distribuição nas ruas de folhetos com descrição dos personagens.
No ano seguinte, a tela atravessou o rio da Prata rumo à Argentina. A abertura da exposição em Buenos Aires teve a presença do presidente Nicolás Avellaneda (1837-1885).
A obra foi louvada pelo jurista Carlos Tejedor (1817-1903) e pelo ex-presidente Domingo Faustino Sarmiento (1811-1888).
O poeta José Hernández (1834-1836), autor de Martín Fierro, obra máxima da literatura argentina, pagou 10 pesos para contemplar O Juramento.
Em seguida, compôs em sua homenagem o poema Carta que o Gaucho Martín Fierro Dirige a Seu Amigo D. Juan Manuel Blanes a Propósito de Seu Quadro Os Trinta e Três.
Com 33 estrofes em estilo gauchesco, na voz de seu mítico personagem, a composição termina com os versos: “Conte se são trinta e três, / Se em meu cálculo não erro: / Com esta carta encerro, / amigo, me planto aqui. / Nem Cristo passou dali / Nem tampouco Martín Fierro”.
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