A caminhada que levou os humanos da Ásia à América

Um novo estudo detalhou a migração mais longa feita por humanos a partir de sequenciamento genômico, técnica que identifica as bases que formam a cadeia do DNA.

Da Ásia até a América

A pesquisa desvendou como foi a migração do norte da Ásia até o extremo sul da América do Sul. O estudo, publicado na revista científica Science no último dia 15, foi conduzido por 48 cientistas de 22 instituições de ensino, como a Universidade Tecnológica de Nanyang, em Singapura, e a Academia de Ciência Russa.

O estudo contou com o apoio do consórcio internacional GenomeAsia 100K, que trabalha para sequenciar e analisar genomas de 139 grupos étnicos de 27 países diferentes. Com o auxílio de dados coletados pelo consórcio, os cientistas analisaram 1.537 amostras sequenciadas do genoma completo de povos da América do Sul e nordeste da Eurásia —território que envolve a Europa e a Ásia.

No período geológico chamado Pleistoceno tardio, a presença humana se espalhou da África para a Eurásia. A primeira evidência de humanos modernos na região ocorreu há cerca de 45 mil anos, na Sibéria Ocidental.

Com novas migrações, o Homo sapiens desbravou terras ainda mais distantes. Os primeiros povos chegaram à América pelo Estreito de Bering, trecho que conectou o leste asiático ao extremo oeste da América do Norte.

Durante o final do Pleistoceno, os humanos se expandiram pela Eurásia e, eventualmente, migraram para as Américas. Aqueles que chegaram à Patagônia, no extremo sul da América do Sul, completaram a mais longa migração para fora da África.
Trecho do estudo publicado na Science

América do Sul tem 4 linhagens ancestrais

A avaliação permitiu que os cientistas compreendessem a história dos nativos americanos. “A análise desses dados mostrou que existem quatro linhagens ancestrais principais que contribuíram para os sul-americanos modernos”, diz o estudo. Segundo a pesquisa, as linhagens detectadas datam entre 10 mil e 14 mil anos atrás.

A partir dessas linhagens, o estudo identificou a dinâmica da história populacional nesses grupos. Segundo os especialistas, na América do Sul, por exemplo, os primeiros migrantes se dividiram em quatro grupos: amazônicos, andinos, ameríndios do Chaco e patagônios, em populações que viveram há cerca de 13.900 anos. “Essas descobertas destacam como a história populacional e as pressões ambientais moldaram a arquitetura genética das populações humanas no norte da Ásia e na América do Sul”, diz a pesquisa.

Os cientistas descobriram, também, que a longa migração reduziu a diversidade genética da população ao longo dos anos. Essas alterações genéticas causaram uma redução da imunidade a doenças infecciosas para os humanos migrantes.

A migração mais longa [dos povos originários] levou ao declínio populacional, enquanto o assentamento nos diversos ambientes da América do Sul causou isolamento espacial instantâneo, reduzindo a diversidade genética e imunogênica.
Trecho do estudo publicado na Science

Nos últimos 10 mil anos, todas as quatro linhagens nativas da América do Sul sofreram declínios populacionais, segundo os cientistas. Junto ao declínio —que variou entre 38 a 80% entre as linhagens—, a perda de estilos de vida, de práticas culturais e dos idiomas tradicionais fez com que algumas comunidades indígenas ficassem “à beira da extinção”.

A pesquisa indica que a diversidade genética da América do Sul é menor em relação à observada no norte da Eurásia. Além do isolamento geográfico, a população indígena americana enfrentou um “profundo desafio” com a chegada dos colonizadores europeus, o que, segundo os especialistas, introduziu novos obstáculos que ameaçaram a sobrevivência dessas populações em suas linhagens originais.

Com os resultados, os especialistas buscam alertar as autoridades de saúde em relação à proteção de povos originários. Segundo o estudo, as alterações genéticas descobertas podem ajudar na mitigação da disseminação de doenças contagiosas entre essas populações. “Muitas populações indígenas são pequenas e geneticamente únicas”, declarou Hie Lim Kim, coautora do estudo, ao portal Live Science.

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