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Depois de oitos anos do encerramento de suas operações de varejo em Portugal, o Banco do Brasil admite, em nota enviada ao PÚBLICO Brasil, estar aberto para avaliar um possível retorno ao país. A saída do BB do território luso, em 2017, se deu exatamente no momento em que se iniciava o fluxo de brasileiros cruzando o Atlântico. Naquele ano, pelos registros do Governo português, havia 85.426 brasileiros morando oficialmente em Portugal. No final de 2023, pelos cálculos do Itamaraty, eram 513 mil — um aumento de 500%.
À época, o Banco do Brasil alegou, para o fechamento de todas as agências de varejo na Europa, que não havia escala para sustentar o negócio na região. Manteve aberto apenas alguns escritórios, inclusive em Lisboa, para operações de comércio exterior e de clientes de altíssima renda. Os ventos, no entanto, mudaram, e Portugal se tornou destino de brasileiros com bom poder aquisitivo, muitos com formação de nível superior, empresários, banqueiros e aposentados.
Se as projeções de especialistas estiverem corretas, em abril, quando a Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA) deve divulgar os números mais recentes da imigração, o total de brasileiros documentados será muito maior. Há quem se arrisque a falar em 1 milhão de cidadãos, quando incluídos os luso-brasileiros, aqueles que têm dupla cidadania, mas não entram nas estatísticas de estrangeiros residentes. Ou seja, está se falando em quase 10% da população atual de Portugal.
Diz a instituição ao PÚBLICO Brasil: “O Banco do Brasil está presente em Portugal desde 1972, fomentando o comércio exterior brasileiro e apoiando a comunidade luso-brasileira. No curso regular dos negócios, o BB revisa constantemente sua atuação internacional, considerando as oportunidades identificadas, mudanças nos fluxos de comércio internacional, acordos comerciais firmados pelo país e retorno esperado das operações, e está aberto a avaliar propostas que façam sentido e gerem sinergia dentro de seu modelo de atuação e estratégia de negócios”.
Como ressalta uma fonte do banco, quando se olha para essa declaração, é preciso entender os sinais que a instituição está emitindo. Já um integrante do Governo brasileiro destaca que, como empresa de capital aberto, com ações negociadas em Bolsa de Valores, o BB precisa ser muito cauteloso em seus posicionamentos públicos, para não provocar oscilações bruscas nos preços dos seus papéis. Esse técnico governamental, com trânsito livre no Palácio do Planalto, assegura ainda que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer muito a volta do Banco do Brasil ao varejo bancário de Portugal.
Mercado em expansão
As primeiras sondagens do Banco do Brasil junto ao Banco de Portugal para um possível retorno ao varejo bancário do país ocorreram há dois anos, mas não prosperaram muito, asseguram diplomatas da embaixada brasileira em Lisboa. “Naquele momento, a conversa entre o BB e a instituição responsável por regular e fiscalizar os bancos no país não foi boa”, conta um desses diplomatas. “Contudo, no atual Governo, as portas voltaram a se abrir para um entendimento futuro”, complementa.
O Banco do Brasil está tão cauteloso em relação ao tema que, quando consultado durante as negociações sobre a pauta da XIV Cimeira Luso-Brasileira realizada em fevereiro, em Brasília, se queria incluir um possível retorno para Portugal nas discussões entre os governos, pediu para que nada fosse falado. “Entendemos que a opção foi a de deixar o assunto no campo técnico e não dar um tom político a ele”, destaca o mesmo diplomata. “Vamos ver como tudo se desenrola daqui por diante. O que podemos dizer, por tudo que temos visto, é que mercado há”, frisa.
É o próprio Banco de Portugal quem dá a dimensão do que o BB pode encontrar no varejo bancário do país: em 2024, entre os estrangeiros, os brasileiros foram os que mais tomaram crédito para a compra da casa própria. Esse é o tipo de operação que as instituições financeiras adoram, por ser de longo prazo, isto é, mantém os clientes vinculados por um bom período, o que pode resultar em demanda por outros serviços, como cartão de crédito, financiamento para a compra de carros e seguro de vida.
A Embaixada do Brasil em Portugal vê o Governo luso muito favorável não só à chegada de brasileiros com bom poder aquisitivo, mas também de empresas e bancos dispostos a investir no país. Na passagem por Brasília e São Paulo durante a Cimeira, o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, conclamou aos brasileiros que aproveitassem as oportunidades de negócios no país dele. O convite valia, inclusive, para o sistema financeiro, hoje, em boa parte, nas mãos dos espanhóis. As instituições brasileiras são altamente competitivas no setor.
Para o técnico do Governo brasileiro e os diplomatas ouvidos pelo PÚBLICO Brasil, um possível retorno do BB ao varejo bancário de Portugal se daria pelo modelo tradicional, quer dizer, pela abertura de agências. Uma delas poderia ficar na Casa Brasil, que será inaugurada em breve em Lisboa sob a liderança da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil). Em contrapartida, bancos brasileiros privados, como Itaú e BTG Pactual poderiam disputar o controle do Novo Banco, que será vendido ainda em 2025.
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