Ausência do M23 é um “fracasso diplomático” para Angola – DW – 19/03/2025

O grupo rebelde M23 já tinha anunciado, na segunda-feira (17.03), o cancelamento da sua ida a Luanda, citando entraves colocados por “instituições internacionais”, depois de sanções da União Europeia.

Apesar do anúncio de cancelamento da vinda a Luanda, o Governo angolano manteve, até ao fim, a esperança de mediar, esta terça-feira, um encontro entre o Governo congolês e o o Movimento 23 de Março (M23).

Mas os representantes do grupo rebelde não apareceram. O Ministério das Relações Exteriores informou, em comunicado, que não foi possível realizar o encontro “por motivos e circunstâncias de força maior”.

Ainda assim, o Governo angolano refere que, na qualidade de mediador, “continua a envidar todos os esforços para que o referido encontro se realize em momento oportuno, reafirmando ser o diálogo, a única solução duradoura para a pacificação no leste da República Democrática do Congo”, lê-se na nota a que a DW teve acesso.

No mesmo dia, os Presidentes da República Democrática do Congo (RDC) e do Ruanda, Félix Tshisekedi e Paul Kagame, estiveram reunidos em Doha, sob a mediação do Qatar, onde reafirmaram o empenho de todas as partes num cessar-fogo “imediato e incondicional” e estabelecer “bases sólidas para uma paz duradoura”, de acordo com um comunicado divulgado no final do encontro.

Sanções da União Europeia

O analista político David Sambongo considera que as sanções da União Europeia (UE) contra nove pessoas ligadas às recentes ofensivas do M23 no leste do Congo colocaram um grande obstáculo ao processo de paz de Luanda.

Só o encontro poderia ditar sanções, ou não, contra o grupo rebelde apoiado pelo Ruanda, comenta David Sambongo. “Para este momento em que se conseguiu o contacto com o M23, seria fundamental que as sanções fossem canceladas, para permitir com que as lideranças do grupo entrem em negociação direta com o Governo congolês”, diz.

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O analista sublinha que o M23 é uma peça fundamental neste processo, “um ator substancial para a diminuição das hostilidades” na República Democrática do Congo.

“Ainda assim”, acrescenta, “é preciso frisar que o M23 não é o único movimento a ter em conta no conflito na RDC. Este é um conflito bastante profundo, que exige uma profundidade analítica, sobretudo de questões geopolíticas, geostratégicas, antropológicas e étnicas.”

“Para o M23, Angola já não é um palco seguro”

Para o analista angolano Feliciano Lourenço, a ausência do M23 em Luanda é um “fracasso diplomático” de Angola, como mediador do conflito. Feliciano diz que o país não conseguiu garantir nem confiança, nem segurança ao grupo rebelde.

O incidente diplomático registado, na semana passada, no Aeroporto Internacional 4 de Fevereiro, em Luanda, com o Estado a bloquear a entrada no país aos ex-presidentes da Colômbia, Botswana e ao político moçambicano Venâncio Mondlane, terá pesado na decisão do grupo rebelde. 

“São pontos que parecem insignificantes, mas levam à reflexão. Para o M23, Angola já não é um palco seguro. Eu continuo a defender que um país neutro devia fazer essa negociação de paz, e não Angola”, defende o analista.

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No fim de semana, o Presidente angolano apelou às partes envolvidas no conflito na República Democrática do Congo a cessarem as hostilidades a partir das 0h00 deste domingo, mas os confrontos não cessaram. 

Feliciano Lourenço entende que o fim das hostilidades dependerá dos objetivos do M23. O comentador político angolano apela a que as negociações continuem, apesar do cancelamento do encontro de Luanda, porque “se não houver cedência, então a intensificação desse conflito será maior e, se não houver cessar-fogo, será necessário que outras forças entrem para [chamar] o M23, daqui a duas semanas”.

 

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