Ano começa com ‘perda de ímpeto’ da atividade e ‘tímido’ para o consumo, dizem economistas | Brasil

A primeira quinzena do mês fecha com a divulgação de uma série de dados setoriais de janeiro confirmando a percepção de desaceleração da economia brasileira no início de 2025, uma expectativa que já tinha ficado evidente após a frustração com o Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2024, anunciado no último dia 7.

Ao longo da semana, o IBGE informou que os serviços caíram 0,2% em janeiro, ante fevereiro, em linha com estimativa mediana de mercado colhida pelo Valor Data, mas o varejo restrito recuou 0,1%, resultado abaixo do consenso de alta de 0,3%.

A indústria ficou estagnada, interrompendo uma sequência de três quedas seguidas com perda acumulada de 1,2%, mas o resultado de janeiro também ficou aquém da expectativa mediana de alta de 0,4%.

“Assim como o observado nas leituras da atividade industrial e de serviços para o mês, o desempenho do varejo corrobora a expectativa de continuidade do processo de gradual desaceleração da economia iniciado no último trimestre de 2024, refletindo a combinação entre um menor impulso fiscal, a corrosão do poder de compra das famílias pela inflação, piora das condições de crédito e do elevado nível de incerteza gerado pelo risco fiscal”, diz a Genial Investimentos em relatório.

O varejo ampliado — que inclui veículos, material de construção, atacarejo e é mais importante para o cálculo do PIB —, até surpreendeu ao subir 2,3% em janeiro, mais do que a alta mediana de 1,6% esperada pelos analistas. Eles ponderam, no entanto, que o crescimento deve ter sido pontual, após segmentos como material de construção e veículos darem sinais de fraqueza sobretudo nos dois últimos meses.

“Parece algo mais relacionado ao passado do que sobre o que vai acontecer daqui para frente. São segmentos sensíveis a juros, não é de se imaginar que eles vão manter esse ritmo ao longo do ano”, afirma Rodolpho Tobler, economista do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre) e coordenador das Sondagens Empresariais da instituição.

Analisando a atividade em janeiro como um todo, Tobler diz que os primeiros sinais de desaceleração surgem em linha com a defasagem de seis a nove meses do aumento de juros, iniciado em meados do ano passado.

“Para os setores mais cíclicos, sensíveis à política monetária, a tendência é de desaceleração. Uma ou outra atividade pode puxar e pode ser que essa desaceleração não seja tão clara, mas o resultado de janeiro — e, na verdade, desde o fim do ano passado — traz essa percepção de um ritmo mais fraco. Não vai ter como escapar dessa desaceleração no início do ano”, afirma.

Na semana passada, o IBGE informou que o PIB do quarto trimestre avançou 0,2%, abaixo da mediana de 0,4% capturada pelo Valor.

A combinação do resultado do varejo em janeiro com o desempenho dos serviços no mês parece indicar “um começo de ano tímido para o crescimento do consumo”, diz a equipe do Bradesco em relatório. E isso “já em cima de um consumo que terminou 2024 arrefecendo”, lembram os economistas do banco, em referência, por exemplo, à inesperada queda de 1% no consumo das famílias no PIB do quarto trimestre de 2024.

A surpresa com as vendas de janeiro no varejo ampliado foi uma boa notícia, principalmente após os resultados dos serviços e da indústria no mês indicarem “uma certa perda de ímpeto na atividade econômica no início do ano”, diz Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners.

“No entanto, apesar da surpresa positiva, percebemos também uma dinâmica mais negativa no setor varejista: mesmo após crescer 2,3% em janeiro, o volume de vendas no varejo ampliado acumula uma queda de 0,7% nos últimos três meses”, afirma.

Ao longo do ano, Leal diz esperar que o encarecimento do crédito reduza a disponibilidade de renda das famílias, com impacto negativo sobre o setor varejista

Na avaliação da Genial, a significativa deterioração do cenário econômico ao longo do último trimestre de 2024, refletindo principalmente a elevação do risco fiscal, incertezas em torno da nova agenda econômica do governo dos Estados Unidos, inflação de alimentos elevada e piora das condições de crédito devem contribuir para limitar o consumo nos próximos trimestres.

“Entretanto, seguimos avaliando que o processo de arrefecimento da economia será gradual, sob a expectativa de que o mercado de trabalho permaneça robusto e que a política fiscal siga expansionista ao longo deste ano, dando suporte ao consumo das famílias, sobretudo na primeira metade de 2025”, afirma a equipe.

O indicador de alta frequência da atividade elaborado pela XP aponta alta de 1,2% do PIB no primeiro trimestre de 2024, ante o quarto trimestre de 2024.

A atividade no período deve ser sustentada pela agropecuária e pela perspectiva de safra recorde.

O PIB do comércio deve avançar 0,6%, segundo a XP. O consumo pessoal de bens deve enfraquecer ao longo do ano, em linha com o aumento da inflação, a política monetária contracionista e certa acomodação no mercado de trabalho, diz o economista Rodolfo Margato.

Ele projeta uma expansão de 2,5% da renda real disponível das famílias, após alta de 7,2% em 2024. O fato de que ela ainda registrará crescimento sustenta o cenário de desaceleração do consumo, com crescimento moderado das vendas no varejo em 2025, e não de contração, observa Margato.

O desempenho do varejo brasileiro em janeiro e a “herança estatística” deixada para o trimestre ainda são compatíveis com um crescimento de 0,5% do PIB total no período, segundo o banco ABC Brasil. “A maioria dos setores cíclicos (serviços, indústria, varejo restrito) tende a mostrar variações comedidas ao redor de zero”, diz, em relatório, Daniel Xavier, economista-chefe do banco.

Inflação de alimentos é elemento considerado por analistas na avaliação sobre consumo — Foto: Marco Antonio Teixeira/EC

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