‘Não tenho vontade de sair, mas de continuar remando não falta’

Com o canoísta Isaquias Queiroz não há meio termo. Ele é intenso. Após a disputa da Olimpíada de Paris-2024, quando foi prata no C1 1.000, conquistando sua quinta medalha olímpica, ele disse que gostaria de começar o seu último ciclo olímpico “mais relax”. Não conseguiu.

É que desde que voltou aos treinos com a seleção brasileira permanente, em Lagoa Santa (MG), no final do ciclo de Paris-2024, e após um “sabático”, ele ligou a chave de novo. Diz que tem pique para treinar, mas preguiça para sair de casa aos finais de semana.

Em 2023, aconteceu o oposto: ele precisou de um tempo do esporte para ficar com a família e para cuidar da saúde mental. Saiu de Lagoa Santa e foi para Ilhéus (BA). Disse que foi “se esconder”. Mas, quando teve desempenho abaixo do esperando no Mundial classificatório para Paris-2024, viu que teria de correr atrás do prejuízo.

Agora, ele conta, a luta é inversa, é para encaixar programas com a família e fora da rotina de atleta.

Isaquias Queiroz celebra a conquista da medalha de prata nas Olimpíadas de Paris — Foto: Alexandre Loureiro/COB

— Falei com a minha médica e estamos tentando encaixar programas na minha rotina. Em 2023 eu deixei a concentração da seleção porque eu não estava conseguindo viver a vida. Eu só treinava. E falei para ela que estava voltando para esta mesma situação. Porque tenho disposição para caramba para treinar. Eu acordo, vou treinar, volto, almoço, durmo, vou treinar e isso para mim é natural. Mas eu não consigo achar energia, força, vontade de sair de casa. Final de semana eu passo o dia inteiro em casa. Atualmente eu só tenho dormido… — contou Isaquias, em entrevista no CBC & Clubes Expo, em Campinas (SP) — Eu não tenho vontade de sair, mas de continuar remando, ali na água, não falta. Eu tinha perdido isso em 2023 e consegui retomar essa sensação.

Isaquias explicou que nesse exercício de dosar a vida profissional e pessoal tem se engajado junto com a esposa Laina em arrumar a casa que compraram no ano passado, em Lagoa Santa. Também conta com a visita mais frequente da mãe e do sogro e quer levar mais vezes o filho Sebastian na escolinha de futebol.

Comentou que quer ampliar a área gourmet, fazer uma piscina, comprar mesa de sinuca e outra de pebolim e até montar um galinheiro. Explicou que pretende encaixar o cuidado com as galinhas em sua rotina e até já batizou duas delas.

— Estou pensando também em disponibilizar mais sobre a minha rotina num canal de Youtube. Quero desenvolver mais as minhas redes sociais e mostrar mais minha vida particular. Sei que é arriscado, porque sei que quanto mais público, mais cobrança. Mas eu tenho de sair um pouco desta vida de só esporte — disse o canoísta — Quero ter outras obrigações na casa, alimentar as galinhas Gertrudes e Rafinha, elas já têm nome… Vou comprar umas dez. Estamos já preparando o galinheiro. Queremos criar um ambiente de lazer para além do sofá.

Ele comentou ainda que está tendo apoio total da Confederação de Canoagem, do Comitê Olímpico do Brasil (COB) e do Flamengo. E que se os planos atuais não darem certo, mudará a dinâmica junto com a psicóloga.

— 2023 foi bom. Aprendi a reiniciar a vida. Estou reiniciando de novo.

Isaquias, que participou de ação do Flamengo no CBC & Clubes Expo, disse que renovou o contrato anual com o clube. E que manterá a rotina de treinos com a seleção permanente em concentração em Lagoa Santa (MG) e viajará ao Rio mais vezes ao ano.

— Falamos para estar mais juntos e conectados, envolvido com o projeto da canoagem. Isso eu cobrei muito do Flamengo. A escolinha não cresceu. Vamos focar mais no desenvolvimento da escolinha.

Isaquias disse que o ciclo Los Angeles-2028 começou forte, com treinamento de base em Capitólio (MG) e testes sobre eficiência de remada com o COB.

— O combinado com o Lauro (treinador Lauro de Souza) não aconteceu. Ele falou que esse ano seria tranquilo, mas não foi nem culpa dele, fui eu mesmo. Sou competitivo, gosto disso e sei que no Brasil não se pode perder, né? Então fiz uma boa base em Capitólio em fevereiro e nem vi o Carnaval passar. Também não me interessa muito não. São João, sim, mas Carnaval, não.

Sobre Los Angeles-2028, ele disse que também podem acontecer mudanças. Ele queria focar apenas na prova individual mas se viu de novo remando no C2.

— Não era intenção minha remar o C2, nem do Lauro. Só que ao longo desse tempo tive de entrar no C2 porque senão até o Jacky Godman seria prejudicado. Mas, para ganhar com o C2, a gente sabe que vai ter de remar quase todo dia. Até aparecer alguém para remar do lado direito como eu, estou por aí. E se tiver a possibilidade de ganhar duas medalhas no Mundial e Copa do Mundo, a gente vai estar aí. Hoje eu estou que nem o Zeca Pagodinho, deixando a vida me levar, só remando e fazendo meus treinamentos.

Ele contou que está treinando com Gabriel Assunção, com quem foi campeão brasileiro pelo Flamengo. E explicou quais mudanças podem ocorrer:

— O C2 é um barco prejudicado porque a gente treina só duas vezes na semana. Isso a gente discutiu com o Lauro e com o COB. Vamos fazer algumas adaptações para ver se a gente consegue dentro de um cenário mundial ou até na Olimpíada, se a gente consegue dividir a semana meio a meio, para o C1 e C2. Vamos aproveitar esse primeiro ano para fazer este teste e se der certo a gente seguir.

*A repórter viaja a convite do CBC

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