A forma como as árvores crescem e armazenam carbono pode mudar completamente a maneira como medimos o impacto das florestas no equilíbrio climático global. Um estudo recente publicado na Nature Communications revelou variações significativas na densidade da madeira das árvores em florestas tropicais e subtropicais da América do Sul, trazendo novas perspectivas para a estimativa de estoques de carbono e estratégias de conservação.
O estudo envolveu um esforço massivo de pesquisadores e instituições de diversas partes do mundo, mostrando a importância da colaboração internacional para compreender um dos biomas mais ricos do planeta.
Essa pesquisa é fundamental para reduzir incertezas em mapas de biomassa e carbono, pois a densidade da madeira influencia diretamente a quantidade de carbono que uma floresta pode armazenar. As descobertas podem ter implicações diretas em políticas ambientais, estratégias de reflorestamento e até na precificação do carbono no mercado global. Mas, afinal, o que foi descoberto e como essas informações podem impactar o Brasil?
Como a densidade da madeira varia na América do Sul?
A pesquisa revelou que a densidade da madeira varia consideravelmente em diferentes regiões da América do Sul. Em geral, a densidade tende a aumentar de oeste para leste na Amazônia, sendo mais alta no Escudo das Guianas e no centro-leste da floresta amazônica, enquanto as florestas montanhosas dos Andes apresentam os menores valores.

Essa variação é influenciada por fatores ambientais, como o tipo de solo, o regime de chuvas e até a frequência de tempestades elétricas. Além disso, a densidade da madeira também está relacionada às estratégias ecológicas das árvores: espécies com madeira mais densa tendem a crescer mais devagar, mas são mais resistentes a secas e ventos fortes. Por outro lado, árvores com madeira mais leve crescem rapidamente, mas são mais vulneráveis a distúrbios ambientais.
O que isso significa para a conservação das florestas?
Compreender a densidade da madeira é essencial para estimar com mais precisão a biomassa e o carbono armazenado nas florestas tropicais. Modelos anteriores não levavam em conta essa variação espacial, o que gerava erros significativos nas previsões. Com os novos dados, os cientistas conseguiram reduzir em 50% os erros em mapas de biomassa baseados em sensoriamento remoto.
Isso pode trazer grandes benefícios para a conservação, pois permite:
- Melhorar os inventários florestais e monitoramento do desmatamento;
- Aprimorar programas de créditos de carbono, garantindo valores mais justos e baseados em dados concretos;
- Ajudar a identificar áreas prioritárias para conservação, considerando a capacidade de diferentes regiões armazenarem carbono de forma mais eficiente.
Esses avanços tornam os planos de manejo florestal mais precisos e embasados em evidências científicas, promovendo estratégias de preservação mais eficazes.
Impacto no Brasil: avanços na gestão florestal
O Brasil, como país detentor da maior parte da floresta amazônica e de biomas como o Cerrado e a Mata Atlântica, pode se beneficiar amplamente dessas descobertas. A nova abordagem permite refinar os cálculos de estoques de carbono e melhorar a gestão dos recursos naturais em nível nacional.

Um dos desafios é garantir que essas informações sejam incorporadas nas políticas públicas e em iniciativas privadas de reflorestamento e mercado de carbono. O Brasil já tem programas como o Plano ABC+ (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono), que podem se beneficiar diretamente dessas descobertas ao fornecer dados mais precisos sobre o potencial de sequestro de carbono de diferentes regiões.
Por outro lado, há oportunidades significativas para o país liderar pesquisas na área, aprofundando o conhecimento sobre a relação entre densidade da madeira, mudanças climáticas e conservação florestal. Com um ecossistema tão diverso e essencial para o equilíbrio climático global, o Brasil tem nas mãos uma chave valiosa para aprimorar políticas ambientais e consolidar sua posição como referência mundial em sustentabilidade.
Referência da notícia
Variation in wood density across South American tropical forests. 10 de março, 2025. Sullivan, M.J.P., Phillips, O.L., Galbraith, D. et al.
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