Sesc Pinheiros recebe Mostra de Cinema Sul-Americano com o curso Breve Panorama do Cinema Sul-Americano, e debates que refletem as fraturas históricas e os caminhos incertos da América do Sul
*Por Vanderlei Mastropaulo
O que há em comum entre um tímido professor argentino de filosofia e uma dona de casa brasileira que abriga um traficante? E entre um decadente guru em Lima, Peru, e uma empresária que enriqueceu durante a ditadura chilena? E entre um empregado de uma fazenda uruguaia e um pescador na Colômbia fraturada por conflitos armados?
São todos personagens desta América do Sul em constante turbulência. E podem ser conferidos neste pequeno ciclo de filmes organizado pelo Sesc Pinheiros, com curadoria de Vanderlei Mastropaulo, pesquisador e professor de cinema.
Todos os títulos abrem questões pendentes em nosso continente, em latente estado de desconcerto. Há o abismo social entre ricos e pobres (no uruguaio O empregado e o patrão), a violência paramilitar (no colombiano Tantas almas) e o absurdo de uma família se desfazer de um parente por ser rentável esconder um traficante (no brasileiro Carvão).
Há ainda o terreno das ilusões, seja com o falso e decadente guru (no peruano Contatado) ou na ação criminosa da extrema-direita nos anos 1970 e também hoje (no chileno Aranha). Mesmo neste panorama duro, há espaço para o riso com o desengonçado professor de filosofia em busca de reconhecimento na universidade onde leciona (no argentino Puan).
O mencionado desconcerto não escolhe lugares. Ele está nas cidades (a Santiago de Aranha; a Lima de Contatado; a Buenos Aires de Puan), em regiões fronteiriças(Carvão e O empregado e o patrão) e nos rios da floresta colombiana (Tantas almas).E, como na narrativa fragmentada de Aranha, a turbulência do passado volta para assombrar o tempo presente.
Os filmes expõem fraturas históricas, sociais e políticas que impedem seus personagens de encontrar paz ou equilíbrio. Mas não há apenas desalento. Vemos, em estilos e enredos diferentes, uma América do Sul em busca de caminhos e respostas, procurandoentender lugares, recortes e contextos, visando uma nova vida.
Curiosamente, os seis títulos escolhidos são coproduções entre vários países. Ofinanciamento conjunto revela o diálogo artístico entre criadores de origens diversas. Percebe-se este sentimento de desconcerto comum em vários cenários e a preocupação compartilhada sobre presente e passado comuns. O futuro, claro, permanece incerto. Mas um mergulho neste pequeno recorte de filmes pode apontar algumas direções.
*Vanderlei Henrique Mastropaulo é produtor cultural e pesquisador de cinema, geógrafo pela FFLCH/USP e mestre em Comunicação e Cultura pelo PROLAM/USP (Programa de Integração da América Latina), com dissertação defendida em 2009. Desde 2015, ministra cursos livres sobre cinema brasileiro e de outros países da América Latina.
O curso Breve Panorama do Cinema Sul-Americano acontece entre 25/3 e 15/4 e está com inscrições abertas pela Central de Relacionamento Digital. Saiba mais clicando aqui.
CRONOGRAMA DE EXIBIÇÕES E DEBATES
25/03 – Aranha (2019, Chile, Argentina, Brasil, 105’). Direção: Andrés Wood | Chile a partir da Unidade Popular
26/03 – Contatado (2020, Peru, Brasil, 93’). Direção: Marité Ugás | Peru e Venezuela
01/04 – Carvão (2022, Brasil, Argentina, 107’). Direção: Carolina Markowicz | Brasil contemporâneo
02/04 – Puan (2023, Argentina, Itália, Alemanha, França, Brasil, 109’). Direção: MaríaAlché, Benjamín Naishtat | Argentina contemporânea
09/04 – Tantas almas (2019, Colômbia, Brasil, Bélgica, França, 137’). Direção: Nicolás Rincón Gille | Colômbia contemporânea
15/04 – O empregado e o patrão (2021, Uruguai, Brasil, Argentina, França, 106’). Direção: Manolo Nieto | Uruguai, Bolívia e Paraguai
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