Mário Lúcio fez álbum para dançar que celebra independência em Cabo Verde

“Eu não tinha pensado nisso. Eu tinha memória das músicas e das danças e quis fazer um disco para dançar”, disse em entrevista à agência Lusa, referindo-se ao álbum ‘Independance’, assim escrito para juntar as palavras independência e dança.

 

No ano em que se assinalam os 50 anos da independência de Cabo Verde, o sétimo álbum de Mário Lúcio inclui relatos de um repórter no dia 05 de julho de 1975, bem como o som da voz do presidente da Assembleia Nacional a declarar a independência do país.

Mário Lúcio foi mais longe e no ‘videoclip’ da faixa que dá nome ao álbum reproduziu o ambiente sonoro daquele dia e a forma como as pessoas então se vestiam e dançavam nos seus quintais.

“Foi isso que eu quis trazer para o disco, era isso que eu vivia quando eu tocava, com os meus 15 anos, nos bailes do conjunto. Basicamente é essa a emoção que vem pelo disco”, afirmou, congratulando-se com o sucesso que o tema regista em Cabo Verde e não só.

O novo álbum, lançado em Paris, no início de fevereiro, será tocado hoje no B.Leza, em Lisboa, e o compositor, músico e cantor promete um espetáculo eletrizante, como as músicas que tocava nos primeiros anos da independência.

O artista, de 60 anos, diz-se surpreendido com a forma como é abordado pelos populares, percebendo que, ainda sem ter sido essa a sua intenção, acabou por compor uma espécie de banda sonora destes 50 anos de liberdade.

A acompanhá-lo, músicos de três países: Jery Bidan (Guiné), Ricardo Campos (Angola) e Dilson Groove (Congo), todos eles a viver em Portugal.

Mário Lúcio lembrou que a música mais ouvida em Cabo Verde nos dias da independência era ‘Aki’, do nigeriano Prince Nico Mbarga, que durava quase 19 minutos.

‘Independance’ dura menos, mas combina a sonoridade dos anos 70 e início dos anos 80, do século XX, com “a preocupação lírica daqueles anos, além de uma certa sonoridade de afrobeat dos dias de hoje”.

“Combinou tudo isso e a mensagem é uma mensagem de celebração, da alegria e de partilhar um momento importante da minha vida, que foi decisivo para que eu seja o músico que eu sou hoje”, disse, acrescentando que mostra ainda “como a música de Cabo Verde hoje tem muita influência da Nigéria, do Gana e da África do Sul”.

Sobre a independência, o multi-instrumentista, que foi ministro da Cultura, considera que representa “a diferença da felicidade em termos de acesso e dos direitos humanos que existiam antes e que existem hoje”.

“Independência significa passar de 75% da população analfabeta para 98% da população alfabetizada. Valeu a pena. Passar de zero universidades para 11 universidades em 50 anos. Passar de dois liceus, um outro em São Vicente para mais de 50 liceus em Cabo Verde”, afirmou.

Mas também passar de país catalogado como inviável – porque não tem água, tem um território fragmentado e muito pequeno — para um país de desenvolvimento médio. “É uma epopeia, para um país como Cabo Verde”, acrescentou.

“Se é isto a independência, todo o mundo que se encontra abaixo desse nível devia aspirar à independência. Se é para estar menos, então o povo, os cidadãos, têm que responsabilizar aqueles que levaram o país ao retrocesso”, defendeu.

O artista deixa alguns reparos: “Eu acho que falhámos na educação. Vencemos no ensino. O ensino é um sistema para partilhar a educação, para aplicar a educação. Depois, o conteúdo desse ensino é que faz com que a educação seja um bom resultado. No início, nós conseguimos isso, mas eu diria que de há 15 anos para cá temos excelentes resultados no domínio do ensino, da escolaridade, mas perdemos alguns valores sociais importantes para Cabo Verde, no que seria a educação de uma nova geração. E perdemos um pouco o rumo”.

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