Fevereiro de 2025 foi o terceiro mais quente da história, puxado por temperaturas extremas na América do Sul e no Ártico

A Argentina, que se destacou globalmente com anomalias de 7°C acima da média, registrou cerca de 25 mil hectares de incêndios florestai no início de Fevereiro. Créditos: Reprodução/Marcelo Martinez/Reuters.
Ana Maria Pereira Nunes

Ana Maria Pereira Nunes 6 min

Fevereiro de 2025 deu continuidade à sequência de temperaturas recordes – ou quase – observadas ao longo dos últimos dois anos. A anomalia global foi de 1,59°C acima da média do período pré-industrial (1850-1900), consolidando a tendência persistente de aquecimento. Uma das consequências de um mundo mais quente é o derretimento do gelo marinho, que também atingiu um mínimo histórico no mês passado.

Os dados são do último boletim do Observatório Copernicus, serviço europeu de monitoramento climático, que utiliza a reanálise ERA5 — uma das bases de dados atmosféricos mais consolidadas do mundo.

Calor extremo na América do Sul e no Ártico impulsionam anomalias globais

A temperatura média global da superfície do ar em Fevereiro de 2025 atingiu 13,36°C, ficando 0,63°C acima da média de 1991-2020, período de referência para o clima atual.

Em relação ao período pré-industrial, a anomalia foi de 1,59°C, ficando atrás apenas de 2024 e de 2016, e ligeiramente acima de 2020, como destacado no gráfico abaixo. Esse foi o 19º mês dos últimos 20 com temperaturas globais superiores a 1,5°C acima do nível pré-industrial.

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Anomalias globais mensais de temperatura do ar, baseado no ERA5. Fonte: ECMF/Copernicus.

Fevereiro de 2025 registrou temperaturas acima da média em diversas regiões, especialmente no Ártico, no norte do Chile e Argentina, no oeste da Austrália e no sudoeste dos EUA e México. Nestas regiões, as anomalias alcançaram até 7°C acima da média.

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Anomalia de temperatura do ar na superfície em Fevereiro de 2025, de acordo com o ERA5. Fonte: ECMWF/Copernicus.

Na Argentina, uma bolha de calor persistente elevou as temperaturas a níveis recordes, impactando populações e setores como agricultura e energia. Esta bolha de calor afetou diretamente as regiões Sul e Centro-Oeste do Brasil, que sofreram com uma sequência de ondas de calor e temperaturas que ultrapassaram os 40°C durante vários dias.

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Anomalias de precipitação e de umidade do solo para Fevereiro de 2025 (esquerda) e verão austral (direita), destacando no retângulo vermelho o cone sul da América do Sul. Fonte: Adaptado de ECMWF/Copernicus.

Essa condição extrema se refletiu também em anomalias negativas de precipitação e de umidade do solo, não somente em Fevereiro (imagem acima, à esquerda) no cone sul da América do Sul, como também no verão austral (direita), considerando Dezembro-Janeiro-Fefereiro.

Extensão do gelo marinho atinge novo recorde mínimo global

A extensão global diária do gelo marinho, que combina as áreas congeladas nos pólos Norte e Sul, atingiu um novo mínimo histórico no início de Fevereiro de 2025. Durante o restante do mês, permaneceu abaixo do recorde anterior estabelecido em Fevereiro de 2023.

Para os pólos Norte e Sul, destacamos:

  • Ártico: a extensão do gelo marinho registrou sua menor cobertura para um mês de Fevereiro, ficando 8% abaixo da média. Este foi o terceiro mês consecutivo em que a extensão do gelo estabeleceu um novo recorde mínimo para o respectivo mês.
  • Antártida: o gelo marinho antártico registrou sua quarta menor extensão mensal para Fevereiro, ficando 26% abaixo da média. No final do mês, a extensão diária do gelo pode ter atingido seu mínimo anual, mas este dado ainda será validado no decorrer de Março.
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Extensão de gelo marinho global diário. Fonte: ECMWF/Copernicus.

A redução contínua da cobertura de gelo marinho em ambos os pólos reforça os impactos do aquecimento global e destaca a crescente vulnerabilidade das regiões polares.

O planeta em alerta: sinais crescentes de um clima em transformação

Segundo Samantha Burgess, líder estratégica para o Clima no ECMWF, esses eventos refletem o impacto direto das mudanças climáticas em escala global.

Fevereiro de 2025 dá continuidade à sequência de temperaturas recordes ou quase recordes observadas ao longo dos últimos dois anos. Uma das consequências de um mundo mais quente é o derretimento do gelo marinho, e a cobertura de gelo marinho recorde ou quase recorde em ambos os polos empurrou a cobertura global de gelo marinho para um mínimo histórico.

Os dados de Fevereiro de 2025 reforçam a necessidade urgente de ações concretas para limitar o aquecimento global. A persistência de temperaturas elevadas e eventos extremos ressalta a importância do cumprimento das metas do Acordo de Paris, que visa limitar o aquecimento a bem abaixo de 2°C e buscar esforços para mantê-lo em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.

No entanto, os últimos registros mostram que a janela para atingir esse objetivo está se fechando rapidamente, exigindo respostas imediatas e eficazes da comunidade internacional.

Referência da Notícia

Copernicus: Global sea ice cover at a record low and third-warmest February globally, publicado em 05 de Março de 2025

Precipitation, relative humidity, and soil moisture for February 2025, publicado em 05 de Março de 2025


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