Desde que anunciou a agora retirada candidatura de seu chanceler, Rubén Ramírez Lezcano, para comandar a secretaria-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA), em meados de 2024, o governo do Paraguai cometeu erros em série que explicam o fracasso de sua campanha. Na reta final, a articulação do Brasil com Colômbia, Bolívia, Chile e Uruguai, consolidada na posse do novo presidente uruguaio, o esquerdista Yamandú Orsi, sábado passado, foi importante para mostrar a união da região contra um candidato que apostou no apoio do presidente americano, Donald Trump — algo que tampouco era garantido. Esse foi, sem dúvida, um de seus erros mais crassos.
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Mas o Brasil não derrubou a candidatura do paraguaio. Foi o próprio Paraguai, com falhas inacreditáveis de sua diplomacia, quem condenou a campanha de Lezcano ao desastre. Uma fonte do governo brasileiro resumiu a ópera afirmando que “é incrível o Paraguai achar que poderia ter dado certo, tendo feito tudo errado”.
A candidatura de Lezcano tem erros de origem. Ela foi anunciada na Assembleia Geral da OEA, em meados de 2024, em Assunção. É raro um candidato a secretário-geral comunicar sua candidatura numa Assembleia Geral da organização, em seu próprio país. Raro e mal visto. Seu rival, o chanceler do Suriname, Albert Ramdin, agora o único na corrida que termina na próxima segunda-feira, evitou fazer o mesmo.
Lezcano foi várias vezes aos EUA, sobretudo após a vitória de Trump, e priorizou encontros com congressistas da Flórida e pessoas do círculo republicano. Na OEA, organizou um encontro com todos os embaixadores, enquanto Ramdin, que conhece a casa — da qual já foi secretário-geral adjunto — manteve diversas conversas bilaterais com representantes de todos os países que integram a organização.
Outro tiro no pé do Paraguai foi ter derrubado, no dia da votação, o consenso para aprovar o orçamento da OEA para 2025. O país dera seu aval e recuou na última hora. Foram várias as justificativas, entre elas o desagrado com a mudança no sistema de aposentadoria do secretário-geral.
Toda a campanha de Lezcano esteve focada no novo governo americano. O banho de água fria chegou há alguns dias, quando o enviado especial do Departamento de Estado, Mauricio Claver-Carone, disse que seu país não tinha um candidato definido para a OEA. Em paralelo, o governo Trump cortou a ajuda dos EUA a programas das áreas de direitos humanos e segurança da organização, incluindo iniciativas de combate ao terrorismo, drogas e crime organizado. As medidas, comentaram fontes diplomáticas, “causaram perplexidade” em países governados por presidentes de direita e extrema direita. Finalmente, El Salvador, Guatemala e Equador, entre outros, apoiaram o candidato do Suriname.
Nos corredores da OEA, há a sensação de que o paraguaio poderia ter tido alguma chance se tivesse sido o candidato da região e não de Trump. Lezcano, disse uma fonte diplomática latino-americana, “teria sido uma versão piorada do [Luis] Almagro [atual secretário-geral]”. O uruguaio é acusado de ter sido, em seus dois mandatos, uma marionete dos americanos.
O Paraguai achou que com Trump ganhava fácil, inclusive quebrando a unidade dos caribenhos, que têm 14 votos, dos 18 que são necessários para eleger o secretário-geral. Grave engano. Os caribenhos se mantiveram unidos, apostando na possibilidade de terem, pela primeira vez na História, um dos seus no comando da organização, criada em 1948.
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