247 – Em entrevista ao programa Boa Noite 247, Vicente Trevas, presidente do Instituto AMSUR (Instituto Sulamericano para a Cooperação e Gestão Estratégica de Políticas Públicas) e ex-secretário de Assuntos Federativos da Presidência da República, fez uma análise sobre os desafios geopolíticos enfrentados pela América do Sul, destacando os impactos da política externa dos Estados Unidos na região. Para Trevas, a estratégia norte-americana visa minar a integração sul-americana e induzir conflitos regionais.
Segundo Trevas, “os Estados Unidos são uma potência em decadência, mas isso não significa que perderam seu protagonismo”. Ele observa que o governo de Donald Trump tenta conter essa decadência apostando na reindustrialização e na subordinação de outros países aos interesses norte-americanos. “O que vemos é uma estratégia agressiva e contraditória, que busca reverter a perda de hegemonia dos Estados Unidos, impondo sanções e medidas protecionistas, enquanto desarticula processos de integração em outras regiões”, explicou.
Trevas alertou que a América do Sul é alvo de uma “balcanização” planejada, com iniciativas que incentivam divisões internas e enfraquecem os blocos regionais. “Não se trata apenas de interditar a integração sul-americana, mas de fragmentá-la, promovendo cisões e conflitos”, disse. Ele mencionou o estreitamento das relações militares entre a Argentina e os Estados Unidos, bem como a possibilidade de uma base militar norte-americana nas Ilhas Galápagos, no Equador, como exemplos dessa estratégia.
O sociólogo também analisou a proposta de um acordo de livre comércio entre Estados Unidos e Argentina, sugerida por Trump, que poderia levar o país sul-americano a deixar o Mercosul. “Não vejo vantagem nesse acordo, pois as economias de Argentina e Estados Unidos não são complementares. Além disso, há resistências internas, principalmente no peronismo e nos setores progressistas argentinos, que historicamente defenderam a integração regional”, destacou.
Trevas enfatizou que a ascensão da China como principal parceira comercial da América do Sul intensifica a pressão geopolítica na região. “A China é hoje o grande investidor e parceiro comercial da região. Isso nos coloca diante de um dilema estratégico, pois os Estados Unidos veem essa relação como uma ameaça”, afirmou.
Sobre a política externa do Brasil, Trevas destacou que o governo Lula busca um “não alinhamento ativo”, evitando subordinação a qualquer potência global. “O Brasil não pode entrar em um confronto direto com os Estados Unidos, mas também não pode se submeter a outra potência. O governo tem trabalhado para manter equilíbrio nesse cenário”, explicou.
Ao final da entrevista, Trevas reforçou a importância dos BRICS como alternativa para reduzir a dependência dos Estados Unidos. “As sanções contra a Rússia mostraram que existem outras opções econômicas viáveis. Isso fez com que países como o México cogitassem se aproximar dos BRICS”, afirmou. “Estamos num jogo político em curso e precisamos reforçar nossas alianças regionais para enfrentar os desafios impostos pela conjuntura internacional”. Assista:
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