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“Nós somos países irmãos na cultura, irmãos no destino, mas não estamos a ser irmãos no investimento”, afirma o administrador da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Paulo Rios. A afirmação foi feita em uma entrevista em que avalia o estado dos investimentos brasileiros em Portugal.
Se o investimento brasileiro em Portugal entre 2015 e 2021 ficou, segundo a AICEP, em 176 milhões de euros, cerca de 4% do total arrecadado pelo país, nos últimos quatro anos tem crescido a uma média de 12% ao ano. Isso faz com que, atualmente, os brasileiros sejam a segunda nacionalidade de fora da Europa com maior volume de investimento em Portugal, apenas atrás dos Estados Unidos.
Os dados mais recentes indicam que de janeiro a setembro de 2024 o valor dos investimentos brasileiros em Portugal totalizaram 5,3 bilhões de euros (5,3 mil milhões ou 32 bilhões de reais), um crescimento de 10% em relação ao mesmo período de 2023.
Neste momento, segundo Rios, entre as áreas de investimento do mercado português em que os brasileiros preferem apostar estão o imobiliário, a hotelaria e empresas tecnológicas, com destaque para as startups. Isso além dos grandes investimentos, dos quais o maior é o realizado pela Embraer, que detém 65% do capital das OGMA.
Para a AICEP, é pouco. O objetivo expresso nos seus documentos estratégicos indica que a agência pretende que Portugal seja a porta do Mercosul na Europa.
Nesse momento, vemos um crescimento dos investimentos brasileiros em Portugal. Por que acontece esse crescimento?
Nos últimos oito a 10 anos, eu acredito que a imagem de Portugal no Brasil se transformou radicalmente. Portugal tem vindo a afirmar-se como um país muito moderno, muito aberto à inovação, um país que trabalha muito bem com diversas latitudes e diversas geografias. E os brasileiros descobrem em Portugal, por um lado, um parceiro em que a língua é uma coisa comum – não é suficiente, mas é importante –, e um parceiro que está instalado na Europa, o que abre para a economia brasileira um mercado de 500 milhões de consumidores potenciais. Para uma empresa brasileira, que queira ter uma experiência internacional sólida, Portugal é uma excelente oportunidade, pois permite testar modelos, testar produtos, testar negócios e, a partir de Portugal, crescer dentro da Europa. É um mercado muito regulado, mas que, por força União Europeia, tem regras muito parecidas. Por outro lado, Portugal tem outra vantagem que é uma ligação histórica ao Brasil. Eu costumo dizer que à nossa ligação umbilical tem que corresponder uma muito mais forte ligação comercial. Nós somos países irmãos da cultura, irmãos no destino, mas não estamos a ser irmãos no investimento e nas parcerias. Portugal não tem nada para ensinar ao Brasil, mas tem muito para partilhar. Porque o Brasil confere ao investimento uma escala, um músculo, uma capacidade que Portugal não tem. Existem investimentos na Europa que vão exigir parcerias fortes, vão exigir capacidade de investimento que Portugal não tem. Por isso, o Brasil é, para nós, um mercado muito importante.
Como está o investimento brasileiro em Portugal?
O Brasil tem vindo a investir cada vez mais em Portugal. Não esqueçamos que é já o segundo parceiro fora da União Europeia, depois dos Estados Unidos. Eu diria que há 3 tipos de investimento.
Que tipos de investimento?
Acho que o Brasil tem de olhar para Portugal e para as oportunidades, primeiro, nas startups. O Brasil tem um ecossistema de startups muito forte. Apesar da dimensão de Portugal, o mercado é muito dinâmico e, portanto, pode gerar oportunidades muito interessantes a partir de Portugal para outras geografias. Tem outro tipo de investimento, muito significativo, mas muito discreto, que é o conjunto enorme brasileiros que vive em Portugal, que se mantém abaixo do radar da mídia e da notoriedade. Eles investem em Portugal de forma seletiva, especialmente usando plataformas como, por exemplo, o (banco) BTG, que está instalado em Portugal e representa muitos brasileiros com capacidade econômica, com negócios consolidados e que querem fazer operações no país ou na Europa, de forma bastante discreta. E, depois, temos os grandes investimentos, dos quais o caso da Embraer é talvez o mais notório, mas acho que Portugal e o Brasil tem coisas para fazer juntos.
E não há resistências a investir no Brasil?
Acho que é hora de acabar com os preconceitos que dizem que o investimento português no Brasil não resulta. Não resulta para quem não conhece o modelo de funcionamento do mercado brasileiro. Além disso, o Brasil cada vez menos vai ser o destino para o vinho e o azeite. Portugal é muito mais que vinho e azeite. Nós temos empresas portuguesas a ter êxito no Brasil. É um mercado exigente, difícil para quem acha que a língua portuguesa resolve tudo, mas é um mercado onde existem grandes possibilidades. Acho que nós temos que nos conhecer melhor.
Nessa segunda área de investimento, através de bancos, eles investem em quê?
Tanto quanto sei, porque normalmente, estes investimentos são relativamente reservados, há investimentos no imobiliário e na área hoteleira. Eu estive no Brasil, em novembro, e participei num fórum da Associação de Resorts Brasileiros e falamos um pouco sobre os investimentos. Portugal conseguiu ter, a nível mundial, uma capacidade grande na área do turismo. que nos tem permitido receber prêmios atrás de prêmios. O Brasil tem uma capacidade imensa na área do turismo que está claramente subaproveitada, o que é assumido pelos próprios brasileiros. Portugal pode ter um papel no crescimento dessa área, porque nós nos especializamos no turismo, especialmente no turismo de segmento mais alto.
E como ficam os investimentos brasileiros em Portugal?
A AICEP é muito ambiciosa relativamente ao nível de investimento brasileiro, queremos que ele cresça. Para nós conseguirmos maior investimento brasileiro, os brasileiros precisam realizar duas coisas. Têm de conhecer melhor Portugal e precisa de alguém em Portugal que faça esse caminho com eles. Esse alguém, em Portugal, chama-se AICEP. A AICEP existe exatamente para acolher, informar e fazer todo o percurso do investimento com o investidor internacional. Essa é a nossa missão. Nós somos uma agência pública e, portanto, um investidor brasileiro, de pequena, média ou grande dimensão, que quer investir em Portugal no mercado conhece pouco, tem na AICEP o parceiro ideal para fazer esse percurso do começo até o fim.
Quantas consultas de brasileiros a AICEP recebe mensalmente?
A AICEP tem duas grandes funções. Uma delas é a captação de investimento estrangeiro, a outra é a internacionalização, que é mais uma área onde eu estou, que é levar as empresas portuguesas para o resto do mundo. Em relação aos brasileiros, sei é que existem muitas manifestações exploratórias. Estamos naquela fase em que se fazem perguntas, mas não se apresentam propostas, não se tomam decisões. Não tenho a métrica de quantos é que mensalmente nos procuram, até porque há muitos contatos informais.
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