Discípulo de Pepe Mujica assumirá o poder no Uruguai

Cinco anos após ter deixado o poder depois de três governos consecutivos, entre 2005 e 2015, a esquerda uruguaia assumirá novamente a Presidência do país neste sábado, quando será empossado Yamandú Orsi, discípulo do ex-presidente José “Pepe”Mujica. O ex-prefeito do departamento (estado) de Canelones, segundo maior do país, tem 57 anos, fez sua carreira política no Movimento de Participação Popular (MPP), liderado por Mujica dentro da coalizão de esquerda Frente Ampla, e representa uma nova geração de dirigentes esquerdistas que surge com força no país. Sua prioridade, frisada ao longo de toda a campanha eleitoral, é tornar o Uruguai um país menos desigual e reduzir a taxa de pobreza, sobretudo entre as crianças.

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No ano passado, em plena campanha eleitoral uruguaia, o Unicef divulgou dados de pobreza infantil no mundo e, no ranking global, o país ocupou a 37ª posição, de um total de 40 nações. De acordo com esses dados, 31,1% das crianças uruguaias vivem abaixo da linha da pobreza.

— Quando se trata de crianças, 1% já nos dói — declarou o então candidato, que também questionou o governo de seu antecessor, o líder de uma coalizão de centro-direita Luis Lacalle Pou, que hoje deixa o poder.

No Uruguai, o governo mede a pobreza de duas maneiras diferentes: por renda, e considerando elementos como acesso a saúde e educação, entre outros. No primeiro caso, indicadores oficiais do primeiro semestre de 2024 mostraram que cerca de 9,1% dos uruguaios (segundo o censo de 2023, a população do país é de 3,5 milhões de habitantes) eram pobres. A chamada “pobreza multidimensional”, no entanto, atingiu 18,9%.

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O reforço das políticas sociais será o pilar de um governo que terá como principais aliados na região Brasil, Chile, Colômbia e México. Os presidentes dos três primeiros estarão presentes na cerimônia de posse. Já a presidente do México, Claudia Sheinbaum, enviou um alto funcionário de seu governo a Montevidéu.

Lula será uma das presenças internacionais mais importantes e foi o primeiro presidente que Orsi visitou após sua vitória nas eleições do ano passado. O encontro entre ambos, comentaram fontes brasileiras, foi “altamente produtivo, e ouve uma sintonia muito grande entre os dois presidentes”. O governo brasileiro espera encontrar em Orsi um aliado importante em temas da agenda regional e, também, no novo cenário traçado após a posse de Donald Trump, nos Estados Unidos.

— Orsi representa uma nova geração de dirigentes de esquerda do Uruguai, que iniciou sua carreira política no final da ditadura (1974-1985) e cresceu já no período democrático. Será natural sua aliança com o Brasil — explica Carlos Luján, professor de Relações Internacionais na Universidade da República.

Para o analista, “a influência de Mujica é grande no novo presidente, embora Orsi tenha uma experiência de governo em Canelones muito própria”.

— Mujica, enquanto puder, será um facilitador, por exemplo, na relação com o Brasil. Uma pessoa que aproxime Orsi de outras lideranças na região — acrescentou Luján, lembrando, no entanto, que o próprio Mujica retirou seu apoio ao governo Maduro e admitiu que a Venezuela tornou-se um regime ditatorial. — Em matéria de política internacional, além das relações com a região, o governo quer impulsionar o acordo entre Mercosul e União Europeia. Será um governo de esquerda pragmático, que não titubeará em chamar a Venezuela de Maduro de uma ditadura.

Orsi terá um Gabinete com mais homens que mulheres, mas com ministras em pastas importantes, como Defesa. De acordo com a analista Mariana Pomiés, diretora da empresa de consultoria Cifra, “não se deve esperar uma grande guinada política no país. O que, sim, devemos esperar é um governo mais atento a questões sociais”.

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Outro foco de Orsi, frisou a analista, será impulsionar o crescimento do país, após anos complicados. Em 2020, em plena pandemia da Covid-19, o PIB uruguaio sofreu, segundo dados oficiais, retração de 6,1%. Depois de crescer 4,4% em 2021 e 5,6% em 2022, no ano seguinte o PIB registrou aumento de apenas 0,4%. Em 2024, de acordo com estimativas de analistas, o crescimento uruguaio ficou entre 3,1% e 3,5%.

— O governo de Orsi buscará promover o desenvolvimento econômico. É provável que também impulsione políticas de sustentabilidade — assegura Pomiés. —Será um retorno da esquerda, sem sobressaltos.

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