Cientista alega que foi impedido de estudar doença cerebral misteriosa no Canadá – Ciência & Saúde

Um cientista canadiano alegou em emails obtidos pelo jornal britânico The Guardian ter sido impedido de investigar uma doença cerebral misteriosa, na província de New Brunswick, no Canadá. Nos emails, alguns datados de 2023, o microbiólogo Michael Coulthart diz temer que mais de 200 pessoas afetadas pela doença estejam a sentir um declínio neurológico.

REUTERS/Yves Herman

Segundo o jornal britânico, as alegações presentes nos emails surgiram cerca de dois anos depois de as autoridades de saúde de New Brunswick terem encerrado uma investigação sobre o caso. Ficou determinado que um grupo de pacientes havia sido provavelmente mal diagnosticado, e que sofria de doenças já conhecidas como cancro ou demência.
“Há algo real a acontecer [em New Brunswick], que não pode ser explicado pelo preconceito ou pela agenda pessoal de um neurologista individual”, escreveu Michael Coulthart em emails enviados a um colega, onde também se queixa de ter sido “essencialmente retirado” da investigação por razões políticas. 

As autoridades de saúde da província canadiana deram conta que só em 2021, mais de 40 residentes sofriam de uma possível síndrome neurológica desconhecida cujos sintomas se assemelhavam aos da doença de Creutzfeldt-Jakob, uma doença degenerativa. De acordo com o The Guardian, estes efeitos secundários seriam variados, de salivação excessiva a sensações de insetos a caminhar pela pele.

“Acredito que a verdade se afirmará com o tempo, mas por enquanto tudo o que podemos fazer… é continuar a recolher informações sobre os casos que nos chegam como suspeita de doença causada por príons”, um tipo de proteína que causa distúrbios encefálicos degenerativos, escreveu Coulthart.

O comité e o governo de New Brunswick lançaram ao mesmo tempo dúvidas sobre o trabalho do neurologista Alier Marrero, que identificou dezenas de casos na região. Desde então, o médico tornou-se um defensor dos pacientes que considera terem sido negligenciados pelas autoridades de saúde. Colocou a hipótese de a doença ser provocada por glifosato, um herbicida controverso cujo uso é autorizado na União Europeia. 

Ao The Guardian, as autoridades de saúde de New Brunswick disseram que “apesar de o dr. Alier Marrero ter feito declarações sobre descobertas e observações sobre um grande número de pacientes, desde maio de 2023, a agência [de saúde pública] recebeu um total de 29 notificações completas do dr. Marrero” que estão a ser “revistas”. Outros médicos não fizeram notificações. 

Os emails sugerem que também os cientistas agência de saúde pública do Canadá (PHAC) continuam cada vez mais preocupados com esta doença, assim como com os sintomas debilitantes que afetam desproporcionalmente os mais jovens, refere o jornal britânico.

Ainda que pouco se saiba sobre esta doença mistériosa, Michael Coulthart diz acreditar que a “exposição ambiental, ou uma combinação de exposições, está a desencadear e/ou a acelerar uma variedade de síndromes neurodegenerativas”. Os que sofrem desta possível doença pedem apoio e garantem que o governo tem ignorado a situação.

“Os políticos não querem reconhecer que há algo sério a acontecer, porque precisariam de resolver o problema”, disse uma jovem citada pelo The Guardian, ao acrescentar que desde que a província publicou o seu relatório final, que não recebeu qualquer assistência ou acompanhamento apesar de ter apresentado um agravamento dos sintomas.

A jovem sofre de tremores musculares e má coordenação. Os médicos acrescentaram até que a deterioração visual e de memória lembram a de um paciente de décadas mais velho.

“A minha condição está a progredir e as coisas têm sido muito mais desafiantes”, afirmou. “Sinto falta de poder conduzir e de ter uma sensação de independência. Não me reconheço por dentro.”

À medida que a sua memória se deteriora, a jovem vai precisando casa vez mais de lembretes para atividades tão básicas como tomar medicamentos, tomar banho ou até mesmo comer. Quanto à alimentação, a mulher, que não quis ser identificada, garante que já não consegue cozinhar, devido à falta de controlo sobre as mão. Agora depende meramente de refeições congeladas.