Brasileiros em Portugal – Portuguese Cycling Magazine

Aquilo que denominamos ‘ciclismo nacional‘ tem uma definição clara. Trata-se de um conjunto de provas no território de Portugal, organizadas pela Federação Portuguesa de Ciclismo ou por empresas portuguesas, disputadas maioritariamente por equipas portuguesas, com um conjunto de ciclistas maioritariamente portugueses.

Nem esta definição nem o próprio ciclismo nacional são perfeitos, como nada na vida é. Mas as condições do nosso país são suficientes para que ciclistas de outros nacionalidades, para além da maioria de portugueses, possa seguir o sonho das duas rodas. E um dos países que sempre procurou esse sonho em Portugal é o Brasil.

A língua e a história comuns com o ‘país irmão‘ facilitam a adaptação. A prova viva é Cássio Freitas, que representou o Boavista durante os anos 90 e conquistou a Volta a Portugal e a Volta ao Algarve. Mas foi nos anos 2000 que o ciclismo brasileiro ganhou notoriedade mundial, com Murilo Fischer no setor masculino e Flávia Oliveira no setor feminino.

Murilo Fischer venceu no World Tour. Foto: Getty Images

Enquanto a paisagem externa ganhava a bandeira do Brasil, a paisagem interna era manchada por escândalos de doping. No ciclismo de estrada, a equipa Funvic – Pindamonhangaba, que participou na Volta a Portugal em 2012 e 2016, acabou suspensa pela UCI. Mesmo assim, os Jogos Olímpicos do Rio 2016 deram um novo impulso, promovendo melhores infraestruturas, e atletas como Tota Magalhães (Movistar Team) e Vinícius Rangel (mesma equipa, até recentemente) puderam restituir alguma da credibilidade perdida.

Na escala de Portugal, Andrey André (GI Group Holding-Simoldes -UDO), Victor de Paula (Feirense-Beeceler) e Guilherme Lino (Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua) também beneficiaram da evolução recenete do ciclismo brasileiro. Os dorsais 193 e 177 da 51ª Volta ao Algarve contaram-nos as suas histórias.

Origens e desafios no ciclismo

As origens de Victor de Paula e Guilherme Lino no ciclismo têm algumas semelhanças. Ambos pegaram na bicicleta por influência de familiares: o primeiro “com influência do meu padrinho” e o segundo “através do meu pai, que foi atleta profissional.” E ambos se destacaram nas provas juvenis do Brasil, especialmente Guilherme ‘Katrakinha’ com uns impressionantes 10 títulos nacionais!

Outra coisa que eles têm em comum é a passagem pela formação Landeiro | KTM | Matias&Araújo, que tem uma ligação umbilical com a Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua através de João Matias. Porém, quando se tornou sub-23, a falta de opções em Portugal levou Victor de Paula à equipa de Alejandro Valverde: “Os primeiros dois anos foram muito complicados. Mas no ano passado foi bom, tive bons resultados”, contou o ciclista de 21 anos.

Também Lino teve um percurso pouco linear: “Vim para Portugal e fiquei três meses. Foi um período bom, de aprendizagem. Muitas provas não terminei… Mas voltei para o Brasil, fiz uma grande época de preparação, voltei [para Portugal] e ganhei algumas provas importantes“, completou o ciclista de 18 anos, que venceu uma prova da Taça de Portugal de Júniores e uma etapa da Volta a Portugal do Futuro.

Assim, voltando a convergir, ambos assinaram contratos com equipas portuguesas em 2025. Sobre o Feirense-Beeceler, Victor de Paula admite que “é uma equipa muito boa. Estou muito feliz de estar fazendo parte dela. Me sinto muito acolhido.” Já Guilherme Lino aponta “uma adaptação boa. Melhor ainda, estou a ter oportunidade de correr a Volta ao Algarve” na Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua.

Volta ao Algarve dá o pontapé de saída

Talvez a história dos ciclistas brasileiros em Portugal não seria contada sem o mérito destes dois na Volta ao Algarve. Guilherme Lino alinhou à partida como o ciclista mais jovem em competição, um estatuto que traz alguma curiosidade. Por isso, logo na primeira etapa, ele decidiu que queria entrar na fuga do dia… e conseguiu, mesmo que a consequência tenha sido o abandono:

“Junto com o meu técnico, já era certo a gente fazer uma fuga. Não importava se eu terminasse. Mas na minha opinião, eu tive atitude. Fui até ao km 110, senti-me bem, entreguei tudo de mim. Acho que eu fiz a diferença e mostrei o nome da equipa. Sou o atleta mais novo da Volta e também, para mim, não seria interessante terminar todos os dias em último“, explicou o ‘Katraquinha’.

Victor de Paula também obteve algum destaque, mas na terceira etapa e a partir do pelotão. No sprint acérrimo de Tavira, ele esteve na luta por colocação e acabou num honroso 18º lugar: “Me sentia bem. Até ia tentar sair na fuga, mas sabia que podia ser neutralizado na chegada. Me poupei bastante e na chegada dei o meu melhor. Infelizmente não consegui estar muito à frente; por conta da queda, perdi alguns metros. Mas foi um bom resultado.”

Com o ‘batismo de fogo’, Victor de Paula e Guilherme Lino podem muito bem ter conquistado a sua oportunidade no ciclismo nacional. Fora de Portugal, enquanto o ciclista do Feirense-Beeceler aponta ao campeonato nacional do Brasil, o ciclista da Tavfer-Ovos Matinados-Mortágua quer somar mais um título panamericano. Em uníssono, o objetivo último é a Volta a Portugal do Futuro.


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