Longevidade em Portugal – Renascença

Em junho, a revista The Economist publicou um artigo sobre como os países do sul da Europa (Espanha, Itália, Portugal e França) usufruem de uma maior longevidade. Outrora um recorde detido por uma mulher francesa, a pessoa mais velha do mundo, Mari a Branyas Morera (117 anos) é, atualmente, espanhola. A razão por detrás da longevidade do sul da Europa está claramente associada à dieta e à prática de exercício físico, mas também, e mais surpreendentemente, à existência de uma vida social rica. O que devemos fazer perante esta nova longevidade? Estará o mundo dos negócios pronto para abraçar as implicações desta tendência?

Em paralelo, na CATÓLICA-LISBON, decorria o primeiro programa executivo sobre longevidade, Longevity Leadership, lançado em conjunto com a minha colega Avivah Wittenberg-Cox, CEO da consultora 20-first e guru de longevidade. Foi um programa muito inovador que reuniu professores e especialistas globais para explorar os impactos da longevidade nos países, cidades, empresas, consumidores e talento, e preparar empresas e indivíduos para estas mudanças. O programa acolheu participantes de sete nacionalidades (Estados Unidos, México, Reino Unido, Itália, França, Espanha e Portugal).

Miguel Gouveia, professor de Economia da CATÓLICA-LISBON, começou por discutir os impactos económicos das populações envelhecidas, enfatizando a importância da longevidade e da qualidade de vida. Introduziu o conceito da esperança de vida saudável, que tende a aumentar à medida que a esperança média de vida cresce. Gouveia destacou que a força de trabalho nos EUA deverá crescer, enquanto a da Europa diminuirá, precisando, por isso, de mais investimentos em educação, formação e imigração. Na verdade, melhorias na capacidade funcional e no emprego de trabalhadores com mais de 50 anos serão cruciais para compensar potenciais desacelerações do PIB.

Nicola Palmarini, diretor do NICA (UK National Innovation Center for Aging), apresentou o conceito da “Cidade da Longevidade”, defendendo intervenções sistémicas para transformar as cidades em lugares habitáveis durante todas as fases da vida. O especialista destacou que a maioria dos investimentos em longevidade está concentrado na medicina, que, no entanto, representa apenas uma pequena parte dos fatores que influenciam a saúde. Palmarini sublinhou o papel das cidades em termos de infraestruturas e cultura na promoção da saúde e bem-estar a longo prazo.

Michael Clinton, CEO da ROAR Forward (uma plataforma que prepara os negócios para o segmento 50+), versou sobre o poder económico das pessoas com mais de 50 anos, que está a redefinir o envelhecimento e a reforma. Os seus dados mostram que este grupo detém uma riqueza significativa, estimando-se que os consumidores dos EUA com mais de 50 anos irão gastar quase 13 triliões de dólares até 2030. Clinton defendeu representações atualizadas dos adultos mais velhos nos media e na publicidade, destacando a necessidade de as marcas representarem autenticamente esta demografia para preservar a sua lealdade. Por exemplo, hoje, metade das decisões de compra são feitas por consumidores de 50 anos ou mais. Porém, apenas 5% das despesas de marketing estão concentradas neste “segmento”.

Lisa Edgar, CEO da The Big Window (uma consultora de análise de consumidores 50+), focou-se nas mudanças comportamentais dos consumidores mais velhos. A especialista explicou que, muitas vezes, a perceção individual da idade difere da idade cronológica e enfatizou a importância de as empresas capacitarem e colaborarem com os consumidores mais velhos. Edgar defendeu uma abordagem mais granular face à segmentação dos consumidores com mais de 50 anos, que representam uma parte substancial do mercado. Para colocar estas ideias em prática, foram apresentados dois casos de indústrias emblemáticas na longevidade, seguros e saúde, que já têm uma segmentação e oferta mais preparadas para esta nova realidade.

Martin Frölander, CEO da Junoverse (uma plataforma digital de AgeTech), discutiu as implicações da longevidade nas carreiras e no design organizacional. Destacou também a importância de garantir vidas profissionais mais longas e uma maior participação feminina para contrariar a diminuição da força laboral e potenciais quedas do PIB. Frölander apelou a experiências individualizadas para os empregados e a estratégias abrangentes de longevidade, incluindo progressões na carreira e preparação para a reforma, de forma a apoiar os profissionais mais velhos e aumentar a longevidade organizacional.

Depois de contextualizarmos a longevidade nas nossas vidas, é importante prever as suas implicações em termos económicos, sociais e no mundo dos negócios. O programa de Longevity Leadership destacou os impactos profundos de uma população envelhecida nas sociedades, economias e bem-estar individual. Desde estratégias económicas até ao planeamento urbano, passando pelo comportamento do consumidor e pelas políticas organizacionais, os docentes forneceram uma visão multifacetada das oportunidades e desafios futuros.

Os participantes apreciaram a abordagem holística e sublinharam a importância de integrar estratégias de longevidade nas agendas empresariais. À medida que o programa terminava, tornou-se claro que abraçar os insights sobre longevidade é crucial para fomentar sociedades e negócios que valorizem e aproveitem o potencial das suas populações envelhecidas. Concluímos que a longevidade é uma das maiores tendências do século XXI.


Céline Abecassis-Moedas, diretora da Formação de Executivos da Católica Lisbon Business School & Economics

Este espaço de opinião é uma colaboração entre a Renascença e a Católica Lisbon School of Business and Economics

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