Por que o morcego-cabeça-de-martelo tem essa aparência? | Terra da Gente

O morcego-cabeça-de-martelo pertence a uma família chamada de Pteropodidae, que compreende os maiores morcegos do mundo, chamados popularmente de raposas-voadoras — Foto: Sarah Olson

Entre as milhares de espécies de morcegos que existem no mundo, os machos do morcego-cabeça-de-martelo (Hypsignathus monstrosus) têm uma das aparências mais peculiares: uma cabeça grande e retangular com uma protuberância no rinário (área em volta das narinas), a laringe e cavidades da face bem aumentadas, lábios proeminentes e com apêndices, bolsas nas bochechas e tufos de pelos brancos atrás das orelhas.

“Essa aparência é decorrente de adaptações sexuais. A forma da face é decorrente de uma anatomia própria pra emitir sons extremamente altos, com diferentes frequências e entonações, para poder atrair as fêmeas durante as performances reprodutivas, que são muito características nessa espécie”, explica o especialista em morcegos Roberto Leonan Novaes, pesquisador na Fiocruz Mata Atlântica, Fundação Oswaldo Cruz ( RJ).

Essas performances acontecem em um sistema de acasalamento conhecido como lek. “Esse comportamento se caracteriza pela concentração de machos em um local específico para atrair as fêmeas. Essas aglomerações podem juntar centenas de machos que competem entre si exibindo características físicas e emitindo sons e cantos para conquistar a atenção das fêmeas. Essa competição pode resultar em comportamentos agressivos entre os machos, que competem pelos melhores locais de destaque no lek. As fêmeas selecionam os machos a partir de sua performance e menos de 30% de todos os machos conseguem copular”, diz Novaes, que acrescenta que o lek não é exclusivo da espécie.

AS fêmeas da espécie são menores e têm uma aparência com traços mais discretos.

A fêmea do morcego-cabeça-de-martelo — Foto: Bart Wursten (Creative Commons)

O dimorfismo sexual (diferença entre machos e fêmeas), de acordo com o pesquisador, não é comum de ocorrer nas espécies de morcegos. “Para a maioria das espécies, não há diferenças identificáveis entre machos e fêmeas (com exceção da genitália). Mas para as espécies onde há dimorfismo, a maioria é no tamanho corporal. Casos de dimorfismo na forma física, na coloração da pelagem ou ornamentos são bastante raros em morcegos e certamente, o morcego-cabeça-de-martelo representa o caso mais emblemático que se conhece”.

Além das adaptações físicas para atrair as fêmeas, o morcego-cabeça-de-martelo conta com um sistema de acasalamento conhecido como lek, que também ocorre com outras espécies. “Esse comportamento se caracteriza pela concentração de machos em um local específico para atrair as fêmeas. Essas aglomerações podem juntar centenas de machos que competem entre si exibindo características físicas e emitindo sons e cantos para conquistar a atenção das fêmeas. Essa competição pode resultar em comportamentos agressivos entre os machos, que competem pelos melhores locais de destaque no lek. As fêmeas selecionam os machos a partir de sua performance e menos de 30% de todos os machos conseguem copular”, diz Novaes.

Os morcegos-cabeça- de-martelo são grandes, com comprimento cabeça-corpo que pode chegar a 25 cm, envergadura de asas de até 85 cm e pesar até 420 g

O mocergo-cabeça-de-martelo conta com um sistema de acasalamento conhecido como lek — Foto: Francis Asamoah/INaturalist

Exclusivos do continente africano, esses mamíferos ocorrem em vários países como na Guiné Equatorial, Sudão, Etiópia, Uganda, Quênia, Congo, Gabão e Angola. “Esses morcegos não ocorrem no Brasil e nem se quer possuem qualquer parente próximo nas Américas. De fato, é uma linhagem muito distinta dos morcegos brasileiros”, ressalta o pesquisador.

Em relação à alimentação, os morcegos-cabeça-de-martelo são frugívoros e ajudam na reprodução de muitas plantas, a medida que dispersam as sementes.

O morcego-cabeça-de-martelo é frugívoro — Foto: Venkat/INaturalist

Alguns dos morcegos-cabeça-de-martelo são portadores assintomáticos do vírus Ebola, mas o pesquisador Novaes alerta sobre essa questão: “Foram detectados anticorpos específicos para o vírus ebola em alguns Hypsignathus monstrosus. Porém, o vírus em si nunca foi isolado nesse morcego. Ou seja, há evidências de que esse morcego possa participar da circulação silvestre do ebola, mas ainda não se sabe a sua efetividade como reservatório do vírus e nem seu papel na transmissão para humanos”, finaliza.

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