Último dia de votação nos «Portugal Travel Awards» do Publituris

KIPT é uma plataforma colaborativa que dá suporte a formuladores de políticas, agentes da indústria e estudantes/profissionais na área do turismo, fornecendo pesquisas de ponta e informações atualizadas, visando promover uma indústria de turismo mais sustentável e resiliente, ao mesmo tempo em que aumenta o valor da profissão de turismo. O que tem feito e os planos de futuro são o mote desta entrevista.

Este projeto nasce porquê e para quê?
Este projeto nasceu há uns oito anos. Fizemos a agenda de inovação e investigação para o turismo com a Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT), a primeira vez que foi feito algo do género em Portugal. O turismo não é uma área científica, portanto, na FCT, normalmente os projetos que estão associados ao turismo vêm sempre colados a uma área científica-mãe e nunca como autónomos. Acontece que o turismo é um setor extremamente multidisciplinar e a verdade é que toca em várias áreas com grande foco nas ciências sociais, mas também científicas.

Nessa altura, também, sob a chancela do ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Manuel Heitor, foi lançado um pacote de programas para laboratórios colaborativos, estrutura que põe a ciência ao serviço da sociedade. Pegou num conjunto de investigadores, de académicos, com provas dadas, e criou uma estrutura que nos permite utilizar os conhecimentos para produzir conhecimento que faça sentido à sociedade.

Não há grande tradição de investigação em turismo
Porquê na área do turismo?
No setor do turismo não havia nenhum laboratório colaborativo na altura. Neste momento já são 35 laboratórios colaborativos em várias áreas. Também não há uma grande tradição de investigação na área do turismo e, portanto, lançámos um projeto de criação de um laboratório colaborativo em turismo.

Fala-se em muitas coisas quando se fala de turismo, mas a investigação em turismo tem dois focos fundamentais neste momento no país. A governação dos destinos, o planeamento e a gestão dos destinos, e o marketing. E é por aí que a investigação em turismo tem andado sempre. A verdade é que Portugal já é um destino consolidado, e continuamos a precisar de investigação relacionada com estas temáticas, mas precisamos principalmente de valorizar e capacitar aquilo que já temos, e um dos grandes problemas é a mão-de-obra, os recursos humanos.

À parte da necessidade de desenvolvimento e de implementação tecnológico no turismo, que tem vindo a ser feito, de todos os problemas da sustentabilidade que também estão muito presentes na agenda de investigação, a verdade é que o turismo são pessoas, a nossa grande valia no país são as pessoas, é o nosso sorriso fácil, é a nossa tradição e a nossa cultura de receber.

Por isso, este laboratório colaborativo nasce com dois propósitos. Um primeiro, atrair, capacitar e reter talentos e, por outro lado, assegurar e continuar a garantir a competitividade sustentável do destino. Foi então criada uma associação privada sem fins lucrativos, reconhecida pela Fundação da Ciência e Tecnologia e pela Agência Nacional de Inovação.

Trabalhar com todos
E o que pretendem com este laboratório colaborativo?
Trabalhar com pessoas, com os empresários, com o setor, e com os dirigentes públicos para criar investigação e conhecimento que sirvam para a tomada de decisões, e tentar resolver estes dois grandes eixos estratégicos que alicerçam toda a atividade turística.

Criámos essa associação, temos neste momento aquilo que denominamos de academia com empresários e académicos, que também é algo que nem sempre é fácil de conseguir, porque temos linguagens diferentes, e também porque às vezes os projetos de investigação têm um tempo de execução maior do que aquilo que o empresário espera. Há aqui sempre uma necessidade de tentarmos resolver essas diferenças e divergências, para conseguirmos construir. O que é que queremos? Contribuir para que o turismo seja cada vez mais resiliente e mais sustentável, e vamos fazê-lo valorizando as profissões e reforçando a competitividade do setor.

 

Um primeiro propósito é atrair, capacitar e reter talentos e, por outro lado, assegurar e continuar a garantir a competitividade sustentável do destino

 

Este vosso trabalho também permite que o próprio setor, publico e privado, possa perspetivar o futuro?
O objetivo é que o empresário dite aquilo que é importante para ser estudado, a opinião dele sobre que investigações são necessárias fazer para continuarmos a garantir estes dois grandes objetivos. É ele quem nos diz quais são as investigações que precisa, o que é que precisa perceber e é por aí que estamos a ir, a trabalhar numa lógica muito próxima para conseguirmos construir um futuro pelo menos mais informado e com alguma ciência por trás, porque inovação sem investigação não existe.

Diversificação das áreas de atuação
Qual é o papel das associações empresariais?
Tínhamos como restrição que nenhum associado podia ter menos de 5% do capital, assim, contas feitas só podíamos ter 20 associados, e o grande objetivo da escolha dos associados foi tentar diversificar ao máximo as áreas de atuação e descentralizar.

Temos oito instituições de ensino superior tendo escolhido aquelas universidades que têm o maior número de estudantes na área do turismo: a Universidade do Algarve, a Lusófona, a Europeia, a de Évora, o Instituto Politécnico de Leiria, o de Bragança, o ISEG e o ISCTE.

Criámos uma ligação muito próxima também com as associações do setor com vista a fazer uma ponte com os empresários, tais como a AHRESP, a AHETA e a Associação de Turismo do Algarve e esperemos poder vir a ter mais, pese embora a restrição dos tais 20, que esperemos que um dia seja ultrapassada.

E porque competitividade e sustentabilidade passam muito por questões tecnológicas, é essencial termos connosco um conjunto de empresas que trabalham a ciência dos dados, e fomos buscar a SGS Portugal, a Host Hotel Systems e a Algardata, porque são empresas que reúnem grande parte da informação que o setor gera e são especialistas na gestão e na ciência de dados, fundamentais para se fazer a investigação hoje. Ao nível das cadeias hoteleiras contamos com a Vila Galé, o Pestana Group e a Hoti Hotéis, e como não queríamos deixar de fora os mais pequenos, também fomos buscar duas startups que se diferenciam bastante no mercado: a Upstream, que trabalha muito com os territórios de baixa densidade, e a Blue Geo Lighthouse, empresa que faz turismo científico ligado ao mar, um dos nossos principais recursos. Queremos continuar a trabalhar com todos, quer seja na qualidade de associado, de parceiro estratégico ou de futuros associados aderentes.

Entretanto, colaboram com outros laboratórios criativos, por exemplo para o trabalho que fizeram recentemente sobre os Spas…
A essência de um laboratório colaborativo é a colaboração, e sendo o turismo uma área multidisciplinar precisamos de todos para construir conhecimento sólido, robusto e resiliente.  Surgiu a ideia de criarmos um consórcio entre laboratórios colaborativos para elaborarmos algumas candidaturas. Esta dos Spas não é a única, mas já é vencedora e o projeto que já está na rua, e foi aprovado pelo PT 2030, tem como grande objetivo diferenciar e descarbonizar os Spas. Neste sentido, aliámos ao S2 Aqua e ao Green CoLab, este um laboratório que trabalha fundamentalmente produtos que permitem essa descarbonização, como por exemplo as algas, para criarmos uma cadeia de valor de produtos endógenos que possam ser usados nos Spas, promovendo a economia circular e a sustentabilidade, fugindo dos químicos que às vezes a cosmética nos oferece. Estamos a começar e já fizemos o primeiro workshop sobre o projeto, que é para continuar.

Mais do que estudos
O KIPT só faz estudos?
Não fazemos só estudos. Neste momento, estamos a entrar no quarto ano de atividade, pois após a criação deste laboratório colaborativo tivemos de passar por toda uma fase de burocracias necessárias, o que levou algum tempo antes de iniciar as atividades, mas já concluímos oito projetos, fizemos 41 workshops, webinars, podcasts e já publicámos seis artigos científicos e dois livros, porque o nosso objetivo é disseminar ciência e pô-la ao serviço.

Dos projetos já concluídos, poderia falar de um que foi particularmente interessante, “Demissão Silenciosa”. Fomos à procura daquelas pessoas que estão no trabalho, mas já não estão, ou seja, não se demitiram, mas estão ali apenas a cumprir horários, fazendo o necessário para manter o seu posto de trabalho e sem grandes objetivos.

Depois, há um tema que também estava a ser muito falado, o da imigração na profissão em turismo. Foi um trabalho bastante comentado porque não temos mão-de-obra suficiente, a população está envelhecida e estamos a importar mão-de-obra. Portanto, nos próximos 20 anos não vamos ter assim tantas pessoas novas para trabalhar e para encetar uma profissão em turismo. Ouvia-se dizer muito coisa sobre esta temática e nós estivemos a estudá-la através de vários segmentos, e a conclusão não é tão desfavorável, uma vez que mais de 60% destas pessoas, querem ficar, sediar-se em Portugal e continuar a trabalhar, por isso, vale a pena apostar nelas. Além disso, temos um nicho que eu não estava à espera que aparecesse que é um conjunto de europeus que querem vir trabalhar para Portugal, pela nossa reputação, durante um período, maioritariamente de países cuja tradição em turismo é relativamente baixa.

Fizemos também um estudo encomendado pela AHETA, que é o capital humano na hotelaria e restauração no Algarve, que utilizou uma metodologia de cenários e um conjunto de indicadores para prever qual é realmente a mão-de-obra que faz falta para trabalhar na região. Continuamos a importar pessoas, mas afinal quantos é que precisamos? É importante termos essas métricas para não entrarmos numa política desenfreada de importação de mão-de-obra sem o devido planeamento.

Por outro lado, face ao decréscimo do número de estudantes em turismo, fomos falar com eles e perceber quais são as motivações para trabalhar neste setor, e percebemos que são sempre o facto de não ser uma profissão nada aborrecida, em que todos os dias têm situações novas, e o que falha é que eles, fazendo um curso em turismo, esperam viajar. A verdade é que depois acabam no hotel e não viajam assim tanto. Já foi proposto, estamos a trabalhar nisso, de criar um programa de estágios dentro das cadeias hoteleiras, pelas diferentes cidades onde elas têm hotéis, para permitir esta mobilidade que os jovens querem.

Uma vez que se fala tanto de capacitação, tentámos, igualmente, perceber qual o perfil do profissional em termos de competências e formações, o que é que eles já têm e o que é que ainda precisam.

Grande parte fala da necessidade de aperfeiçoar as suas competências interpessoais, analíticas e digitais, as mais requisitadas neste momento. É um alerta que estamos a levar também às escolas para que possam reformatar os seus cursos.

Participámos também no Incode2030, um estudo liderado pela Deloitte, em que se faz um levantamento das formações e das competências digitais que a população tem e que as empresas oferecem. O relatório não é muito famoso, mas há ainda um caminho muito grande para percorrer nesta área.

O último estudo, dos muitos que estão para vir, foi apresentado a dia 8 de abril em Leiria: o Cool Jobs. Neste momento há uma corrente de investigação que fala sobre os destinos cool ou os restaurantes cool, então porque não perceber o que é cool na profissão em turismo e o que não é.

Os resultados são bastante interessantes, o conceito de família, o servir as pessoas, o contacto com as pessoas são elementos cool, enquanto os menos cool são a questão do estágio, dos turnos, da quantidade de horas a trabalhar, ou do calor do forno.

 

O que é que queremos? Contribuir para que o turismo seja cada vez mais resiliente por parte das pessoas e mais sustentável, e vamos fazê-lo valorizando as profissões e reforçando a competitividade do setor

 

Barturs é um novo projeto
Têm já agendado a apresentação de um novo projeto…
Em maio vamos apresentar o BarTurs, uma plataforma digital com dois níveis de informação – micro e macro – ou seja, um barómetro da profissão do setor e a oportunidade de termos previsões robustas com o intervalo de confiança de 95% e que nos permite ter uma visão clara do que é que vai acontecer quer ao nível do mercado de trabalho, quer ao nível do próprio setor.

Estes projetos não são estáticos. Vão voltar a estes temas ou a atualizá-los se for necessário?
Voltam-se a estes temas sempre que for necessário. Aliás, está previsto continuarmos a fazer o estudo sobre os imigrantes após terem tido formação ao abrigo de um pacote lançado recentemente. Agora é perceber se as condições que lhes demos superam ou não aquelas que tinham nos seus países, até que ponto estão satisfeitos para quererem continuar cá, e para que o investimento que fizemos valha a pena. O estudo será agora conduzido numa lógica de retenção e não tanto de atração.

Traduzir a ciência em linguagem prática
Como é que o setor tem reagido a esses vossos trabalhos?
A perceção que tenho é que os estudos são muito bem acolhidos, quer pelos media, quer pelo próprio setor. Há um esforço muito grande de traduzir tudo aquilo que é ciência numa linguagem muito prática e com implicações estratégicas muito objetivas, para que possa produzir efeitos. Há uma assimilação de conhecimento muito interessante, e queremos que a ciência contribua para uma sociedade melhor.

Além da questão da formação, que tem servido de tema para os vossos estudos, a gestão dos territórios também vos preocupa?
Aqueles primeiros oito estudos foram muito focados no primeiro eixo estratégico, que era atrair, capacitar e reter talentos. Caraterizados que estão os profissionais, os estudantes, os imigrantes, neste momento estamos a trabalhar em duas áreas. Na parte da capacitação vamos lançar até dezembro deste ano, a SkillUp, uma plataforma digital que é uma montra daquilo que melhor se faz no país, espelhando tudo o que são formações em turismo, nas várias instituições de ensino superior, nas escolas do Turismo de Portugal, nas academias de formação, para que possam ser utilizadas nas tais 40 horas anuais obrigatórias.

O grande objetivo é que o passo seguinte seja que estas formações, basicamente online, microcredenciais, possam vir a ser creditadas pelas instituições de ensino superior, para promovermos aquilo que eu chamo o regresso à escola. A nossa legislação permite que uma boa parte do curso seja feita com creditações e, portanto, se isso acontecer, pode ser que muitos daqueles profissionais que começaram a trabalhar muito cedo, cuja formação ainda é relativamente baixa, possam vir a requalificar-se, seja por via de poderem escolher qualquer formação que esteja disponível nas instituições de ensino superior, nas escolas do Turismo de Portugal do país todo, e até no estrangeiro.

Na área do turismo e em Portugal é a primeira vez que se está a tentar fazer algo desse género, e espero que a adesão seja bastante boa porque é uma forma de todos os alunos terem uma visibilidade. A verdade é que quem trabalha na hotelaria ou na restauração hoje está no Algarve, amanhã em Lisboa, no dia a seguir no Porto. Esta mobilidade entre escolas tem de ser promovida e diria quase que estamos a fazer um Erasmus nacional.

Estamos ainda a trabalhar um estudo sobre as remunerações no turismo, no alojamento e na restauração. O que queremos perceber é qual é o ciclo de vida na mesma função, a velocidade de progressão na carreira e até que ponto é que há uma disparidade tão grande entre as remunerações do setor do turismo, do alojamento e restauração e as de outros setores de atividade.

É fundamental para perceber se estamos numa situação tão crítica em termos salariais, sabendo que, no geral, em Portugal paga-se mal. Só a ciência é que nos pode dizer isso. Vamos também fazer esse comparativo entre homens e mulheres, pessoas com formação e sem formação, etc.

Há ainda dois estudos que estamos a fazer, o Cross Tech, projeto que pretende integrar soluções tecnológicas inovadoras no turismo, promovendo a digitalização e a automação para melhorar a experiência do cliente e a eficiência das operações, e o InovaAlgarve, mais voltado para a inovação no setor turístico, promovendo boas práticas, sustentabilidade os produtos endógenos e valorizar as economias locais, no sentido de preservar a nossa autenticidade, valorizar aquilo que temos de melhor. Temos dois anos para os fazer.

 

Já concluímos oito projetos, fizemos 41 workshops, webinars, podcasts e já publicámos seis artigos científicos e dois livros, porque o nosso objetivo é disseminar ciência e pô-la ao serviço

 

Novos desafios
Quem é que financia estes projetos?
Estes projetos têm um capital que é dos associados e que nós estamos a gerir. Além disso, há financiamentos aos quais concorremos através de fundos europeus como o PRR Interface, temos quatro financiamentos do PT2030, e tivemos um da FCT, bem como várias candidaturas submetidas ao Interreg, ao Erasmus, ao Horizonte.

Desafios?
O turismo continua a ter muitos desafios. O da sustentabilidade já não é uma necessidade, mas sim uma emergência, ou nos tornamos sustentáveis ou estamos a comprometer o futuro dos nossos filhos e dos nossos netos, portanto temos de nos adaptar às novas exigências da sustentabilidade, continuar a apostar na requalificação e na valorização dos profissionais do setor, e por isso estamos a trabalhar afincadamente nesse ponto, na digitalização e na gestão da sazonalidade, bem como na diversificação da oferta turística. Não acho que haja turistas a mais, há é produtos a menos e, portanto, temos é que diversificar e conseguir chegar a mais pessoas. Nunca ouvi nenhuma empresa a dizer que já chega de faturação. Se calhar temos é que oferecer coisas diferentes e temos de conseguir ter condições para levar o turismo para mais partes do país, porque continuamos a ter aldeias de uma pessoa só, o que, do ponto de vista social, é assustador. Daí valer a pena apostar nesta diversificação, quer territorial, porque território não nos falta, quer de experiência. Somos um azulejo de paisagens tão diversificadas, num quadrado relativamente pequeno, que vale a pena apostar na coesão territorial.

O nosso plano de atividades está estruturado para enfrentar estes desafios e ajudar o setor a evoluir de forma sustentável e competitiva.

Crédito: Link de origem

- Advertisement -

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.