Regulação, retenção de talentos, desemprego: entenda em 9 pontos os desafios do Brasil na era da IA

A inteligência artificia (IA) promete transformar o Brasil de diferentes formas. Economia, finanças, trabalho, saúde, entretenimento e até relacionamentos podem sofrer os impactos. No entanto, para poder extrair o máximo da tecnologia e anular seus efeitos negativos, o País precisa superar uma série de barreiras nos próximos anos.

Entre os desafios estão a transformação do mercado de trabalho, os impactos ambientais, a falta de letramento digital, restrições ao acesso tecnológico e a lentidão para adotar regulação e implementar um plano estratégico para IA.

Veja abaixo os nove desafios que o Brasil precisa superar para não perder o bonde da IA:

Mercado de trabalho: como lidar com os desempregados pela IA

Tecnologia tende a automatizar processos, resultando em redução de vagas Foto: Marcos Müller

O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que 40% dos empregos serão afetados pela IA até 2030. Embora a tecnologia prometa ganhos de produtividade e a criação de novos mercados, seus benefícios tendem a se concentrar em grandes empresas, multinacionais e trabalhadores altamente qualificados. Mesmo que não elimine certas profissões, a tecnologia tende a automatizar processos, resultando em redução de vagas. Sem políticas públicas eficientes de requalificação profissional, letramento digital e regulação responsável, a tecnologia pode aprofundar desigualdades já existentes de renda, acesso e oportunidades no País. O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA) e o Projeto de Lei 2.338/23, que propõe a regulação da IA, em tramitação na Câmara dos Deputados, preveem medidas de proteção aos trabalhadores, mas ainda não foram colocados em prática.

Pressão ambiental: alto consumo energético e de recursos naturais

Alta demanda por energia é preocupação; Brasil pode ter vantagem Foto: Marcos Müller

O crescimento acelerado da IA tem elevado drasticamente a demanda por energia, principalmente em aplicações que exigem alto poder de processamento com uso intensivo de placas de processamento gráficos (GPUs). Esse cenário impõe desafios ambientais sérios, como o aumento das emissões de carbono, o agravamento do aquecimento global e o alto consumo de água para refrigeração de data centers. Ao mesmo tempo, a IA oferece ferramentas para mitigar esses impactos, ao otimizar o consumo energético, aprimorar a gestão de redes elétricas e tornar mais eficientes setores como transporte, agricultura e geração renovável. No Brasil, o debate ganha contornos estratégicos: o País tem uma matriz energética majoritariamente limpa, o que pode atrair investimentos em infraestrutura tecnológica de menor impacto ambiental.

Privacidade e proteção de dados: vigilância e exploração de vulnerabilidades

Sem regulamentação, uso indevido de dados é grande alerta vermelho Foto: Marcos Müller

O avanço da IA tem intensificado preocupações com a coleta e o uso de dados pessoais no Brasil, muitas vezes sem o conhecimento ou consentimento dos usuários. Sistemas de IA dependem de grandes volumes de informação para treinar seus algoritmos, o que inclui dados sensíveis extraídos de redes sociais, históricos de navegação e interações online. Isso levanta questões sobre vigilância, uso indevido de informações e exploração de vulnerabilidades, especialmente em um país onde o letramento digital é desigual. Embora a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) represente um marco importante, especialistas apontam que ela ainda carece de regulamentações específicas para lidar com os novos riscos trazidos pela IA.

Regulação: o dilema de criar marcos legais sem desestimular a inovação

Regulação precisa equilibrar inovação e garantia de direitos fundamentais Foto: Marcos Müller

A regulação da IA no Brasil enfrenta o desafio de equilibrar o incentivo à inovação com a garantia de direitos fundamentais. Por um lado, há a pressão de empresas e desenvolvedores para manter um ambiente flexível, que permita a experimentação tecnológica e o crescimento do setor. Por outro, cresce a demanda por mecanismos de controle que assegurem transparência, responsabilidade e proteção a garantias como a privacidade, os direitos autorais e as condições dos trabalhadores. Essa tensão entre liberdade de mercado e salvaguardas sociais exige marcos legais claros, mas também adaptáveis à rápida evolução tecnológica.

Direitos autorais: falta de proteção a obras originais e competição injusta

Direitos de obra e plágio estão entre questões urgentes Foto: Marcos Müller

A IA está colocando em jogo os direitos de obras e conteúdos protegidos por lei. Empresas como a OpenAI, do ChatGPT, e Google defendem a liberdade de utilização de qualquer tipo de material publicado na internet, como textos jornalísticos, livros, podcasts ou vídeos do YouTube, para treinar seus modelos. Com isso, além da possibilidade de plágio e apropriação de estilos autorais — como aconteceu com a onda de imagens geradas por IA que imitavam o visual das animações do Studio Ghibli —, a prática levanta questões urgentes sobre a competição desleal entre conteúdos gerados por IA e criações humanas originais.

Lentidão: pouca velocidade nas ações de desenvolvimento de IA por parte do Estado

Ritmo das ações do Estado pode deixar País fora da primeira divisão da IA Foto: Marcos Müller

A participação do Estado é essencial para ampliar a importância global do Brasil na corrida da IA. O governo federal parece reconhecer isso, com iniciativas como o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), o ainda não lançado Plano Nacional de Data Centers (Redata), e a organização de um Comitê Interministerial para Transformação Digital (CITDigital). No entanto, mesmo atores da academia e setor privado que veem as iniciativas com bons olhos temem que o ritmo lento em que são implementadas não seja capaz de levar o País à primeira divisão da IA – e nos mantenha sempre correndo atrás do tempo perdido.

Infraestrutura: o Brasil ainda não tem centros avançados de computação para IA

País enfrenta fila de espera por material necessário para produzir IA de ponta Foto: Marcos Müller

O Brasil não tem no âmbito comercial os data centers necessários para fazer treinamento de modelos de IA. Isso significa que empresas brasileiras precisam contratar processamento no exterior para isso. Mesmo que incentivos fiscais e investimentos criem as bases para mudar esse cenário, ainda é preciso lidar com embargos geopolíticos que dificultam o acesso aos microchips e placas de processamento gráficos (GPUs) necessários para produzir IA de ponta. Atualmente, o País precisa encarar uma longa fila de espera para comprar poucas unidades das GPUs mais avançadas da empresa americana Nvidia.

Educação: não formamos pesquisadores e profissionais suficientes

Brasil tem cinco cursos superiores públicos em temas conexos à IA Foto: Marcos Müller

O Brasil tem desenvolvedores, profissionais técnicos e pesquisadores competentes em IA, mas não em volume suficiente para atender à expansão gigantesca do campo nos últimos anos. No setor privado, por exemplo, a maior parte dos empreendedores trabalhando com IA é autodidata e vem de outras áreas. Aos poucos, isso está mudando. Hoje existem cinco cursos superiores públicos em temas conexos à IA no Brasil. Uma estimativa do Google for Startups indica que há um déficit de 530 mil profissionais no País quando considerada a área de TI como um todo.

Retenção de talentos: profissionais bem qualificados deixam o País com facilidade

Melhores salários e infraestrutura de ponta levam brasileiros para o exterior Foto: Marcos Müller

Há um êxodo significativo de cérebros no campo da IA brasileira. Como o mesmo déficit de recursos humanos visto por aqui se reflete em outros mercados, empresas e institutos de pesquisa estrangeiros atraem os principais talentos do Brasil com salários mais altos, melhores condições de trabalho e acesso a infraestrutura de ponta. “Quando se pensa nos valores que a gente consegue pagar comparado ao que é oferecido lá fora, é muito difícil segurar essas pessoas. E formar essas pessoas custa muito dinheiro”, afirma Hugo Valadares, diretor do Departamento de Ciência, Tecnologia e Inovação Digital (DECTI) do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) tem lançado editais para repatriar cérebros brasileiros, mas reverter esse quadro é um desafio complexo.

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