A fuga de quadros e funcionários públicos guineenses para o exterior é uma realidade reconhecida até pelos governantes, que ainda assim não apresentam propostas concretas para travar o fenómeno.
Todas as semanas, vários servidores do Estado, sobretudo ligados aos setores da educação e saúde, decidem sair do país, tendo, na sua maioria, Portugal como o principal destino, à busca da vida melhor.
As autoridades não fornecem o número real dos que já deixaram a Guiné-Bissau nos últimos anos, mas sabe-se que, desde 2020, milhares escolheram viver fora. Muitos apontam como razão a fraca remuneração e as péssimas condições de trabalho, associadas à ausência de políticas de emprego para os recém-formados.
Sabino Victor Lotche trabalhava como professor em Bissau, mas deixou o país em 2023 e trabalha agora em Portugal. “Há muitos funcionários [públicos] que trabalham há várias décadas e não são dignificados pelo empenho e dedicação, continuam a viver em situação miserável”, conta à DW.
“Imagine uma pessoa que vive em situação miserável, será que tem moral para dar a sua energia para que a instituição se desenvolva?”, questiona ainda.
“Falta saúde e educação”
Isabel Santos Gomes (Equitánia), crítica do atual regime da Guiné-Bissau nas redes sociais, abandonou a capital guineense, em 2020, para viver em Lisboa. Em declarações à DW, aponta outras razões da fuga dos funcionários para o exterior.
“Há falta de saúde e educação, medo no seio da população guineense, perseguições nas instituições estatais e na sociedade em geral, a violação das leis da República e dos direitos humanos, raptos e espancamentos”, enumera.
Saem da Guiné-Bissau à procura de melhores condições de vida e quando começam a trabalhar no estrangeiro, a maioria garante o sustento das famílias no país de origem.
O sociólogo Celestino João Insumbo diz compreender a fuga dos cidadãos da Guiné-Bissau para o estrangeiro. “Estando num país onde não há melhoria da vida social, as pessoas, normalmente, vão buscar as melhores condições no exterior”, diz.
Governação responsável
Celestino Insumbo afirma que algo deve ser feito para resolver o problema: “É preciso criar um clima favorável para quadros jovens e que a distribuição das riquezas seja de forma equitativa”.
O académico defende ainda uma governação responsável e o aumento de salários dos funcionários, para dissuadir quem ainda pretenda deixar o país.
Mas para Isabel Santos Gomes, residente na capital portuguesa, tem de haver mudanças, mas com um ponto de partida. “O país precisa de ter todos os órgãos do Estado constituídos legalmente e a funcionar condignamente, sem atropelos. Que haja respeito às leis da República e que a justiça funcione sem interferência nenhuma”, diz.
A DW tentou, sem sucesso, ouvir entidades governamentais sobre o tema.
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